A sessão de encerramento da quarta edição do Sustainable Living Innovators (SLI), na sexta-feira, foi o ponto de partida para a quinta edição. Durante quatro semanas, 23 estudantes responderam ao desafio de procurar no Espaço soluções para os problemas da Terra, orientados por vários especialistas portugueses das mais avançadas e inovadoras áreas geoespaciais e de negócio. Em 2024, o CEiiA vai apostar na internacionalização do programa SLI, que pretende alargar a jovens estrangeiros e a especialistas de outras partes do mundo.

Durante a quarta edição, que terminou a 11 de agosto, os jovens do Sustainable Living Innovators responderam ao desafio de olhar para o Espaço para ver melhor a Terra e terminaram o programa com a apresentação de dois protótipos de serviço: localizar e gerir reservas de minérios ao longo de todo o seu ciclo de vida e determinar os melhores locais no oceano para instalar parques eólicos offshore, a partir da observação feita por satélite. Os dois conceitos entrarão no acelerador de ideias do CEiiA, que já começou a dar realidade ao sonho Matheus Costa, um dos “innovators” de 2022.

Mestrando da Universidade do Minho, o jovem brasileiro está a desenvolver, no CEiiA, em Matosinhos, o protótipo de um dispositivo para quantificar a captura de carbono, o Herbi, que idealizou durante o SLI de 2022 e que apresentará em breve, na Web Summit. Na sexta-feira, assistiu às apresentações dos finalistas e reviveu as emoções sentidas há um ano: “Estava eu ali”, contou Matheus Costa à “Smart Cities”, parceira de media do programa, que abre novos horizontes aos jovens e aos adultos.

“Parte do conhecimento precisa de paciência e de insistência”, disse Manuel Heitor, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, na sessão de encerramento do SLI. “Não há boas soluções à partida, por isso o essencial é não ter medo para enfrentar o risco”, reforçou o ex-ministro da Ciência e do Ensino Superior, que foi um dos primeiros oradores da edição 2023.  “O próximo desafio do SLI é trazer jovens de todo do Mundo e isso é muito devido a vocês”, acrescentou.

À quinta edição, o SLI lança-se em busca de talento internacional, de jovens que tragam novas experiências e visões e de parceiros, oradores e formadores, de áreas de topo da inovação espacial e outras, sob o mesmo tema dos trabalhos deste ano: como as tecnologias do Espaço podem ajudar a resolver os problemas da Terra. Os small steps das edições anteriores são a base sólida que permite ao CEiiA o giant leap da edição de 2024.

“A ambição de internacionalizar o SLI vai trazer uma nova dimensão, um outro nível de exigência, outros parceiros e, consequentemente, um maior impacto, acreditamos nós”, perspetivou a coordenadora do programa, Sónia Nunes. “Acreditamos que Portugal pode ambicionar um posicionamento muito relevante no mercado do New Space, o que só é possível com talento motivado e capacitado para fazer esse caminho. Esperamos ter contribuído para essa imensa empreitada que é atrair e reter talento no nosso país”, acrescentou.

Um carrossel de emoções

A qualidade dos protótipos apresentados na sessão de encerramento é um sinal evidente do sucesso da quarta edição do SLI, patente no entusiasmo com que os innovators reagiram às sessões, que para alguns abriram novas fronteiras para o futuro da vida estudantil e laboral. “Sinto que no último mês abri o leque do que achava que tinha fechado ao escolher Engenharia Espacial”, contou Inês, que se aventurou no estudo do Espaço ao fim de três anos no curso de Medicina, em Coimbra. A vontade de mudar partiu da “intenção de ser útil e prestar um serviço à sociedade”, contou à “Smart Cities”, parceira da iniciativa.

Uma mudança que não surpreendeu Sónia Nunes. “Foi um mês muito intenso em que experienciei um carrossel de emoções – desde a dor ao amor. A relação que criámos com estes jovens foi muito próxima, o que permitiu muita exposição, muita espontaneidade e o privilégio de compreender melhor o que eles pensam, sentem, valorizam, receiam”, partilhou a coordenadora do programa. “A partir da sua singularidade, porque todos eram muito diferentes, há padrões que conseguimos intuir e que nos podem ajudar a antecipar necessidades futuras”, acrescentou.

“As ideias que desenvolveram não eram óbvias e trouxeram insights que vale a pena explorar. A pesquisa aprofundada que fizeram sobre tantos temas diferentes à procura de possíveis soluções trouxe imenso conhecimento para os innovators e para o CEiiA”, avaliou Sónia Nunes, que, juntamente com Natália Silva, acompanhou a tempo inteiro a passagem dos 23 jovens pelo centro tecnológico de Matosinhos.

O processo de desenvolvimento dos conceitos e protótipos de novos produtos e serviços, apesar de acompanhado por diferentes profissionais, exigiu “muita autonomia por parte dos grupos que tiveram de fazer muita pesquisa e estruturar pensamento por eles próprios”, detalhou a coordenadora do SLI. “Outro aspeto relevante foi o facto de o processo de seleção ter sido muito exigente. Os innovators, além de alunos brilhantes, trouxeram uma dimensão humana muito especial”, acrescentou Sónia Nunes.

“Vivemos o SLI com a intensidade do que somos”, sintetizou José Rui Felizardo, CEO do CEiiA. Sublinhando que este não é apenas um programa de verão, mas de interação com as novas gerações, deixou três mensagens aos jovens que apresentaram os protótipos finais. “Participar no SLI implica saber como vamos usar o conhecimento em prol da comunidade”, disse, lembrando a responsabilidade que a aquisição de conhecimento acarreta. “Nada disto é possível com talento individual. O grande desafio é sermos bons coletivamente”, evidenciou, desfiando a segunda das mensagens deixadas os jovens em Matosinhos.

José Rui Felizardo desafiou os finalistas do SLI a desenvolverem as ideias apresentadas no CEiiA

O equilíbrio entre a exigência e a tolerância é a conjugação necessária para realizar ambições, disse o CEO do CEiiA, convidando os finalistas do SLI a realizar as ideias acabadas de apresentar. “Se as quiserem concretizar estamos disponíveis para trabalhar com vocês”, disse, sublinhando a próxima dimensão do programa: “Vamos abrir candidaturas internacionalmente. Trabalharemos de forma mais abrangente com o mesmo propósito”.

Um mundo de oportunidades

Entre a assistência que na última sexta-feira esteve nas apresentações finais, os sorrisos rasgados de orgulho denunciaram os familiares dos jovens participantes. “Sabia que ia ser uma coisa espetacular, mas superou todas as expectativas”, contou Paula Andrade, mãe da Francisca Andrade. “Trabalharam imenso, mas divertiram-se, criaram laços de amizade e foram acolhidos como família”, resumiu.

“Isto é um mundo… E a abertura de oportunidades”, partilha Cláudia Sousa, mãe da jovem Cláudia Moreira. Perante a determinação da filha mais velha para se candidatar e passar um mês do verão a trabalhar no programa do CEiiA, a família realinhou vontades e adiou as férias. Na última sexta-feira, os pais Cláudia e Manuel, e a filha mais nova, Luísa, perceberam a dimensão do sonho da jovem SLI Cláudia Moreira.