Em 2017, a câmara municipal de Lisboa (CML) implementou uma Plataforma de Gestão Inteligente (PGIL), com base numa solução desenvolvida pela NEC. João Paulo Fernandes, director-geral da empresa japonesa em Portugal, conta como a plataforma tem contribuído para optimizar a gestão da cidade e como, durante o período de confinamento, esta deu origem a uma app que permitiu ao município levar a informação até aos cidadãos. Num processo de evolução contínuo, a PGIL permite já implementar analíticas preditivas que vão reforçar a capacidade de resposta da capital a situações de crise, como novas pandemias ou fenómenos climáticos extremos, explica o responsável.

De que modo a plataforma evoluiu desde que foi implementada em 2017?

Durante estes anos, a plataforma evoluiu no sentido de agregar dados e informação de um número cada vez maior de áreas operacionais, procurando, com isso, apoiar mais departamentos da cidade a efectuar uma gestão mais eficiente dos seus serviços. Para isso, foram sendo desenvolvidos novos fluxos de trabalho e dashboards à medida das necessidades de cada serviço, visando fornecer, de forma fácil e intuitiva, a informação e as métricas de que cada serviço necessita.

Em que áreas esta tem sido mais determinante para melhorar os serviços prestados ao munícipe?

Uma das primeiras prioridades da PGIL foi a de uma melhor e mais rápida gestão das ocorrências críticas da cidade, no sentido de assegurar um melhor e mais coordenado endereçamento dos eventos e incidentes que requerem intervenção por parte da Polícia, dos Bombeiros ou da Protecção Civil. Porém, ao longo do tempo, muitas outras áreas foram beneficiando da utilização da PGIL, como, por exemplo, a da mobilidade, com informação sobre a intensidade de tráfego e os níveis de utilização das estações de bicicletas Giras e parques de estacionamento, ou do ambiente, com a monitorização dos níveis de enchimento dos contentores de resíduos, da poluição ambiental em diversas zonas da cidade e do ruído nos estabelecimentos de diversão nocturna.

Lisboa tem vindo a instalar mais sensores para diversos fins. É fácil fazer a integração na plataforma e respectivas funcionalidades?

Sim. Uma das vantagens da plataforma implementada por Lisboa é respeitar a arquitectura aberta Fiware, que tem justamente a ver com a facilidade de interligar outras fontes de informação, sejam sensores ou outras aplicações que também respeitem a arquitectura Fiware ou que, pelo menos, sejam capazes de trocar informação de acordo com o protocolo NGSI, utilizado pelo Fiware. Nos casos em que as fontes de informação a integrar na PGIL não implementem NGSI, é feito um trabalho conjunto com as equipas da CML no sentido de implementar um conector que permita a essas fontes de dados trocar informação com a PGIL. Dadas as dezenas de integrações já efectuadas, diria que a questão da integração de outras fontes de dados com a PGIL é uma área de conhecimento perfeitamente consolidada e rotinada.

Como é que a PGIL se adaptou às necessidades trazidas pela pandemia nos últimos tempos?

Um dos principais subprojectos da PGIL que estava planeado desde o início, mas que foi acelerado devido à pandemia, foi a criação da app móvel Lisboa.24, disponível tanto em ambiente operativo iOS, como Android, e que visa disponibilizar aos cidadãos, de forma digital, todas as informações sobre aquilo que de mais importante acontece na cidade. Com uma interface muito intuitiva e fácil de utilizar, a app Lisboa.24 disponibiliza informação variada e em tempo real, como, por exemplo, avisos à população sempre que ocorrem situações que possam pôr em causa a segurança dos utilizadores, informações sobre situações de emergência que ocorrem na cidade, avisos acerca de intervenções urbanas, condicionamentos de trânsito, localização e disponibilidade de lugar em parques de estacionamento, localização e disponibilidade da rede de bicicletas Giras. Durante a fase da pandemia de Covid-19, a app Lisboa.24 foi também dotada da capacidade de fornecer aos lisboetas informação sobre as medidas Covid-19 promovidas pelo município, divulgando informação útil sobre múltiplos tipos de estabelecimentos abertos na cidade durante os períodos de confinamento, com os respectivos horários de funcionamento e serviços adicionais.

dashboard PGIL

Dashboard com informação sobre os dispositivos móveis na cidade.

Em resultado da pandemia, vimos mudanças, em particular, nos padrões de mobilidade. De que forma a plataforma ajuda a cidade nessa gestão?

A plataforma integra um conjunto de dados relativos a mobilidade que ajudam a uma melhor compreensão dos fluxos de mobilidade na cidade e a uma melhor gestão das iniciativas nesta área. Como exemplo de como a PGIL ajuda a uma melhor compreensão dos fluxos de mobilidade, posso apontar a recente integração de dados relativos a dispositivos móveis em Lisboa. Sempre assegurando a privacidade pessoal, na medida em que os dados pessoais e a localização de um dispositivo específico não são recebidos, estes dados relativos aos dispositivos móveis presentes em 3743 quadrículas de 200 por 200 metros nas quais toda a cidade foi dividida permitem estudar como residentes e turistas se movem para e dentro da cidade, e, com essa informação, entender melhor como a mobilidade se processa em Lisboa e implementar medidas para a melhorar.

Outras áreas, como o turismo e a recolha de resíduos, sofreram também alterações neste período, esperando-se agora um regresso à normalidade. A ferramenta permitiu uma maior agilidade na adaptação destes serviços?

Sem dúvida. Em termos de turismo, esta integração na PGIL dos dados relativos a dispositivos móveis, que facultam indicadores sobre quantos utilizadores estão em roaming, quais os seus países de proveniência, etc., permite que a plataforma ajude a compreender os fluxos turísticos em Lisboa, quem nos visita, quais os locais mais visitados, quais os períodos do dia em que isso ocorre, com isso permitindo aos gestores da cidade desenvolver iniciativas que melhorem a experiência vivida pelos turistas que visitam Lisboa. Em termos de gestão de resíduos, muitos dos contentores da cidade estão equipados com sensores que medem e transmitem a indicação do seu nível de enchimento. Isto melhorou a eficiência e a gestão da recolha de resíduos em Lisboa, uma vez que os funcionários encarregados deste serviço podem agora fazer a recolha de resíduos apenas quando o contentor se encontra quase cheio.

Dashboard com informação sobre o estado de enchimento dos contentores de resíduos.

Que diferença pode uma plataforma inteligente, como a de Lisboa, fazer para a gestão de uma cidade num momento de crise, como uma pandemia ou eventos climáticos extremos?

A PGIL, para além da gestão de informação operacional da cidade em tempo real, permite utilizar a informação histórica que vai sendo armazenada sobre as várias áreas de funcionamento da cidade para implementar analíticas preditivas que permitam aferir antecipadamente as melhores respostas a eventos de crise ou outros importantes que alterem a dinâmica da cidade, como a realização de grandes eventos. A este nível, está em curso um projecto europeu que, entre outros parceiros, envolve a NEC, a CML e a Universidade Nova, no qual estão a ser investigadas e implementadas analíticas preditivas para uma melhor gestão da cidade em cinco áreas: mobilidade, gestão de resíduos, estacionamento, poluição e gestão de multidões. Em termos de gestão de resíduos, por exemplo, o objectivo é prever o nível de produção de resíduos urbanos associados a contextos tais como a ocorrência de grandes eventos na cidade ou situações climáticas invulgares, ajudando, com isso, a cidade a construir uma melhor capacidade de resposta a essas situações.

ESTE ARTIGO CONTA COM O APOIO DA NEC PORTUGAL