“Aprender com o que esta crise nos ensinou e construir aquilo que gostávamos de ter tido para lhe responder” são, para o ministro do Planeamento, os passos a dar na preparação do “dia seguinte” à actual pandemia de covid-19. Nelson de Souza foi um dos participantes do webinar “A inteligência urbana como arma no combate à pandemia”, que teve lugar ontem, numa organização da NOVA Cidade, e no qual a aceleração da transição digital foi apontada como uma tendência.

O governante chamou a atenção para os “impactos assimétricos” e “diferenciados” da actual crise, lembrando que, embora as políticas públicas possam ser de emergência, “não têm efeitos tão imediatos” e, por isso, aquelas que forem tomadas deverão estar mais focadas “no campo da recuperação”. Nelson de Souza falava durante a sessão virtual, na qual participaram também o presidente da câmara municipal de Viseu e coordenador da Secção Cidades Inteligentes da ANMP – Associação Nacional de Municípios Portugueses, António Almeida Henriques, o presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, e o presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva.

A preparação do “dia seguinte” é, assim, fundamental e, segundo o responsável pela pasta do Planeamento, deve ser feita em dois momentos: o primeiro, para “tratar dos feridos e do tecido económico”; e o segundo, no qual “se aprende com a crise e se avança para construir aquilo que gostávamos de ter tido para lhe dar resposta”, incluindo “modelos de negócio diferentes, modelos de acesso à tecnologia eficientes” e novas formas de “qualificação das pessoas, empresas e administração pública”.

A aceleração do processo de transição digital como um dos efeitos da pandemia que o mundo enfrenta foi uma das tendências apontadas pelos participantes do webinar e, no caso português, esta era uma “dinâmica que estava já em curso”, disse António Saraiva. Ainda assim, o presidente da CIP considera que se está perante uma “crise disruptiva” que veio “acelerar a mudança para novas práticas”.

No cenário pós-covid-19, a transição digital vai também ser determinante para a recuperação do tecido económico nacional, uma preocupação que não passou despercebida aos oradores.  “É completamente impossível que a transição digital não esteja nas prioridades das organizações que queiram durar”, afirmou Alexandre Fonseca, para quem a “conectividade foi um desafio ganho nesta primeira etapa” de resposta ao impacto da covid-19. O presidente da Altice Portugal garantiu que 90% dos agregados familiares portugueses têm já acesso à fibra óptica, mas, para que este acesso seja transversal à totalidade do território nacional, são precisas “políticas públicas que complementem o investimento privado” feito nos últimos dois anos pela operadora e que nem sempre “tem retorno económico imediato”.

A esse apelo, o gestor juntou ainda a necessidade de promover a literacia digital das populações, assegurar que “as empresas continuam a existir” e a ter liquidez e, por fim, de combater a descontinuidade da informação. “A tecnologia tem de ter um papel na prevenção desta e de futuras pandemias. [Precisamos de] Uma tecnologia que permita estabelecer padrões (…) e de harmonização e integração coerente da informação. Só assim se ligam as coisas e as pessoas”, concluiu.

Num debate em que a coesão territorial e a conectividade digital serviram de ponto de partida, a experiência de Viseu permitiu já ao presidente da câmara municipal da cidade tirar algumas conclusões: “A desmaterialização iniciada foi uma grande ajuda e pudemos colocar os trabalhadores em teletrabalho. Para além disso, também vimos que foi uma aposta certa trazer as tecnologias de informação associadas às smart cities [para o concelho], pois são empresas que aqui estão, em teletrabalho, logo, foram postos de trabalho que não se perderam”, constatou António Almeida Henriques. Todavia, para o autarca, “seria mais fácil se tivéssemos um país mais coeso na cobertura digital”.

A sessão “A inteligência urbana como arma no combate à pandemia” foi o primeiro do ciclo semanal SMART Portugal Webinars e contou com a moderação do subdirector da NOVA IMS e coordenador da NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, Miguel de Castro Neto. Originalmente, o programa contemplava a participação da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, cuja ausência foi colmatada pela presença do responsável pela pasta do Planeamento, Nelson de Souza, e do presidente da CIP, António Saraiva.

A revista Smart Cities é media partner oficial do ciclo SMART Portugal Webinars.