Desde este verão que a aldeia de Bajouca, no limite norte do concelho de Leiria, recorre à inteligência artificial para detetar e vigiar incêndios. Preocupada com os fogos florestais que costumam atingir a região centro do país, a junta de freguesia decidiu instalar um sistema de vigilância vídeo que ajuda a proteger terrenos e populações.
A solução é composta por quatro câmaras instaladas no ponto mais alto da aldeia, a torre da igreja, e aproveita modelos de Machine Learning para detetar pontos de fumo até uma distância de 30 quilómetros. “Tanto podem ser focos de incêndio ou fumaças de chaminés, mas em qualquer dos casos o sistema emite alertas automáticos para uma equipa local da Proteção Civil, que poderá ter acesso a eles num centro de monitorização ou mesmo através do telemóvel ou de um email”, explica à Smart Cities Jaime Santos, general manager e data analytics specialist da AiTecServ. “Desta forma permite substituir a vigilância ativa das pessoas por câmaras que trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, com a vantagem de se poder atuar de imediato em caso de urgência”, acrescenta o responsável da empresa portuguesa que desenvolveu a tecnologia.
Este sistema esteve em destaque no segundo dia do Portugal Smart Cities Summit e suscitou curiosidade pelo facto de ter partido da iniciativa de uma pequena freguesia rural, com cerca de 2 mil habitantes e 13 Km2 de área, 60% ocupada por floresta.

Sistema de vigilância vídeo de Bajouca foi apresentado durante o Portugal Smart Cities Summit.
Nos cerca de quatro meses que está em funcionamento em Bajouca, o equipamento já detetou vários casos de fumo, alguns de fogos reais e um deles nos arredores da aldeia, a cerca de 19 quilómetros de distância. “Mesmo sendo numa freguesia vizinha, assim que recebemos o alerta dirigimo-nos ao local e fomos os primeiros a chegar, além de avisarmos os bombeiros e afastarmos os populares que estavam curiosos com o fogo. Também tínhamos uma equipa com uma autobomba de água pronta a ser utilizada, mas não foi necessária”, lembra Cristina Bailão, coordenada da equipa local de Proteção Civil da Bajouca.
Para o presidente da junta de freguesia, Nélson Ferreira, esta iniciativa surgiu de uma preocupação antiga, “até porque em 2005 houve uma freguesia vizinha [Carnide] que ardeu por completo e mesmo em 2017 conseguia-se avistar os fogos de Pedrogão Grande”. Ao mesmo tempo ajuda a complementar o trabalho das equipas de voluntários que fazem a vigilância de incêndios, sempre muito presentes, mas cuja disponibilidade não deixa de ser limitada.
O autarca faz, por isso, um balanço “muito positivo” da implementação do sistema que, acrescenta, faz questão de cumprir todas as normas de segurança e privacidade de dados. Esta avaliação resulta ainda de “um feedback bastante bom da grande generalidade dos habitantes da aldeia”, bem como “do aval das entidades regionais e nacionais, como a Proteção Civil ou a GNR”.