Dois jovens portugueses desenvolveram uma solução capaz de criar bioplástico impermeabilizante para a indústria têxtil a partir de cascas de camarão. O projeto HidroQapa já ganhou vários prémios internacionais e o mais recente foi conquistado na Youth Start-Up Competition, uma iniciativa promovida pela Comissão Europeia que decorreu na semana passada em Budapeste, na Hungria.

Frederico Mauritty e Madalena de Castro Filipe são os dois empreendedores que idealizaram o produto, iniciado há cerca de dois anos quando ainda eram estudantes do ensino secundário. Na altura tiveram o apoio do Instituto Superior Técnico, que ainda se mantém, e atualmente integram o BlueBio Value Ideation, um programa dedicado ao desenvolvimento de projetos inovadores e sustentáveis na área da economia azul.

O HidroQapa já foi testado com sucesso em toalhas de mesa

Mas, afinal, como é possível usar cascas de camarão em produtos têxteis? “A partir de um polímero que está presente nessas cascas, o quitosano, conseguimos criar um bioplástico impermeabilizante, que utilizamos em toalhas de mesa ou t-shirts, por exemplo. Mas também já estamos a fazer testes para outros tipos de tecidos, nomeadamente colchões”, explica Frederico Maurity em entrevista à Smart Cities.

O agora estudante universitário lembra que entre as vantagens deste projeto está “o valor económico que traz à indústria do pescado, mas também a sustentabilidade da solução, capaz de substituir de uma forma mais ecológica os atuais impermeabilizantes da indústria têxtil, que são bastante poluentes para o ecossistema e para a saúde humana.”

Ao vencer a edição de 2024 da Youth Start-Up Competition, o projeto conquistou o  direito de ser apresentado na Cimeira do Conselho Europeu de Inovação, marcada para o próximo ano. Mais uma oportunidade para ganhar visibilidade, tal como sucedeu no Regeneron International Science and Engineering Fest (ISEF), uma feira mundial que aconteceu em maio na cidade de Los Angeles (EUA), onde marcaram presença 1600 projetos científicos. Na altura, o HidroQapa ficou em quarto lugar na categoria de Química, entre 70 projetos em competição, e foi um dos vencedores do Prémio Mary Kay para a inovação, destinado a cientistas do ensino secundário. A este galardão junta-se a ainda o segundo lugar na Mostra Nacional de Ciência, em 2023, que valeu aos dois jovens o passaporte para o evento nos Estados Unidos.

Frederico Mauritty e Madalena de Castro Filipe têm arrecadado prémios em vários eventos

“Estes reconhecimentos e visibilidade acabam por ser muito importantes, até porque atualmente estamos numa fase de entrada no mercado, em que procuramos dar a conhecer o produto e fazer com que as empresas o coloquem em testes, para perceberem se cumpre os seus parâmetros de qualidade”, contou Frederico Maurity, acrescentando que já receberam vários contactos de marcas têxteis nacionais, bem como de investidores internacionais.

Conseguir financiadores é um dos próximos objetivos da dupla de empreendedores, tal como encontrar parcerias com empresas, até porque, para já, não está prevista a criação de uma marca têxtil própria. Mas ambos acreditam que dentro de alguns anos o nome HidroQapa já esteja nas etiquetas de roupa. “A nossa ambição é que o este projeto possa vir a fazer a diferença no mundo da indústria têxtil”, conclui Frederico Mauritty.