“O Portugal Smart Cities Summit arrancou ontem, em Lisboa, com os municípios a reiterarem o compromisso com a transformação digital e a transição climática, defendendo que este caminho terá de passar, necessariamente, pelo reforço das políticas de cidades inteligentes.

Durante a sessão de abertura do certame, que decorre até amanhã na FIL, o presidente da secção de municípios “Cidades Inteligentes” da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Pedro Folgado, afirmou que “os municípios portugueses têm sido e continuarão a ser pilares fundamentais na transição para territórios inteligentes”, e acrescentou que “este é o momento de ação”. O responsável garantiu ainda que as autarquias estão empenhadas em trabalhar com “todas as entidades do ecossistema, desde o governo central, às empresas e à sociedade civil para construir territórios que sejam verdadeiramente inovadores e inteligentes”.

O também presidente da Câmara Municipal de Alenquer sublinhou a importância da Estratégia Nacional dos Territórios Inteligentes (ENTI), mas avisou que “a tecnologia, por si só, não será suficiente, porque precisamos de uma estrutura de governança robusta com recursos capacitados e uma clara definição de papeis e responsabilidades”.

Já o secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, Hélder Reis, destacou o impacto que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode trazer ao setor, lembrando que “no montante do PRR total, cerca de 7,1 mil milhões de euros são diretamente dedicados à transição climática e à transformação digital e, além disso também o PT 2030 dá especial atenção a estas temáticas”.

Ainda assim, fez questão de referir que “de pouco serve implementarmos políticas de eficiência e combate às alterações climáticas com casas inteligentes, carros elétricos e incentivos à utilização de transportes públicos, quando desbaratamos todo esse esforço numa deficiente política de ordenamento das nossas florestas e de prevenção de incêndios”.

Cidades inteligentes, cidades sustentáveis

Um dos destaques do primeiro dia do Portugal Smart Cities Summit foi a conferência “Autarquias, Empresas e Cidadãos”, onde estiveram presentes vários autarcas nacionais. O primeiro a intervir foi Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, que frisou o compromisso do município com a sustentabilidade e a transição carbónica.

A água foi um dos principais desafios identificados pelo autarca, que explicou de que forma a cidade tem procurado lidar com este “problema crítico”. “Loulé trabalhou com medidas e planos para a redução de consumos e para tornar mais eficiente a gestão da água e, por exemplo, o combate às perdas reais entre 2020 e 2023 passou de 30,4% para 20,7%”, explicou. Vítor Aleixo também não deixou de abordar a futura central de dessalinização de Algarve, a ser instalada no concelho vizinho de Albufeira, defendendo que esta não devia ser uma prioridade, uma vez que “vai produzir muito pouco, atendendo às necessidades globais da região, e muito provavelmente vai encarecer o preço da água no consumidor”.

Seguiu-se a participação do presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, que defendeu a necessidade de “reinventar a administração pública” nos próximos anos para torná-la mais inteligente. “Não é uma questão de capricho, mas uma questão de obrigação e de sobrevivência”, acrescentou o autarca, que fez questão de dar um exemplo concreto para concretizar esta ideia: “nós temos dificuldade em fazer a reconciliação bancária das 10 contas [da autarquia], por isso a solução que encontrámos foi comprar um robot para fazer a leitura da faturação e dos extratos bancários, portanto seis meses de atraso vão ser recuperados em poucos dias ou poucas semanas”.

A transição para as cidades inteligentes foi outro tema abordado por Gonçalo Lopes, para quem “há uma nova geração que no prazo de cinco, dez anos, vai olhar para a necessidade de haver ciclopistas, bicicletas partilhadas, aplicações para comunicar diretamente com a administração púbica ou um chat de inteligência artificial que dê resposta aos serviços do município”. Também neste contexto deu um exemplo local que espelha a importância cada vez maior das soluções tecnológicas para os municípios. “Seguramente devem-se lembrar da necessidade de melhorar a nossa rede rodoviária, mas hoje quando vamos para o interior da região de Leiria, por exemplo, aquilo que se pede em Pedrogão Grande ou em Castanheira de Pêra é o 5G. Já ninguém vive sem internet, portanto, esta é uma mudança de paradigma assustadora”, concluiu o autarca.

Também o vereador da Câmara Municipal de Guimarães, Paulo Lopes Silva, realçou a importância da implementação de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial e a ciência de dados, defendendo que “são cruciais para tomarmos decisões mais informadas e eficazes, baseadas em dados precisos, o que nos permite antecipar desafios e responder de forma mais ágil às necessidades do território.”

O responsável da autarquia pelos Sistemas Inteligentes e de Informação, entre outras áreas, reiterou o compromisso da cidade em alcançar a neutralidade climática até 2030 e abordou a importância do município ser uma das cidades-piloto do programa NetZero Cities. Sobre esta experiência diz ser “um marco transformador”, que permitiu “implementar políticas inovadoras e testar soluções que, de outra forma, talvez demorassem anos a serem colocadas em prática”. Questionado sobre a candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia, disse acreditar que à terceira será de vez, depois de ter estado entre as finalistas por duas ocasiões. “Esta é uma ambição que Guimarães tem vindo a nutrir há vários anos, e estamos cada vez mais perto de a concretizar”, afirmou.

A conferência “Autarquias, Empresas e Cidadãos” contou ainda com a presença de Joana Almeida, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. A titular do pelouro dos Sistemas de Informação e Cidade Inteligente fez um ponto da situação da Estratégia Lisboa Inteligente 2030, tal como já tinha revelado à Smart Cities numa entrevista publicada esta segunda-feira.

Joana Almeida destacou ainda a importância da inteligência urbana para a cidade e deu como exemplos os sensores de tráfego e de prevenção de cheias instalados em vários túneis rodoviários, as novas tecnologias para a gestão de frota na Carris ou o sistema de alerta de tsunamis. Para a vereadora, um dos maiores desafios da câmara é articulação e integração dos sistemas de informação, lembrando que a autarquia presta “um bom serviço público, ao pôr em dados abertos muita da informação disponível” nomeadamente através do Portal Lisboa Aberta.