De 28 de Maio a 27 de Novembro, Veneza é palco de mais uma Bienal. Mário Caeiro, investigador e docente na ESAD.cr, esteve na 15ª Exposição Internacional de Arquitectura e, nos próximos meses, levar-nos-á numa visita guiada exclusiva por esta mostra.

O pavilhão da Dinamarca propõe-se a criar qualidade para a maioria. Esta deriva inclusivamente humanista define como importante ultrapassarmos uma situação em que se cria o excepcional e prestigiante para alguns, para colocar a maioria a viver em edifícios produzidos em massa. Actualizando pragmática e urgentemente uma ideia de Estado Social (This is the Danish front, afirma o arquitecto Boris Brorman Jensen), esta participação toca num problema das cidades europeias: as classes médias serem expulsas dos centros urbanos em função do aumento dos preços.

Esta questão de a arquitectura fazer a diferença, o Pavilhão Italiano apresenta-a através de um conjunto de acções empreendidas pelo próprio Estado. ‘Taking Care’ organiza-se em três secções: ActingThinking e Meeting. A problemática é abordada em dez áreas de investigação (legalidade, saúde, habitação, ambiente, educação, cultura, jogo, ciência, nutrição e trabalho) e motiva uma série de projectos nómadas e dispositivos móveis que visam, uma vez financiados (o Pavilhão encabeça uma estratégia de crowdfunding para o fazer), fazer a diferença em zonas marginais de Itália. Pode também dizer-se que o pavilhão italiano nos obriga a considerar a questão da auto-governação. A autonomia local (com foco na dimensão cultural) é apresentada como uma resposta possível ao que em Itália cerceia uma desenvolvimento genuinamente sustentável: o culto do património. As periferias posicionam-se, então, na vanguarda de novas formas de urbanização e do habitar, sendo na periferia que as questões da partilha de recursos, da democracia, do compromisso (também com a cultura), se apresentam como plenamente arquitecturais. Sobretudo, quando, de forma extremamente humilde, se ‘limitam’ a criar melhores condições de trabalho para, por exemplo, associações envolvidas na luta contra a marginalização territorial ou os malefícios da Mafia. É o caso de um espaço cultural/museu em Caserta (projecto Restart, por Dianarhitecture + RS Architettura) ou do restauro colectivo do teatro social de Gualteri, em Reggio Emilia (pela Associação Teatro Socielae di Gualteri), projecto significativamente denominado Cantiere Aperto.

Também a França expõe uma reflexão sobre estas ‘Novas Riquezas’, documentando casos felizes em que a arquitectura transmite um sinal de esperança, associando valores e compromisso humano. O pavilhão funciona como câmara de eco de peregrinações até territórios ‘abaixo do radar’, como se um caderno de viagem pudesse ser a memória fotográfica de um conjunto de edifícios exemplares na sua atitude de proximidade e de resolução de problemas concretos em que toda a sua singularidade. Distanciando-se da arquitectura ‘haute couture’, o pavilhão afirma a pujança realista da nova arquitectura francesa. Ironicamente, os projectos são aliás apresentados em painéis publicitários dinâmicos, idênticos aos que pululam pelas cidades francesas.

Quanto à Áustria, esta mostra o rosto humano da sua resposta à crise dos refugiados, essencialmente através de um projecto fotográfico. Paul Kranzler, conhecido pela intensidade das suas fotografias, acompanhou três equipas de arquitectos envolvidos nas acções de acolhimento de refugiados, e daí resultou um corpo de imagens que, em contraste com a habitual fotografia de arquitectura, se foca nas pessoas. Áustria assume que o trabalho essencial é o que está a ser feito no seu próprio território, actividade concreta que importa dignificar e não simplesmente expor.

 

Fotos: ©Agata Wiorko