Nasceu a partir de uma cidade e de uma companhia de teatro, mas quis estender-se para uma região inteira. A ideia partiu do Teatrão – companhia de teatro profissional de Coimbra – e procura, desde Julho, ter “impacto junto das comunidades” de toda a região Centro através da programação cultural que leva a oito cidades e concelhos. A Rede Artéria “resulta da reflexão sobre a necessidade de criação de uma rede de circulação de produção artística do Centro” e é hoje responsável por apresentar uma agenda extensa, em diversidade e nos lugares que visita, procurando reflectir sobre “os problemas e as ambições culturais dos territórios”.

Da Rede fazem parte Belmonte, Figueira da Foz, Fundão, Guarda, Ourém, Tábua, Viseu e, claro, Coimbra, a cidade-mãe da companhia de teatro que coordena o programa e faz a mediação entre agentes culturais locais, público e instituições académicas parceiras, responsáveis por monitorizar o sucesso das iniciativas e as dinâmicas locais nos processos de criação artística.

Tudo funciona de forma “colaborativa”, explicam à Smart Cities Isabel Craveiro e Cláudia Carvalho, membros da direcção do Teatrão. Para o projecto tomar forma, foram convocados agentes culturais e os municípios. Era preciso “discutir o que existia, o que estava mal, o que se ambicionava”. E os problemas existiam: relações conturbadas “entre agentes culturais”, “falta de comunicação”, dificuldades de coordenação “entre agentes e poder local”, assim como “um receio generalizado de práticas artísticas mais colaborativas”.

Identificados os desafios e feita a “radiografia das comunidades” – com a ajuda do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, parceiro do projecto –, avançou-se com um projecto que pretende alavancar a “circulação artística regional”, contribuindo “para a atractividade turística dos municípios”, sempre com a academia à perna. Todas as semanas há espectáculos e cada produção nasce de uma das localidades que integram a rede, circulando, depois, “por três outras cidades Artéria”.

Unir produção cultural e a academia

A Rede junta produção cultural e academia. Isto acontece, contam as responsáveis pelo Teatrão, para aproximar “a produção de conhecimento, a produção artística e o dia-a-dia de cada comunidade”. O acompanhamento científico do projecto está a cargo do CES, mas a relação entre Rede Artéria e as instituições de ensino parceiras extravasa o acompanhamento científico. O “acompanhamento académico e os processos de criação artística” também andam de mãos dadas, já que os trabalhos de alunos das instituições académicas acabam integrados nos processos de criação artística a decorrer nas cidades pertencentes à rede.

Enquanto a programação artística se desenrola, são desenvolvidas acções de mapeamento cultural. É feito um “levantamento sociocultural dos públicos” e é aqui que se encontra uma das bases para a Rede Artéria: proceder à “análise social e intervenção directa para influenciar a transformação da realidade social e cultural”.

Cada uma das intervenções criadas para as oito cidades e concelhos abrangidos é decidida em articulação com os agentes culturais locais, tendo como base uma “reflexão sobre os problemas e as ambições culturais dos territórios”, e é, entretanto, submetida a um “trabalho de monitorização qualitativa”. São realizadas entrevistas aos intervenientes dos projectos e recolhidas imagens e vídeos dos processos criativos. A criação das intervenções artísticas acontece, depois, em simultâneo com a realização de materiais científicos por parte de investigadores e alunos, como “artigos científicos, teses de mestrado e livros”.

A Rua Esquecida  – Município da Guarda

Convocar agentes culturais, “ouvir as comunidades e o poder local”

Todas as semanas, há novas peças de teatro e são apresentadas novas criações artísticas. É sempre procurada uma ligação aos locais que acolhem as apresentações, quer pelo Teatrão, que coordena a Rede Artéria, quer pelos agentes culturais locais, parceiros da iniciativa.

Ourém e Tábua são as próximas localidades a receber espectáculos. Já no próximo dia 8, recebem, respectivamente, o espectáculo saal e Labirinto. O primeiro é o resultado “de um processo de imersão na realidade local” – pode ler-se no sítio web da rede – e é “criado a partir de histórias das salinas da Figueira da Foz”. O segundo, fala de “encontros, entre o velho e novo, o passado e o presente, amigos e inimigos”, “judeus e cristãos, israelitas e palestinianos”.

Mas antes da materialização da rede, naquela que hoje é a sua programação cultural, foi preciso passar por um período de “três anos”, em que foram convocados agentes culturais, municípios e cidadãos. Hoje, a programação pode ser coordenada pelo Teatrão, mas a criação artística é feita em regime de residência, em estreita colaboração com “os agentes culturais locais de cada comunidade”.

Porquê o Centro?

É “a maior região do país”, “fruto de identidades fortemente assumidas por cada comunidade” – é assim que Isabel Craveiro e Cláudia Carvalho justificam a intervenção cultural que coordenam. A escala daquilo que fazem aumentou. Não esqueceram a cidade de Coimbra, capital de distrito, mas actuam, agora, num âmbito geográfico muito mais extenso, com um “património cultural eclético”.

A rede não chega, apesar de tudo, a todo lado, pelo que a escolha dos municípios abrangidos teve em consideração “as relações litoral/interior” e as dimensões dos locais.

Os municípios participam enquanto “co-promotores do projecto”, ajudam na preparação dos projectos e “assumem uma parte do financiamento” – que provém também do Fundo Social Europeu e do Programa Portugal 2020 –, para além de também contribuírem com recursos humanos e técnicos. “São fundamentais para a promoção dos espectáculos e do sentido de comunidade que queremos afirmar”, contam.

Os espectáculos começaram em Julho deste ano e prolongam-se até ao mesmo mês de 2019. Mas este é um projecto com pernas para continuar a andar. É, pelo menos, nisso em que acreditam as responsáveis, Isabel Craveiro e Cláudia Carvalho. A ideia é a de que a Rede Artéria não se fique por aqui, encontrando no futuro razões para “procurar aprofundar e alargar o seu trabalho”.

Sofia Meu Amor Trincheira Coimbra © Carlos Gomes