Quando o clima de insegurança aumenta numa cidade, a instalação de sistemas de videovigilância é uma das soluções colocadas em cima da mesa, mas cujo uso nem sempre é consensual face aos riscos que implica para a privacidade das pessoas. David Sardinha, business development manager da Hikvision Portugal, empresa especializada em soluções de videovigilância e Internet of Things (IoT), garante que as condições de instalação e utilização destes equipamentos estão hoje “perfeitamente definidas”, pelo que o seu “uso correcto não deve envolver riscos”. Para além disso, acrescenta o responsável, a aplicação destas soluções, cada vez mais inteligentes, já não se prende apenas com questões de segurança e estas são também usadas para melhorar a mobilidade e, até, promover a transição energética.
Qual o papel da videovigilância numa cidade inteligente?
Melhorar a qualidade de vida das pessoas. Acima de tudo, a videovigilância traz segurança e evita actos de vandalismo e roubos, mas, nas cidades inteligentes, vai muito além disso: recolhe e fornece dados, permitindo gerir de forma mais eficaz o trânsito dentro das cidades, assim como as zonas de acesso condicionado. Permite ainda gerir viaturas mal estacionadas, avariadas ou em contramão. São muitas as funções da videovigilância que permitem reduzir riscos, poupar tempo e dinheiro e, em última análise, tornar o nosso dia-a-dia mais fácil.
Ainda assim, este é um tema sensível, por motivos de privacidade. Que mecanismos existem para os acautelar?
A videovigilância tem funções muito específicas e as condições em que deve ser instalada e utilizada também estão perfeitamente definidas. Portanto, o uso correcto não deve envolver riscos de qualquer espécie.
Enquanto fornecedores de soluções, como integram essas preocupações nos vossos produtos?
Os nossos produtos incorporam tecnologia de ponta. Fazemos um grande esforço em Investigação e Desenvolvimento (I&D) para continuar a desenvolver a nossa proposta e oferecer soluções cada vez mais sofisticadas e específicas. Na verdade, uma das características dos dispositivos Hikvision é a sua enorme versatilidade e a grande variedade de possibilidades que oferecem. Depois, é o utilizador – nosso cliente – quem deve dar-lhes o uso correspondente.
Como avalia o interesse dos municípios portugueses por estes sistemas?
Detectámos que, em Portugal, a procura está a crescer muito rapidamente. Os municípios estão a demonstrar interesse nos sistemas de controlo de tráfego, que chamamos de ITS (Intelligent Traffic Systems), que permitem controlar o fluxo de veículos numa cidade, saber em que horários e em que áreas há maior densidade de tráfego, tomar decisões para evitar engarrafamentos (rotas alternativas, variação dos tempos dos semáforos, etc.), detectar um incidente ou uma infracção em tempo real para agir com rapidez, detectar veículos específicos que possam ser procurados pela polícia, etc. Além disso, os nossos projectos são muito completos, simples de instalar e fáceis de ampliar. Isto é, o utilizador pode começar com um pequeno projecto e, depois, expandi-lo, criando, imediatamente, benefícios para o município.
“O vídeo inteligente mudou completamente a forma como a videovigilância é usada: agora é muito mais eficiente e requer muito menos envolvimento humano, economizando muitos recursos.”
Em que sectores da vida urbana o uso de sistemas de videovigilância tem mais potencial?
Os sistemas de videovigilância já fazem parte do nosso dia-a-dia, a sua utilização está generalizada. O que podemos afirmar é que estamos, neste momento, a atravessar uma grande fase de mudança que coloca os dados capturados pelos sistemas de videovigilância à disposição do utilizador, permitindo tirar maior proveito deste tipo de sistema, ajudando à decisão. O potencial está em colocar o sistema à disposição do utilizador. A segurança vem sempre em primeiro lugar quando falamos em sistemas de videovigilância, mas, hoje, é muito mais do que isso. Os grandes centros urbanos, os parques de estacionamento, os parques verdes ou as praias são exemplos de zonas com bastante potencial na utilização de sistemas de videovigilância.
Em termos de inovação tecnológica, a que novidades podemos assistir num futuro próximo?
A crescente sensibilidade pelo meio ambiente tem-nos levado a desenvolver soluções nesta área. A Hikvision desenvolveu um sistema inteligente de tráfego especialmente projectado para LEZs (Zonas de Baixas Emissões), que são áreas onde o acesso a certos veículos é restrito devido às suas emissões. As nossas equipas, através de câmaras de reconhecimento de matrículas, controlam o acesso de veículos a essas zonas de baixas emissões, que podem ser uma área específica da cidade ou até mesmo toda a cidade. São sistemas destinados a melhorar a qualidade do ar e que [no caso espanhol] auxiliam no cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas e Transição Energética, que afecta determinadas áreas urbanas.
Como é que a Hikvision está a acompanhar essa evolução?
Na Hikvision, investimos mais de 10% da nossa receita em I&D. Praticamente metade das 40 mil pessoas que trabalham na empresa em todo o mundo são engenheiros que se dedicam a pesquisar e desenvolver novos produtos. Por um lado, melhoramos constantemente a capacidade das nossas câmaras: maior distância de foco, foco instantâneo (rapid focus), qualidade de imagem aprimorada em qualquer circunstância (objectos em movimento, multidões, escuridão, entre outros), etc. E, por outro lado, a inteligência artificial e os algoritmos de deep learning, que incorporam os nossos equipamentos, seja directamente embutidos, seja por meio do software de gestão (HikCentral), conferem às câmaras a capacidade de acção. Essas tecnologias permitem não apenas detectar um evento, mas também perceber se é um potencial perigo ou não. O protocolo de resposta só é activado em caso de perigo real, o que evita falsos alarmes. O vídeo inteligente mudou completamente a forma como a videovigilância é usada: agora é muito mais eficiente e requer muito menos envolvimento humano, economizando muitos recursos. E é essa tendência que vamos manter nos próximos anos.