A Web Summit foi o palco escolhido para a apresentação de um novo biodispositivo que captura e quantifica o CO₂, transformando-o depois em valor económico. Chama-se Herbi e foi desenvolvido por quatro jovens do Porto e de Braga com a missão de ajudar a resolver problemas de poluição nas cidades, levando a natureza para o coração dos meios urbanos.

Para isso, utiliza um arbusto que pode ser integrado, por exemplo, em paragens de autocarro ou fachadas e coberturas de edifícios, a partir do qual se otimiza e mede, com a ajuda de sensores, o dióxido de carbono resgatado num determinado local.

Para esse fim, a equipa também criou um modelo matemático inovador que consegue contabilizar em tempo real o carbono absorvido pelo arbusto. “Os dados são comunicados para uma parte ciber do biodispositivo modular, ou seja, passam por uma plataforma onde é possível fazer a tal quantificação e dar um valor ao sequestro”, explica Nuno Figueiredo, um dos criadores do projeto. Isto porque, além de comunicado, o CO₂ também poderá ser convertido em créditos para trocar em mercados locais de carbono.

O Herbi foi idealizado durante o Verão de 2022 no âmbito da 3.ª edição do Sustainable Living Innovators (SLI), um programa criado pelo CEiiA com o objetivo de estimular e desenvolver futuros líderes tecnológicos. Entre eles estava Mafalda Mendes, uma das quatro responsáveis da futura startup, que contou à Smart Cities os muitos passos que o projeto deu até ser apresentado na Web Summit, em Lisboa. “Depois de um ano em fase de conceito, começámos por escolher os sensores e selecionar a planta ideal, de acordo com a sua genética e enquadramento na cidade. A partir daí, foi trabalhar a parte científica, caso dos testes laboratoriais e no exterior que permitiram perceber o modo como o arbusto se comporta consoante o ambiente em que está enquadrado”, revela a engenheira do ambiente, agora a trabalhar no CEiiA.

Marco Cunha, Nuno Figueiredo, Mafalda Mendes e Matheus Costa (da esquerda para a direita) são os criadores do Herbi

O Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, sediado em Matosinhos, acabou por funcionar como incubadora do projeto. “É muito interessante trabalhar com um grupo de jovens tão dinâmico e sonhador, ainda para mais num projeto com o mérito de poder prestar serviços de bio-remediação às cidades, oferecendo mecanismos particularmente eficientes e compactos que ajudam a resolver problemas de poluição localizados”, afirma o engenheiro João Carvalho, parte da equipa que acompanha o projeto no CEiiA.

O trabalho dos quatro empreendedores, com idades a rondar os 25 anos, também permitiu identificar as melhores condições ambientais para a captura do CO₂, como a temperatura e a humidade do solo ou do ar, tornando possível aumentar a eficiência do sequestro até quatro vezes, em comparação com outras plantas isoladas. “Aliás, essa eficiência também varia de planta para planta, daí termos escolhido um arbusto autóctone, ou seja, indígena ao clima mediterrâneo. O nosso objetivo é que ele consiga sobreviver por si mesmo, mas, com um pouco de manutenção, possa atingir o seu potencial máximo”, acrescenta Nuno Figueiredo.

Projeto pisca o olho às cidades, mas não só…

Para já, o Herbi ainda funciona numa espécie de versão demo, mas os potenciais interessados e benefícios já estão devidamente identificados. “Esta plataforma permite que os nossos futuros clientes, como as cidades, as empresas de construção ou os escritórios de arquitetura, obtenham uma vantagem competitiva em matéria de sustentabilidade. Isto porque conseguirão demonstrar de uma forma mais transparente o seu processo de offseting das emissões de carbono, incluindo os resultados nos relatórios de sustentabilidade”, diz Mafalda Mendes.

De imediato, a ambição da startup é passar do protótipo para uma escala real, capaz de aplicar os diversos módulos do biodispositivo nas cidades. Noutra fase posterior, o projeto poderá ganhar uma escala industrial, ao ser aplicado, por exemplo, junto a fábricas, o que permitirá captar maiores quantidades de carbono. Em mente está também um futuro eventual uso doméstico, possibilitando que as pessoas possam ter o Herbi em casa.

Para já, existem alguns municípios interessados em testarem e aplicarem o dispositivo, nomeadamente em hubs de mobilidade que deverão ser criados no âmbito do Programa NORTE 2030.