Se há quem não consiga viver sem a azáfama e o ritmo acelerado das grandes cidades, há também quem prefira um modo de vida mais… slow. Inspirado pelo “slow food”, o conceito está a aplicar-se também às cidades, oferecendo um modo alternativo de conhecer, olhar e viver os territórios. Nos próximos dias 24 a 26 de Junho, “Viver Bem” é a máxima que se impõe em Vizela, para receber a Assembleia Internacional Cittaslow, a rede mundial de cidades que estão a optar por este caminho.
A ideia surgiu no final da década de 90, em Itália, quando quatro cidades decidiram criar uma associação para o desenvolvimento sustentável dos territórios e das comunidades, orientada para o conceito de “slow living”, que convida a desacelerar, aprender e desfrutar do conhecimento do passado, das tradições, promovendo a economia e preservando o ambiente e o futuro das gerações. Aplicar isso à gestão de uma cidade implica “abandonar o paradigma de desenvolvimento que prolifera actualmente”, explica Abel Cardoso, coordenador da iniciativa em Vizela. “Tem tudo a ver com a forma como as pessoas se sentem no território onde vivem e o que podem fazer para o valorizar. Trata-se de encontrar o tempo justo para fazermos determinadas coisas”.
Vizela recebeu a classificação Cittaslow em 2011, fazendo parte das seis cidades portuguesas que integram a rede internacional. Em todo o mundo, são hoje 220. Todas de pequena dimensão. “As grandes cidades não têm problemas de atractividade, o problema está nas mais pequenas”, explica o responsável. No caso de Vizela, “a proximidade com Guimarães colocou o paradigma de crescimento em causa”, conta, e foi preciso perceber “o que fazer com a cidade e com o território”. A resposta ao desafio surgiu no juntar a imagem de marca da cidade, enquanto “rainha das termas”, ao selo cittaslow, uma estratégia que tem orientado o trabalho da autarquia nos últimos cinco anos. “Não se trata de competir, mas de olharmos para nós próprios e valorizarmos o que temos”, garante o coordenador.
Em resultado desta aposta, o município destaca a gestão do centro histórico (que antes não existia), e o facto de todas as intervenções urbanas serem feitas com vista à classificação internacional. As acções incluíram também a recuperação do rio Vizela, numa tentativa de “devolvê-lo às pessoas”, quando, antes, “estavam de costas voltadas”.
A pequena cidade portuguesa orgulha-se ainda da forma inédita como está a passar este modo de viver a cidade às gerações futuras. Graças a uma parceria entre a câmara municipal e uma escola pública, o conceito é traduzido numa “linguagem adequada” e ensinado aos mais novos. “Este é um projecto pedagógico único e, num universo de 900 alunos, constatamos que o conceito está a entrar tão bem quanto o da reciclagem”, enaltece.
Em termos turísticos, o impacto deste posicionamento não é imediato e o município está ciente disso. No entanto, sabe que “há um nicho de turismo que só procura estes locais”. Vizela não foi a primeira cidade portuguesa a aderir a este movimento. Antes disso, já quatro cidades algarvias foram classificadas com o selo Cittaslow – Tavira, Silves, Lagos e S. Brás de Alportel. A estas juntou-se, em 2013, Viana do Castelo, compondo, assim, o lote das seis nacionais. O potencial é muito maior, defende Abel Cardoso. “Enquanto país, temos muito para oferecer nesta abordagem de desenvolvimento, porque somos um país pequeno, com pequenas localidades, mas com muita diversidade. Há potencial para replicar o que Vizela está a fazer”.
Nos próximos quatro dias, enquanto discutem políticas, apresentam projectos, trocam conhecimento sobre formas e modos de vida, sustentabilidade e desenvolvimento urbano, representantes de delegações das cidades classificadas de todo o mundo, desde a Austrália aos Estados Unidos, vão poder “ter acesso ao que de melhor Vizela produz no seio do seu território, o seu património, as tradições minhotas, a sua forma de vida”, assegura a câmara municipal. Esta é a nona edição da assembleia internacional, a primeira a ter lugar a Oeste de Itália, e inclui ainda, no programa de dia 24, a realização de um Congresso Internacional de Slow Tourism, no Instituto Superior da Maia.
Foto: ©CM Vizela