Contribuir para cidades mais sustentáveis e descarbonizadas, através de uma nova geração de equipamentos interligados por plataformas inteligentes, foi o objectivo do Link4S (Link for Sustainability), um projecto totalmente desenvolvido em Portugal que apresentou os resultados finais esta quarta-feira.
A ideia partiu de um grupo de empresas, centros de investigação e uma universidade, apostados em aproveitar o potencial das novas redes de telecomunicações, em particular o 5G, e transformá-lo em soluções digitais orientadas para a sustentabilidade. Daí nasceu um consórcio, que trabalhou durante quatro anos (de 2020 a 2023), sob liderança da NOS e em parceria com outras 10 entidades: CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento; Mobileum; International Iberian Nanotechnology Laboratory (INL); Exatronic; Universidade do Minho; DTx – Digital Transformation CoLAB; REN; Portgás Distribuição; Wyze e Beyond Vision.
Juntos, os vários stakeholders avançaram para o desenvolvimento de soluções IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas) que conectam os objectos, bem como de plataformas que depois os conseguem gerir. Para isso, o 5G tornou-se fundamental, já que permite poupar energia, tanto na transmissão de dados do dispositivo como na fase de processamento na cloud (nuvem). Em entrevista à Smart Cities, administrador do CEiiA e professor da Universidade do Minho, Jorge Cabral, explicou que “como esse dispositivo consome menos energia, também tem uma maior autonomia, ou seja, consegue estar sem manutenção durante mais tempo, chegando a uma longevidade de cerca de 10 anos”. A esta vantagem junta-se “outra capacidade bastaste útil nos tempos que correm, que é a possibilidade de actualizar remotamente o software”, acrescentou.

Casos de uso para mobilidade e energia
Para Pedro Machado, da NOS, o Link4S procurou aproveitar uma janela de oportunidade com soluções inovadoras, “que pudessem não só acrescentar valor ao tecido empresarial português, mas também que fossem propriedade intelectual e de cariz português”. Para o responsável pela área de 5G e Inovação da empresa líder do projecto, a oportunidade apresentava-se a três níveis horizontais: “desenvolver a nova camada de conectividade que tirasse partido dos standard 5G, ajustar os devices a estes novos layers de conectividade e desenvolver uma plataforma integradora que fosse capaz de reunir e trabalhar os dados gerados pelos dispositivos”.
A partir daqui, era preciso dar um passo em frente, aplicando a teoria a contextos específicos, de forma a validar e demonstrar as diferentes soluções e, para isso, foram desenvolvidos dois casos de uso. Um deles está associado à área da mobilidade e baseia-se na criação de um CPS (Cyber-physical system) para ser utilizado em duas redes integradas urbanas. É o caso de uma solução desenvolvida em conjunto pelo CEiiA e pela Wayze (marca de mobilidade partilhada), que instalou um conjunto de sensores em scooters e bicicletas eléctricas, capazes de medir em tempo real a fluidez do tráfego, a qualidade do ar ou o ruído. Estes dados, depois de armazenados e processados numa plataforma com recurso a algoritmos inovadores podem ser úteis, por exemplo, em estratégias de recompensa de municípios ou em sistemas de gamification. Aliás, esta tecnologia já foi associada à plataforma AYR, do CEiiA, que calcula as emissões de CO2 evitadas e recompensa os utilizadores através de uma troca por serviços ou produtos sustentáveis.
O outro projecto na área da mobilidade envolveu a empresa Beyond Vision e também consiste na aplicação de sensores, mas desta vez em drones de transporte de encomendas. Com estes dispositivos, além de se rastrear cada percurso, também é possível medir parâmetros relacionados com a qualidade acústica, participar em sistemas de cartografia ou contribuir para a protecção contra incêndios.
No âmbito da energia, foram desenvolvidas novas funcionalidades e características de monitorização, através de três projectos-piloto dedicados “à melhoria de gestão do risco e identificação antecipada de sintomas com capacidade de evoluir para falhas”. O primeiro, que contou com o contributo da Portgás, também utiliza o fornecimento e tratamento de dados para várias finalidades, como monitorizar eventuais acessos não autorizados à rede de fornecimento de gás natural, medir a concentração de metano e detectar fugas ou saber se há inundações num determinado posto. “Toda esta informação é agregada por diversos dispositivos, que estão quase sempre a dormir e só acordam de vez em quando, e que apresentam uma grande vantagem: como têm um baixo consumo, conseguem monitorizar inúmeras variáveis durante imenso tempo, sem necessidade de intervenção humana”, explica Jorge Cabral.
Outro projecto-piloto, desta vez com o contributo da REN, está relacionado com as torres de transmissão de energia de muito alta tensão, permitindo medir a aceleração (vibração da torre) e eventuais problemas estruturais, mas também dados que possam ser úteis para a prevenção de incêndios, como a temperatura, a humidade ou os gases na atmosfera. A mesma empresa participou num terceiro projecto, para monitorização de juntas de cabos subterrâneos, que analisa variáveis como a temperatura, a humidade ou a luminosidade (útil para saber se alguém a abriu a tampa de acesso).
Durante a sessão de apresentação dos resultados do Link4S, realizada nas instalações do CEiiA, André Matos, CEO do DTx – Digital Transformation CoLAB, sublinhou a importância destes casos de uso que “através da investigação colaborativa entre a academia e os parceiros empresarias que integram o consórcio, permitiram o contributo do DTx CoLAB na criação de soluções inovadoras (sistemas ciberfísicos) e a catalisação do conhecimento científico em valor para as empresas e para a sociedade.”
Com o mercado no horizonte
Depois de desenvolvidas, demonstradas e validadas, poderão as diversas soluções do Link4S chegar ao mercado? Pedro Machado acredita que isso é possível e adianta que já se está a trabalhar nesse sentido: “Conseguimos desenvolver soluções robustas para colocar no mercado, mas do ponto de vista de maturidade ainda não estão a esse nível, por isso agora é preciso fazer todo o processo de industrialização para ganhar se ganhar escala. E é esse o trabalho que estamos a fazer. Esperamos que muito em breve, e seguramente no próximo ano, isso já possa acontecer”.
O projecto Link4S envolveu um investimento de 8,9 milhões de euros e contou com o apoio da Agência Nacional de Inovação (ANI) através do I&D Empresarial – Projetos Mobilizadores, cofinanciado pelo COMPETE2020, Lisboa2020, PORTUGAL2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).