Até ao próximo dia 7 de Fevereiro deverá ficar disponível o formulário electrónico que permite a apresentação das propostas finais para o desenvolvimento de 50 Bairros Comerciais Digitais, cujo prazo termina, por sua vez, a 9 de Março. Das 187 manifestações de interesse submetidas na primeira fase, 167 foram consideradas elegíveis.
Com a transição digital na mira, o Governo convidou, em Janeiro do ano passado, autarquias locais, associações empresariais e de desenvolvimento local e empresas municipais a manifestarem o seu interesse na criação de Bairros Comerciais Digitais (BCD). A intenção passa pelo desenvolvimento de 50 projectos deste tipo em todo o país, até ao final de 2025, havendo, para o efeito, 52,5 milhões de euros vindos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Os interessados tiveram até 30 de Abril do mesmo ano – incluindo a prorrogação do prazo inicial em um mês – para assinalar a sua vontade. A resposta excedeu as expectativas: 187 candidaturas, representando um investimento de mais de 223 milhões de euros – quase cinco vezes mais do que a dotação orçamental prevista.
Do total de manifestações de interesse submetidas, 167 foram consideradas elegíveis, seguindo-se agora uma segunda fase, que convida os promotores apurados a submeter propostas finais. O aviso que regulamenta esta fase foi publicado a 20 de Janeiro, com o prazo para a submissão de candidaturas a terminar às 19 horas do dia 9 de Março.
O que é um BCD e porque levantou tanto interesse?
A iniciativa é descrita como “particularmente relevante para os sectores do comércio e dos serviços abertos ao consumidor” e “uma medida catalisadora do crescimento económico, visando a digitalização dos operadores económicos e dos seus modelos de negócio, a promoção do comércio em linha e da integração digital das cadeias de abastecimento e escoamento”.
Uma análise rápida pode dar a ideia de que os Bairros Comerciais Digitais se referem apenas à digitalização do comércio e a explicação dada nas Perguntas Frequentes do aviso inicial esclarece pouco mais – “estes BCD são definidos como espaços urbanos contíguos, delimitados geograficamente, com elevada densidade de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, incluindo HORECA, com uma estratégia comum de gestão suportada num ambiente tecnológico avançado.”
Nesse aviso, que prevê “dotações específicas para aplicações e investimentos em tecnologia digital, bem como na valorização da evidência física associada à digitalização dos espaços e serviços”, os BCD ganham forma.
As despesas elegíveis ilustram as possibilidades: além dos custos de elaboração e preparação do projecto, estão contempladas despesas com elementos de conectividade e harmonização urbanística (incluindo mobiliário urbano, sinalética e reabilitação urbanística desde que coerente com a estratégia digital do bairro); oferta em plataformas electrónicas, de digitalização da experiência de consumo (incluindo sistemas de gestão de tráfego on/off-line e de controlo de tráfego ou afluência); integração em soluções de logísticas colectivas (como plataformas de entregas ou criação de cadeias logísticas integradas); e digitalização de infraestruturas adjacentes (por exemplo, estruturas de estacionamento e sistemas digitais de monitorização de tráfego ou de transportes públicos).
No Verão passado, poucos meses depois do prazo para as manifestações de interesse terminar, a Direcção-Geral das Actividades Económicas (DGAE), entidade gestora, e o ministério da Economia e do Mar (MEM) disseram à Smart Cities que esperavam propostas “em que a vertente de desenvolvimento territorial deve ter subjacente uma componente digital e tecnológica que permita às pessoas que trabalham, vivem e visitam o bairro beneficiarem de uma experiência de consumo ajustada às suas necessidades e características”.
Na análise que então decorria, segundo a mesma fonte, as candidaturas revelavam que “as entidades responsáveis pela gestão do espaço urbano, muitas vezes organizadas em consórcio, reconhecem que a digitalização pode contribuir para uma forma mais harmoniosa de vivenciar o espaço público onde se desenvolve a actividade comercial”.
Junto dos interessados, ao que a Smart Cities pôde apurar, há, a vontade de ir além da digitalização do comércio. Ao incluir temas como a mobilidade, a gestão de resíduos, o espaço público, a cidadania participativa, a criatividade, a arte ou a preservação da memória, o BCD é entendido como uma oportunidade de experimentar soluções, usando a tecnologia como ferramenta, com vista a melhorar os territórios e a vivência que estes proporcionam aos cidadãos. Mais do que uma acção virada para o comércio, para os agentes locais, é uma iniciativa de inteligência territorial.
52,5 milhões de euros
É a dotação financeira alocada à criação de 50 Bairros Comerciais Digitais em Portugal, com origem no Plano de Recuperação e Resiliência.
“Onde tudo começou”
Os BCD vão nascer a partir de áreas urbanas onde o comércio, a restauração e outros serviços já têm a sua marca, e, para parte delas, a digitalização não é novidade.
Em Guimarães, a decisão de ter uma plataforma de marketplace que permitisse aos comerciantes locais colocar os seus produtos e serviços on-line surgiu em 2019, e, no final do ano seguinte, a Guimarães ProximCity começou a funcionar, respondendo também às necessidades levantadas pela pandemia de Covid-19.
“Já tínhamos a ideia de um BCD antes desta iniciativa”, graceja Ricardo Machado, chefe da divisão de Sistemas Inteligentes e de Informação da câmara municipal (CM) de Guimarães. “A nossa manifestação de interesse vem colmatar algumas necessidades e complementar acções que o presidente [Domingos Bragança] já tinha previsto em 2019.”
Entre as propostas inicialmente submetidas, a vimaranense é a segunda com o investimento mais elevado – cerca de 2,2 milhões de euros –, incide numa área de 8,2 hectares (ha), onde se incluem o Jardim da Alameda, a Rua de Sto. António e o Largo do Toural, e abrange 259 lojas. Entre o centro histórico e o Bairro C, projecto que promove a criatividade e a inovação urbanas, a escolha da localização teve em conta aquilo que já existe, como parques de estacionamento públicos ou o Instituto de Design, e o que está para vir, nomeadamente uma possível Loja do Cidadão.
Também o nome do projecto foi buscar inspiração ao passado e ao futuro – Bairro 1128. “Foi quando tudo começou, o ano em que efectivamente nasceu Portugal, e esta é uma área onde sempre se fez comércio (…) Arranjámos uma nomenclatura que agregasse toda esta tradição, dando-lhe uma vertente mais moderna, que é o dígito”, explica.
Com o “bairrismo” e o património vimaranenses presentes na identidade do Bairro 1128, estão previstas a expansão dos sistemas de conectividade, a introdução de centros de informação digital, de mobiliário urbano inteligente, como mapas tácteis digitais ou bancos inteligentes, e de sinalética digital (com informação em metros e minutos), e a criação de virtual pop-up stores e de galerias em espaço público.
Pretende-se também uma adaptação digital do sistema de deposição e reciclagem de resíduos, a criação de experiências de realidade aumentada e de gamificação, a integração de soluções de logística colectivas que permitam recorrer a modos suaves e a cargobikes, a instalação de cacifos para depósito de encomendas em locais de franca acessibilidade, e ainda a disponibilização de informação em tempo real, que vai desde promoções nas lojas e eventos, a lugares de estacionamento disponíveis, monitorização de tráfego e de transportes públicos.
A ProximCity não fica obsoleta, já que, além de incluir todas as novas informações, estão pensadas mais funcionalidades para o serviço.
As soluções previstas no Bairro 1128 são tecnológicas e voltadas para o comércio, mas a apresentação do município revela que não é apenas isso que se almeja. “Pretendemos digitalizar o comércio, restauração, bebidas e similares e serviços nesta área, mas pretendemos muito mais oferecer ao cidadão serviços e oportunidades para que ele possa majorar as suas compras no comércio local – isto com sistemas inteligentes, mas também com sistemas de cidadania participativa”, elabora Ricardo Machado.
No projecto, as soluções digitais têm continuidade noutras que focam, por exemplo, a pedonalização das ruas, a descarbonização da mobilidade, a criação de zonas de escape com elementos verdes e equipamentos para experiências imersivas com base em sons e realidade aumentada, o incentivo à criatividade urbana com “cantos de artista” para a animação do espaço público, ou a criação de um mapa emocional para preservar testemunhos e memórias, não só das lojas do bairro, mas do território em si.
Elegíveis ou não neste aviso, as propostas “assentam naquilo que é a estratégia municipal” e afectam o comércio – “Quando as pessoas vão fazer compras, se forem mais contentes e relaxadas, vão com outra predisposição [e mais] disponibilidade para gastar, e isto alia-se também àquilo que é a qualidade de vida do cidadão”, acrescenta. “Tentámos humanizar a digitalização do processo; se não fizéssemos dessa maneira, não conseguiríamos introduzir a digitalização naquilo que é o comércio local.”
167 Projectos considerados elegíveis
Do total de manifestações de interesse submetidas em 2022, 167 foram consideradas elegíveis, seguindo-se agora uma segunda etapa, que convida os promotores apurados a submeter propostas finais. O prazo para a submissão de candidaturas termina às 19 horas de 9 de Março.
A cada bairro a sua realidade
A forte resposta ao primeiro aviso mostra, segundo a DGAE, “a vontade que as entidades beneficiárias têm em garantir uma transição digital ajustada” às características destes sectores.
“Poderá considerar-se que esta adesão constitui uma reacção, não apenas à crise desencadeada pela pandemia, acompanhada de uma retracção económica e da necessidade de encontrar modelos alternativos de negócio, mas também o reconhecimento, por parte das diferentes partes interessadas, de um novo perfil de consumidores e de consumo. Esta é uma explicação que, frequentemente, surge nos diagnósticos incluídos nas candidaturas, em que os comerciantes reconhecem a necessidade de transitar para o domínio digital como forma de promover os seus negócios, reconhecendo também a importância de se capacitarem para a transição digital, de forma a acompanharem as novas tendências de experiência de consumo”, esclarece fonte oficial do MEM.
Para Vera Guedes, os candidatos “viram uma oportunidade de ajudar o comércio local, dando-lhes ferramentas e conteúdos, de alavancar os seus territórios em termos nacionais e internacionais” e também “de fazer alguma adaptação em espaço urbano, requalificação junto deste comércio e diferenciação em termos de imagem e conceito”. Responsável pela Guedes Corrente, a consultora participou em mais de uma dezena de manifestações de interesse, incluindo as de municípios insulares, como Santa Cruz das Flores ou Vila do Porto, e do continente, como Gondomar ou Barreiro.
Nas propostas, os investimentos foram idealizados de modo a “ajustarem-se à realidade dos municípios”, tendo em conta o trabalho existente. “Alguns viram aqui a oportunidade de divulgar os seus produtos para o exterior e de criar a vontade de ir lá visitar – foi o caso de Santa Cruz das Flores; outros, como Paredes de Coura, que é um município pequeno, mas que tem já uma força grande em termos comerciais, quiseram crescer e melhorar; outros, foi de raiz”, relata.
Foi em projectos “do zero” que a consultora sentiu mais dificuldades, em particular no trabalho com as associações. Embora fosse evidente que este era um “projecto muito importante”, a falta de competências e de recursos, o medo da mudança e experiências anteriores menos positivas contribuíram para uma maior resistência, à qual se juntou um aviso “extremamente exigente em termos técnicos” e que obrigou à recolha de informação junto de muitos agentes e de dados que não estavam disponíveis.
No processo, Vera Guedes dá ainda conta de alguma frustração perante a impossibilidade de apresentar candidaturas conjuntas (ao nível das comunidades intermunicipais) e face à imposição de uma limitação geográfica em territórios onde “isso não faz sentido”. “É difícil balizar, em termos de comércio digital, uma rua com 100 comerciantes, quando existem 200 no território.”
Usufruir da cidade
Comércio da Vila é o nome escolhido pelo município de Famalicão para o seu bairro comercial digital. Incluído numa Área de Reabilitação Urbana (ARU), o bairro fica numa zona central da cidade, com cerca de 20 ha, e vai incluir 455 estabelecimentos.
A pandemia tinha já impulsionado a criação de um marketplace, sendo que, na base do projecto, está a ideia de que “a cidade é inteligente se for usufruível”, revela Vítor Moreira, director municipal. O município quis, por isso, juntar “o comércio, a cidade inteligente e acessível em 15 minutos, a vivência [urbana], o conforto e a facilidade do consumo no local” naquilo que pretende que seja o seu BCD.
A proposta, cujo investimento é de 1,04 milhões de euros, prevê, entre outras, sensorização nas zonas de cargas e descargas, etiquetas digitais, elementos ligados aos sistemas de gestão de tráfego e de resíduos, disponibilização de informação em tempo real, em particular no que se refere à mobilidade, de modo a que as pessoas possam usar os parques de estacionamento periféricos gratuitos e sigam, depois, nos transportes públicos.
“Queremos que as pessoas possam interagir [com o bairro] a partir de casa, mas [acima de tudo] queremos trazê-las para o local e incrementar o seu tempo de permanência no bairro; vamos usar a digitalização para lhes dar conforto [na experiência]”, avança.
“Não encharcar isto com tecnologia, porque o objectivo são as pessoas” – esta foi uma das preocupações da Gaiurb na elaboração da proposta para o BCD Gaia, do qual fazem parte 242 estabelecimentos, em 20 ha, e um investimento de 1,4 milhões de euros. Para António Castro, presidente da administração da empresa municipal de urbanismo e habitação de Vila Nova de Gaia, embora a iniciativa vise o comércio, trata-se, acima de tudo, de “capacitação do espaço público, [isto é] de formas de intervenção no território, com foco nos comerciantes e em quem vai utilizar”.
Tendo em mente que “as pessoas querem sentir-se bem no espaço urbano”, o projecto de Gaia aproveitou também a experiência ganha com o marketplace criado durante a pandemia e focou-se em propostas que trouxessem as pessoas para o espaço público, proporcionando-lhes conforto. “Queremos que [por exemplo] a mobilidade não seja uma entropia.”
Erro estratégico?
A convicção dos candidatos contrasta com o cepticismo de João Manuel Barreta. O autor do livro A Tertúlia da Rua do Comércio teme que, “com o actual PRR, se possa ter desperdiçado uma boa, e talvez derradeira, oportunidade de conciliar o Urbanismo Comercial e o Digital”, correndo-se o risco de esta medida “apostar no apelido [digital] e rejeitar, de algum modo, os nomes próprios [bairros comerciais]”.
Para o especialista, foi um “erro político e de política” não se ter aproveitado o PRR para apoiar o comércio recorrendo a uma ‘marca’ que já existia para comércio local – a do Urbanismo Comercial. “Nem que para isso lhe tivessem de ter chamado ‘Urbanismo Comercial Digital”, ironiza.
Constatando a insuficiência dos recursos financeiros alocados, o autor reconhece que é cedo para avaliar a medida, mas lamenta que se trate de “algo avulso, de uma iniciativa, desconhecendo-se a medida de política em que se enquadra – além da ‘digitalização do tecido económico’ como chavão – e que, acima de tudo, se continue a ignorar a Política de Comércio”, denunciando “uma crónica inexistência de um plano estratégico para o sector como um todo”.
Para o processo de transição digital do sector, há que aprender como “colocar a digitalização [enquanto ferramenta] ao serviço do comércio local”, o que implica “uma maior e crescente capacitação ‘tecnológica e digital’ dos comércios locais por forma a que estes possam extrair o máximo de benefícios possíveis de tal processo. A sensibilização será importante, mas a formação é determinante e crucial”, sublinha.
Com base no “realismo e conhecimento das dinâmicas do sector”, o também mestre em Planeamento e Gestão do Território apela à prudência na interpretação dos números que dão conta das candidaturas submetidas e dos respectivos investimentos. “De muitas (e boas) intenções ou manifestações de interesse estará já o comércio cheio, não se podendo descurar que, mesmo quando as intenções se concretizam, a palavra final cabe à procura.”
De novo, um piloto
Enquanto decorria a análise das candidaturas, a DGAE avançou à Smart Cities que “o grau de maturidade das entidades é variável: os diagnósticos incluídos nas candidaturas são reveladores das diferenças existentes num sector em que há uma cada vez maior consciência da importância de agir na esfera do digital, com modelos de negócio ajustados a essa dimensão, mas onde o percurso a fazer é ainda longo. Existem outras propostas em que a transição digital já ocorreu e em que esta iniciativa é apenas uma forma de integrar e potenciar uma realidade já muito presente”.
A resposta dos municípios ao desafio foi “surpreendente”, porém, o grau de maturidade “heterogéneo” no país faz com a iniciativa seja, a nível nacional, “uma experiência na área pública”, lamenta António Castro. Face às mudanças demográficas que Gaia tem registado na última década, o gestor municipal reconhece os benefícios de avançar mesmo sem aprovação do PRR, mas é algo que terá de ser equacionado, atendendo às prioridades do município, havendo, “certamente, coisas que irão ser feitas”.
O Comércio da Vila é uma peça da visão estratégica de Famalicão para ser uma cidade inteligente, o que dá confiança a Vítor Moreira na viabilidade da iniciativa. “O ponto forte dos BCD é o facto de funcionarem como um acelerador; mas, se não houver pensamento estratégico [a suportá-lo], esse pode ser um ponto fraco”, alerta. A oportunidade seria “a cereja no topo do bolo” e permitiria ao município “experimentar, em processo acelerado, e reflectir sobre o que se pode ou não escalar”. Se a proposta não for aceite, “vai para frente, mas sem acelerador”, garante o director municipal.
Para muitos municípios, o BCD é um piloto, que pode crescer e escalar ou que pode ter de ser ajustado, conta Vera Guedes, lembrando que, entre os requisitos da candidatura, estão a sustentabilidade financeira e a continuação do projecto pós-PRR.
“Há que pensar em mecanismos para o tornar autossustentável e gerador de receita para os agentes locais e para quem o promove. É um investimento muito grande da autarquia nesta fase, mas quem vai usufruir e alavancar o seu negócio tem de ajudar e apoiar na sustentabilidade e continuação do projecto”, alerta. “[Se olharem para os bairros comerciais digitais como uma iniciativa do PRR] É um projecto morto à partida.”
BCD: elementos de aproximação ou de distância entre as pessoas e o comércio local?
João Manuel Barreta: “Ao passo que a ideia de Bairro Comercial nos remete para a proximidade, para relações pessoais, para vizinhança, para a tradição, o Digital transporta-nos para o distanciamento, para a tecnologia, para a modernidade. Não vejo como é que os BCD possam promover a aproximação entre as pessoas e o comércio local. Poderão, isso sim, ajudar a promover os negócios, pelo incremento das vendas on-line, por exemplo, mas tenderá a afastar fisicamente as pessoas do comércio local no sentido da interacção, do relacionamento, da personalização, que serão, no fundo, a essência da tal arte da coincidência.
No que ao comércio diz respeito, já de há muito sou apologista da ideia de que estar próximo é diferente de estar perto, daí que as diferenças entre comércio local e comércio de proximidade nem sempre sejam devidamente percepcionadas. A proximidade que está na génese do comércio não é optimizada, nem prejudicada, pelo digital. Se a oferta não conseguir satisfazer a procura …
O digital, aplicado ao comércio local, terá de ser ‘trabalhado’ de modo a poder consubstanciar-se naquilo que o comércio local já cumpre e, por tal, é reconhecido, ou seja, ‘perto como sempre, próximo como nunca’! Ninguém terá dúvidas de que o digital pode trazer muitas melhorias; a questão está na aceitação e adopção desse digital por parte do comerciante local menos capacitado para operar com alguma complexidade do processo de transição digital que subsiste no meio.”