Um relatório da Fundação Changing Markets revela que as marcas globais de moda estão a aumentar a utilização de materiais sintéticos, que têm origem fóssil e libertam microplásticos. O inquérito, divulgado no encerramento da Semana da Moda de Londres sugere que as grandes empresas dependem cada vez mais de tecidos como o poliéster, em detrimento do algodão e da lã orgânicos, favorecendo o aumento da poluição e o crescimento da fast fashion.
“Estes materiais são baratos, versáteis e fundamentais para a rápida rotação do vestuário na moda rápida. No entanto, libertam microplásticos nocivos e produzem resíduos e poluentes em massa”, alerta a organização sem fins lucrativos, acrescentando que “a baixa qualidade e as taxas de reciclagem quase nulas fazem da moda rápida uma fonte significativa de poluição”.
As conclusões da Changing Markets resultam de um inquérito realizado junto de 50 empresas internacionais de fast fashion, moda desportiva e moda de luxo. Das 23 que responderam, quase metade (11 de 23) confirmaram ter aumentado o uso de têxteis com fibras à base de combustíveis fósseis.
A Inditex, por exemplo, que detém marcas como a Zara, a Berhska, a Stradivarius ou a Massimo Dutti, “revelou que usa um volume maior de sintéticos do que qualquer outra marca pesquisada” e que o uso de tecidos fósseis do grupo aumentou um quinto desde a última pesquisa da fundação, diz o relatório. Já a Shein declarou que 81% da produção tem como base materiais provenientes de fontes fósseis, enquanto a Boohoo, que tem sido acusada de greenwashing, relatou um aumento de 4% nas fibras sintéticas, que representam agora 68% do total de fibras usadas.


Organização internacional alerta para perigo dos tecidos sintéticos, que libertam microplásticos. Imagem: © Changing Markets Foundation
Ainda assim, o trabalho assinala três marcas que garantiram ter diminuído o uso de tecidos de origem fóssil, a G-Star Raw, a Mango e a New Look, denotando que o grupo de empresas a melhorar neste capítulo ainda é minoritário.
Para Urska Trunk, da Changing Markets, “a moda está a atravessar um momento crítico, com as grandes marcas a duplicarem o modelo da moda rápida, inundando o mercado com tecidos descartáveis e poluentes. Estas empresas continuam a apostar forte nas fibras plásticas, mostrando pouca intenção de mudar e recorrendo a táticas emprestadas da indústria dos combustíveis fósseis para distrair e atrasar os verdadeiros progressos”. A diretora sénior desta campanha defende, por isso, a necessidade dos reguladores se manterem vigilantes e “terem uma ação forte e decisiva para afastar a moda da sua dependência dos combustíveis fósseis e para criar roupas de alta qualidade que as pessoas queiram conservar durante mais tempo”, refere um comunicado da fundação.
Numa altura em que mais de 30 propostas legislativas deverão entrar em vigor em todo o mundo nos próximos anos, incluindo um Tratado da ONU sobre Poluição Plástica, a organização alerta que os legisladores têm de reforçar a regulamentação como forma de travar a utilização de produtos sintéticos pelas grandes marcas globais.
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