O Boom é um festival de música, artes e cultura, que, de dois em dois anos, celebra a lua cheia de Agosto e aposta fortemente na sustentabilidade ambiental. Realiza-se em Idanha-a-Nova e dá origem a oportunidades que mobilizam toda a população do concelho e dinamizam a economia local. Artur Mendes, da organização do festival, explica que, para um evento como o Boom, “que advoga uma reflexão crítica sobre a situação social vigente”, a escolha do concelho interior tem “significado simbólico”.
O que motivou a escolha do município de Idanha-a-Nova para a realização do festival?
A escolha recaiu devido à proximidade da barragem e à envolvência natural singular. Mas existem outras excelentes vantagens. É uma região com excelentes acessos num contexto europeu, visto o Boom ser um festival essencialmente internacional, no qual apenas 15% dos visitantes são portugueses. É também no Interior [do país], e para um festival como o nosso, que advoga uma reflexão crítica sobre a situação social vigente, a ida para as periferias reveste-se de significado simbólico. É também uma zona com uma história e património seculares, com inúmeras influências de várias culturas que passaram pela Península Ibérica, enriquecendo a experiência de todo o público que nos visita.
Qual é o nível de colaboração entre a autarquia de Idanha-a-Nova e a organização do festival?
É uma colaboração muito positiva, contudo não somos patrocinados financeiramente pela autarquia. Ao contrário da larga maioria dos eventos, somos um festival independente, por iniciativa própria e convicção. A câmara municipal apoia logisticamente o festival e todo o seu staff merece o nosso profundo agradecimento e reconhecimento desde que aqui chegámos em 2002. Tentamos trazer um input social, económico e cultural positivo a toda a região e penso que criámos uma simbiose assinalável, quer para Idanha, quer para toda a região da Beira Baixa.
De que forma a população local participa na organização do festival?
É uma participação activa desde 2002, que, em cada edição, ainda fica mais profunda. Este ano, por exemplo, iremos empregar 250 pessoas locais para o evento, numa acção colectiva com a câmara municipal e inúmeras juntas de freguesia. Existem empresas que, em cada edição do Boom, conseguem aumentar a facturação em 40% e todas as unidades hoteleiras e restauração sofrem um acréscimo em cada edição.
Quais as principais diferenças entre o Boom de 1997 e o Boom de 2016? A essência do festival mudou?
O festival mantém a mesma essência, mas actualizou o seu conceito. Se, em 1997, existia um grande foco na música, actualmente não apenas esse foco continua central, mas há um abarcar de dimensões de arte pública, workshops, ciclos de cinema e um programa ambiental reconhecido internacionalmente. Mantém-se a importância de auto-consciência, do foco numa alternativa, na educação e no sentido de independência.
Como se reflecte a ideologia associada ao festival, que hoje o leva a ser uma referência mundial em matéria de ecologia e sustentabilidade, no dia-a-dia das pessoas que fazem parte da sua organização?
Reflecte-se em inúmeros projectos nas áreas de bioconstrução, saneamento compostável, jardins, educação, energia solar, reutilização de materiais entre muitos outros projectos. Um festival deve servir para que as pessoas levem ferramentas para a mudança e não apenas como um momento hedonista.
Os visitantes do festival revêem-se na política de sustentabilidade e ecologia que o Boom advoga?
Em cada edição, vemos uma grande mobilização das pessoas face aos nossos projectos ambientais. As pessoas não só participam, como respeitam, colaboram na limpeza e ainda pedem informações e tentam levar algumas das técnicas para os seus países. Estamos certos de que temos contribuído para uma sensibilização através do festival.
Este ano, o festival aposta na mobilidade suave, tendo criado espaços próprios e condições para quem chega de bicicleta. Que importância pode desempenhar a bicicleta na procura de uma mobilidade mais sustentável?
Tudo começou em 2008 quando dois Boomers vieram de bicicleta a partir da Bélgica. Desde então, lançámos a Boom by Bike Initiative, para apoiar público que tem vindo de toda a Europa de bicicleta para o Boom. Em Portugal, este meio de transporte só agora se começa a popularizar, mas, na larga maioria da Europa, utilizar a bicicleta é algo normal, estamos simplesmente a trazer este meio de transporte para o contexto de festival. A bicicleta, com todos os desenvolvimentos actuais em termos tecnológicos, é fundamental para uma locomoção mais saudável, menos poluente e mais aberta à vivência da cidade.
FOTO: BOOM 2014 by JAKOB KOLAR