A importância da gestão da água nas cidades é hoje inquestionável, como também o é a importância da resiliência das cidades, da sua gestão inteligente e da circularidade de recursos. No entanto, a ligação entre estes temas e a forma como a eficiência hídrica nos edifícios, para eles contribui, não é, ainda, tão evidente.

Os riscos associados à água, incluindo secas e cheias, representam 90%[i] dos riscos naturais das cidades, com intensidade e frequência crescentes. Contudo, na Europa, a água é consumida em volumes duas a quatro vezes superiores às necessidades médias diárias, sendo nos edifícios estimado um potencial de poupança hídrica de 30 a 45%[ii], resultante de atuais desperdícios e ineficiências. Portugal é ainda um dos países da UE com maior potencial de reutilização, face aos 1,5 a 2,0%[iii] que se verificam atualmente.

A eficiência hídrica nas cidades e nos edifícios (ver nota([1])) tem um papel importante nas cidades inteligentes, contribuindo para dois aspetos fundamentais, e interrelacionados, da gestão da água e da resiliência das cidades:

1) Gestão e aproveitamento mais eficiente da água, levando a menores consumos e necessidades de captação, com redução de custos infraestruturais e pressões sobre os recursos hídricos e naturais;

2) Aumento da resiliência das cidades e edifícios, dos seus habitantes e de todos os setores que, ao utilizarem água de forma mais eficiente, mantendo a segurança, conforto e eficácia na sua utilização, serão potencialmente menos impactados por situações de escassez e inundações, reduzindo os impactes sociais e económicos associados à seca e às cheias.

Mudança e Confiança dos consumidores num novo mercado e em novas soluções de eficiência hídrica

 

A ADENE tem em curso o Projeto WATTer Skills “Eficiência hídrica e nexus água-energia no setor da construção e reabilitação”, apoiado pelo Programa Erasmus+ da Comissão Europeia, que promove a formação e qualificação de futuros técnicos e especialistas de eficiência hídrica no setor da construção e reabilitação de edifícios.

 

Como impulsionar esta dinâmica?

Tendo por base a experiência da ADENE, que ajudou a construir, qualificar e consolidar o mercado da eficiência energética em Portugal, identificam-se algumas áreas-chave (ver caixa) para a alavancagem deste potencial e oportunidades de eficiência hídrica nos edifícios, de forma contínua e duradoura. Estas assentam e promovem a gestão da água do lado da procura, centrada nos consumidores, como aconteceu na área da energia e acontece já no Reino Unido, por exemplo. Enquanto Smart Citizens, os consumidores têm e terão, cada vez mais, o poder da decisão, e com este, o poder da mudança.

  • Sensibilização e Mobilização, através do envolvimento, participação e experiência (user experience) dos cidadãos, assente em ferramentas de educação-ação, gamificação, simulação e meios digitais de acesso continuado para um público cada vez mais tech savvy[i];
  • Promoção da Mudança, que passa por uma alteração de comportamentos e escolhas baseadas em informação e orientação dos consumidores para a eficiência, catalisação da inovação, novas tecnologias e serviços de eficiência, monitorização de consumos em tempo real e reconhecimento de boas práticas, promovidos, por ex., através de instrumentos de mercado;
  • Confiança, que requer a capacitação e qualificação de profissionais qualificados para a construção, que dê garantias de segurança, eficiência e eficácia aos consumidores na adoção da eficiência hídrica.

Sensibilização, Mobilização e Mudança

O projeto Aqua eXperience, da ADENE e da EPAL, apoiado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente, no quadro da Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020, promove o “porquê” da eficiência hídrica e também o “como”, através da gamificação dirigida aos jovens, do Guia Digital Aqua eXperience, dirigido aos consumidores residenciais, da Comunidade Aqua Community e Aqua Solutions, e do Simulador Aqua eXperience, em breve disponível.

Na eficiência hídrica, como na energia e comunicações, não há limite para a inovação

O aumento da eficiência hídrica nos edifícios, cada vez mais ao alcance de todos, tem ainda um potencial muito elevado por explorar, através da evolução tecnológica em curso e do desenvolvimento contínuo de produtos e soluções inovadores, inteligentes e conectados, que por seu turno valorizarão cada vez mais os edifícios, o seu conforto e segurança.

Estes serão tão mais evoluídos, disruptivos e disseminados quanto maior for a sua procura e dinâmica de mercado (e.g., evolução noutros setores, como na energia e comunicações).

A eficiência hídrica fomenta e multiplica, assim, outros benefícios para além da eficiência de recursos e dos benefícios ambientais e económicos diretos, incentivando a inovação e a geração de novos serviços de valor acrescentado (incluindo das cidades aos seus cidadãos), novas empresas, empregos e profissionais qualificados, em cidades que terão de ser cada vez mais inteligentes e resilientes no uso da água.

[1] Nota: A eficiência hídrica nas cidades e nos edifícios pode ser traduzida pela eficiência do uso da água, aumento da sua produtividade, e circularidade das águas residuais tratadas, com produção de “água renovável” e aproveitamento de origens naturais, como a chuva, também útil no controlo de picos de cheias.

[i] UNISDR, 2015

[ii] CE, 2016 e Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais (ANQIP), 2016

[iii] CE, 2017

[iv] Ie, Cidadãos e consumidores tecnologicamente conscientes, cada vez mais hábeis e experientes na utilização de tecnologia

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.