Incentivar a circularidade da economia a partir do design, capacitando empresas e designers, é o objectivo do CIRCO HUB Portugal, um programa originário dos Países Baixos que chegou ao nosso país em 2021.
Desde essa altura, que o LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia, em parceria com o IAPMEI e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), implementam um modelo de formação com provas dadas em mais de uma dezena de países. Financiado pelo Fundo Ambiental, este assenta na aplicação do design no desenvolvimento de produtos, serviços e modelos de negócio mais circulares e sustentáveis.
Cristina Rocha, responsável pela área de Economia Circular do LNEG, lembra que “cerca de 80% dos impactos ambientais de um produto ao longo do seu ciclo de vida são determinados na fase de design”, por isso elementos como a escolha dos materiais, a possibilidade de upgrading ou a arquitectura de um produto exercem uma forte influência na sua durabilidade, capacidade em se manter apelativo ou mesmo reutilização. Até porque, acrescenta a investigadora, “reciclar não chega. Embora essa seja uma opção, não deve ser prioritária por várias razões”.
Até ao momento, o CIRCO Hub Portugal já capacitou 77 empresas (a maioria PME), mas a meta é chegar a uma centena até ao final do programa, em Setembro. A formação consiste num track de design de negócios circulares, composto por três workshops (identificação de produtos e oportunidades; elaboração de estratégia e implementação). O próximo track, a realizar em Maio, é dedicado à circularidade das embalagens na cadeia de valor dos vinhos, enquanto em Junho acontece um generalista (por ser o último) orientado para empresas de qualquer área de actividade.
Além dos representantes das empresas, também os designers têm acesso à formação em sessões específicas – o objectivo é capacitar 60 no total – porque “são importantíssimos agentes de mudança e de multiplicação, ao poderem apresentar aos clientes soluções alinhadas com princípios de circularidade e sustentabilidade” diz Cristina Rocha. Nesta sexta-feira (20/04), por exemplo, termina um workshop sobre “Como criar negócios através do design circular”.
Em ambos os casos, todas as formações são gratuitas, mediante inscrição prévia no site do CIRCO Hub Portugal. Um programa de capacitação, sim, mas claramente orientado para a acção, ou seja, para o surgimento de oportunidades de negócio, “que resultam de uma análise às características de um produto já existente – por exemplo, onde é que ele gera maiores perdas de valor ambiental e económico – e depois à criação de soluções circulares que também façam sentido para o negócio”, explica a investigadora da Unidade de Economia de Recursos do LNEG.
Satisfação com o passado, expectativa para o futuro
De modo a aferir o sucesso do programa e a receptividade das empresas, em janeiro de 2023 foi lançado um inquérito aos participantes que tinham frequentado a formação até julho de 2022 e “o feedback foi muito positivo”. Isto porque mais de 70% dos inquiridos disseram ter evoluído nos seus conhecimentos sobre economia circular, continuaram a trabalhar com as soluções desenvolvidas durante a formação e afirmaram que tencionam alargar esta actuação a outros produtos e serviços da empresa. Além disso, à data das respostas, 40% das empresas já tinha ultrapassado a fase de conceito das soluções desenvolvidas, estando já em fase de protótipo ou mesmo lançamento no mercado.
Estes e outros indicadores fazem com que os vários parceiros do CIRCO Hub Portugal estejam “altamente empenhados” em dar continuidade ao programa, cuja primeira fase termina em Setembro, com um evento final, onde será feito o balanço do projecto e apresentadas as soluções desenvolvidas por empresas e designers, além de discutidas as temáticas da economia circular e do ecodesign em diversos painéis de especialistas.
Cristina Rocha diz que uma eventual nova etapa do programa estará dependente de financiamento e daquilo que determinar o segundo Plano de Acção de Economia Circular, ainda por sair, que “será sempre um instrumento de política muito importante para aquilo que possa vir a ser o desenho do próximo CIRCO HUB Portugal”. De qualquer forma, a expectativa é positiva, esperando-se que, no futuro, este possa ir além da formação: “ela será sempre a espinha dorsal do projecto mas, eventualmente, poderíamos ter alguns outros elementos que facilitem o processo de implementação por parte das empresas e a avaliação do impacto desta mudança do ponto de vista da sustentabilidade”.
Fotografia de destaque: © CIRCO Hub Portugal