Até ao final de 2023 todo o concelho de Cascais estará abrangido pela recolha de biorresíduos, ano em que deverão ser recolhidas mais de 2400 toneladas de restos de comida em sacos ópticos. A informação foi avançada durante a conferência “O Peso dos Biorresíduos”, realizada no Mercado da Vila na passada quinta-feira, onde foram apresentados os resultados preliminares da recolha de biorresíduos nestes sacos verdes.
Durante o evento, a Cascais Ambiente, empresa municipal responsável pela gestão de resíduos, informou que este sistema já chega a metade do concelho, abrangendo um total de 30 mil famílias. Até ao momento, foram recolhidas para reciclagem 511 toneladas de restos de comida, cerca de 22% do potencial de recolha, mas os números deverão aumentar significativamente (até às 2408 toneladas) graças a uma perspectiva de crescimento médio de 17 mil pessoas por mês. Para 2024, a autarquia espera chegar às 4332 toneladas de restos de comida que deixem de ir para aterro.
A estes dados, o presidente do Conselho de Administração da empresa, Luís Almeida Capão, junta outros números que a autarquia considera “muito positivos”, no sentido de responder à Directiva dos Resíduos da União Europeia. Esta impõe a obrigatoriedade da recolha selectiva de biorresíduos ou a sua separação e reciclagem na origem, a partir de 1 de Janeiro de 2024. “Cascais vai cumprir. Para já estamos a meio caminho e em exactamente 50% do concelho, com níveis de captação de bioressíduos bastante bons, uma adesão na ordem dos 92/93% e um nível de contaminação muito baixo, cerca de 6%”, disse o responsável da Cascais Ambiente à Smart Cities, no final da sessão.
Para alcançar as metas e os objectivos traçados, a autarquia conta com a capacidade de resposta da Tratolixo. No mesmo evento, o presidente da empresa intermunicipal de Cascais, Sintra, Oeiras e Mafra, responsável pela recepção e transformação dos biorresíduos, comprometeu-se a “aumentar capacidade de tratamento e a eficiência dos processos, a partir de Julho, data em que esperamos concluir a central de triagem óptica, que está em fase final, e entrar em fase de testes.”
Para a vereadora com o pelouro do ambiente na câmara municipal de Cascais, Joana Balsemão, esta solução permitiu inúmeros ganhos financeiros e ambientais porque “ao não termos mais contentores na rua, também não precisamos de mais camiões em circulação, mais emissões, mais gastos de combustível e mais despesas em água para lavar os contentores”. “Aliando tecnologia, humanização e boa vontade de todos, temos um projecto que é extremamente inovador e que deixa Cascais na charneira”, acrescentou Joana Balsemão à Smart Cities.
A responsável da autarquia sublinhou ainda a importância da sensibilização porta-a-porta e lembrou que tudo começa de forma simples, com a entrega aos munícipes de um contentor de 7 litros e de um rolo de sacos verdes, onde devem ser colocados os restos de comida e outros bioressíduos. Depois de fechados, estes sacos são colocados no mesmo contentor do lixo comum e levados pelos camiões da Cascais Ambiente (juntamente com os sacos do lixo indiferenciado) para a central de triagem e tratamento da Tratolixo. É lá que um separador óptico distingue os sacos com restos de comida dos restantes, garantindo que, no final, os biorresíduos são usados para a produção de energia e fertilizantes.
Também presente no evento, o secretário de Estado do Ambiente, Hugo Polido Pires afirmou que Cascais é um exemplo para outros municípios: “vão a Cascais e percebam o que eles estão a fazer”, afirmou o governante na intervenção final, sublinhando que o concelho “tem estado à frente e liderado este processo”. Ainda assim, revelou estar “muito preocupado” com os actuais dados a nível nacional, defendendo a necessidade de “acelerar esse processo”.
Depois dos biorresíduos, uma solução “disruptiva” para os óleos alimentares
A recolha de biorresíduos no concelho de Cascais começou em 2018 com um projecto-piloto em Carcavelos, “à prova de crise”, como disse Luis Almeida Capão, e que na altura “foi muito questionado por todo o sector”, nomeadamente em relação a possíveis contaminações do produto final (composto). Mas os resultados revelaram-se positivos e, por exemplo, essa zona aumentou significativamente a taxa de reciclagem (incluindo papel, plástico, vidro e biorresíduos), que passou de 12 para 40%.
A autarquia decidiu avançar, entretanto, para a expansão do sistema em todo o território, o que deverá acontecer até ao final do ano. Nesta altura, as equipas estão a completar os circuitos do Estoril, e depois seguem para Alcabideche.
Depois dos biorresíduos, o desafio do município passa agora por encontrar soluções (em alguns casos até poderão ser semelhantes a esta) para outros fluxos. Luís Almeida Capão revelou à Smart Cities que “Cascais está a preparar uma iniciativa altamente inovadora, disruptiva, que eu saiba nunca vista até ao momento na União Europeia, de olharmos para o problema dos óleos alimentares usados”. O objectivo é arranjar uma forma que facilite a devolução destes óleos e que, simultaneamente, possibilite o aproveitamento para biorresíduos ou biodiesel”.
A abordagem aos têxteis é outros dos desafios mais imediatos. De acordo com o responsável da Cascais Ambiente, a vila “já está a preparar uma co-colecção de resíduos têxteis, envolvendo todos os actores que fazem parte, mas acabando de uma vez por todas com a poluição visual, num concelho onde o design urbano é crítico na promoção da qualidade de vida”.