Após 13 dias de negociações em Baku, no Azerbaijão, a Cimeira do Clima chegou ao fim com um acordo alcançado, embora longe de ser consensual e alvo de muitas críticas por parte de diversos países e organizações. Mas o que sobrou, então, da COP29? No ponto essencial, o financiamento, ficou o compromisso de os países mais ricos pagarem 300 mil milhões de dólares por ano para apoiarem a redução das emissões e a adaptação às alterações climáticas no mundo em desenvolvimento, a partir de 2035. Um valor que triplica o apoio financiamento atual, ainda assim longe do reclamado por várias partes.

Para Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, esta nova meta financeira é “uma apólice de seguro para a humanidade”, mas “como qualquer apólice de seguro, só funciona se os montantes dos prémios forem pagos na íntegra e a tempo”. “Nenhum país conseguiu tudo o que queria e saímos de Baku com uma montanha de trabalho ainda por fazer. Por isso, não é altura de dar voltas de vitória”, acrescentou o diretor da ONU.

Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, considerou o acordo essencial para manter vivo o limite de 1,5°C para o aquecimento global, apesar de admitir que soube a pouco. “Esperava um resultado mais ambicioso – tanto em termos de financiamento como de mitigação – para responder à escala do grande desafio que enfrentamos, mas o acordo alcançado fornece uma base sobre a qual construir”, escreveu em comunicado.

“Mais ambição” em matéria de mitigação pediu também a ministra do Ambiente portuguesa, Maria da Graça Carvalho, para quem “tal não foi possível face ao bloqueio dos países produtores de combustíveis fósseis”. Ainda assim, congratulou-se com o acordo, sublinhando o papel de liderança assumido pela União Europeia. “Portugal e a UE tinham como grande objetivo aumentar o valor de financiamento global, assim como ampliar a base de doadores para o financiamento climático, para que mais países possam contribuir para este esforço global. Conseguimos atingir estas metas e diversificar as fontes de financiamento”, concretizou.

Bastante mais críticos estiveram os países em desenvolvimento, a começar pela índia. “Lamento dizer que este documento não é mais do que uma ilusão de ótica”, afirmou a representante da delegação indiana, Chandni Raina, durante a sessão de encerramento da cimeira, enquanto o grupo dos países menos desenvolvidos (LDC, na sigla em inglês) foi mais longe, afirmando que “isto não é apenas um fracasso, é uma traição”.

O descontentamento dominou também as reações dos ambientalistas à cimeira de Baku. A associação Zero, por exemplo, considerou o financiamento coletivo climático “pouco ambicioso e insuficiente”, por ficar “muito abaixo das responsabilidades históricas” associadas às emissões dos países mais desenvolvidos. Além disso, esta foi “uma COP dos interesses do petróleo que falha em apoiar os países em desenvolvimento”, acrescentaram os ambientalistas.

Sobre o caso específico de Portugal, a associação apelou a um “aumento exponencial do financiamento climático internacional” por parte do país, uma vez que o compromisso de “9 milhões de euros por ano é insignificante”, “tendo em conta que a ordem de grandeza do financiamento por parte dos países desenvolvidos está nas centenas de milhares de milhões”.

Depois do Azerbaijão, a próxima Cimeira do Clima das Nações realiza-se entre 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, no Brasil, com expetativas e exigências reforçadas. Como já afirmou Lula da Silva, “a COP30 será a nossa última chance de evitar uma rutura irreversível no sistema climático”.

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