A experiência do projecto “Smart Cities Portugal”, envolvendo “redes integradas de cooperação territorial” (municípios, universidades, centros I&D, empresas, sociedade civil), constituiu um sinal importante do que devem ser as bases de uma Nova Agenda para as Cidades em Portugal. Em quarenta anos de aplicação de fundos europeus, torna-se claro que, apesar de todas as políticas públicas e estratégias tendo em vista a modernização do território português, o país teima em não conseguir assumir uma dinâmica de salto em frente para o futuro tendo por base os factores dinâmicos da inovação e competitividade. Precisamos por isso de uma Nova Agenda, Inteligente e Competitiva, para as Cidades em Portugal.
Numa Europa das Cidades e Regiões, onde a aposta na inovação e conhecimento se configura como a grande plataforma de aumento da competitividade à escala global, os números sobre a coesão territorial e social traduzem uma evolução completamente distinta do paradigma desejado. A excessiva concentração de activos empresariais e de talentos nas grandes metrópoles, como é o caso da Grande Lisboa, uma aterradora desertificação das zonas mais interiores, na maioria dos casos divergentes nos indicadores acumulados de capital social básico, suscitam muitas questões quanto à verdadeira dimensão estruturante de muitas das apostas feitas em matéria de investimentos destinados a corrigir esta “dualidade” de desenvolvimento do país ao longo dos últimos anos.
Apesar da relativa reduzida dimensão do país, não restam dúvidas de que a aposta numa política integrada e sistemática de cidades médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais criadoras de riqueza e talentos humanos indutores de criatividade, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da metropolização da capital que parece não ter fim. O papel das universidades e institutos politécnicos que nos últimos 20 anos foram responsáveis pela animação de uma importante parte das cidades do interior, com o aumento da população permanente e a aposta em novos factores de afirmação local, está esgotado.
“Aposta numa política integrada e sistemática de cidades médias, tendo por base o paradigma da inovação e do conhecimento, com conciliação operativa entre a fixação de estruturas empresariais e talentos humanos, é o único caminho possível para controlar este fenómeno da metropolização.“
O investimento directo estrangeiro desempenha neste contexto um papel de alavancagem da mudança único. Portugal precisa de forma clara de conseguir entrar com sucesso no roteiro do IDE de Inovação associado à captação de empresas e centros de I&D identificados com os sectores mais dinâmicos da economia – Tecnologias de Informação e Comunicação, Biotecnologia, Automóvel e Aeronáutica, entre outros. Trata-se duma abordagem distinta, protagonizada por redes ativas de actuação nos mercados globais envolvendo os principais protagonistas sectoriais (empresas líderes, universidades, centros I&D), com um papel de mobilização das cidades para uma nova agenda estratégica.
Desta forma, o compromisso entre aposta, através da Ciência, Inovação e Tecnologia, em Competitividade Estruturante na Criação de Valor Empresarial, e atenção especial à Coesão Social, do ponto de vista de equidade e justiça, é o grande desafio a não perder. A Sociedade do Conhecimento tem nesta matéria um papel muito especial a desempenhar e numa época onde se assiste à crescente Metropolização do país em torno do Porto e Lisboa, a aposta em projectos de coesão territorial como as Cidades Inteligentes pode fazer a diferença, com o destaque colocado na aposta na qualidade de vida e crescimento económico.
Fotografia de destaque: © Shutterstock
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.
Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 42 da Smart Cities – janeiro/fevereiro/março 2024, aqui com as devidas adaptações.