Como podem as tecnologias do Espaço ajudar a resolver os problemas da Terra? É a partir desta inquietação metódica que 23 jovens do ensino secundário e superior começam, esta segunda-feira, o programa de desenvolvimento de futuros líderes tecnológicos do CEiiA, o Sustainable Living.

Durante o próximo mês, os participantes do Sustainable Living Innovators (SLI) serão desafiados por docentes, investigadores e profissionais de várias áreas a refletir e a construir novas ideias para a sustentabilidade e qualidade de vida do planeta. Em paralelo, responsáveis de diferentes áreas do CEiiA vão recolher sinais que permitam interpretar comportamentos destas novas gerações e possam contribuir quer para a definição de perfis de futuros utilizadores, quer para a identificação de jovens de elevado potencial, suscetíveis de serem acompanhados pelo CEiiA ao longo da sua carreira académica e profissional.

“Um dos objetivos do SLI é acompanhar de perto as próximas gerações para poder receber ‘insights’ daqueles que serão os futuros ‘users’ dos nossos produtos e serviços. Além disso, serão o futuro talento que integrará as nossas equipas”, explica Sónia Nunes, coordenadora da 4ª edição do SLI, à “Smart Cities”. “Temos também como objetivo treinar as nossas equipas para a cocriação. Temos de ser capazes de construir com as gerações mais jovens, indo ao encontro de um dos objetivos do CEiiA: o de se abrir à comunidade, a pessoas diferentes e à diversidade”, acrescenta.

O programa tem como ambição maior garantir a continuidade dos conceitos e dos produtos saídos do SLI, numa lógica de projeto de aceleração de negócio. “O CEiiA assume uma dupla perspetiva: o de parceiro que apoia no desenvolvimento do produto e o de mentor de uma baby start-up”, sublinha Sónia Nunes. “Nesse sentido, o SLI não se esgota num programa de desenvolvimento de um mês. Havendo potencial nos conceitos, e se reconhecermos perfis para empreender, acionamos o programa de aceleração de uma equipa capaz de potenciar um novo negócio”, garante.

Matheus Costa está a desenvolver o protótipo do projeto que desenvolveu no SLI do ano passado.

Matheus Costa tem 21 anos e foi um dos “innovators” de 2023. Chegou ao SLI movido pelo sonho de miúdo de trabalhar com braços robóticos, o mesmo objetivo que o levou ao curso de Engenharia Eletrónica na Universidade do Minho (UM). “O meu foco sempre foi a robótica. Desde pequeno que quero fazer robôs”, conta o carioca, a viver em Braga há seis anos. O sonho prolongou-se para lá do SLI e Matheus encontra-se atualmente a desenvolver, no CEiiA, em Matosinhos, o protótipo de um dispositivo para quantificar a captura de carbono que idealizou durante o programa e que apresentará em breve, na Web Summit.

Da experiência do SLI, o aluno do UM sublinha a riqueza do contacto com colegas de outras áreas. “Tivemos de encontrar formas de comunicar uns com os outros e isso foi muito interessante”, explica Matheus.

“O feedback que recebemos é de que é um programa marcante e transformador”, partilha Sónia Nunes, que explica a abordagem holística do SLI. “São trabalhadas competências ‘hard’ (técnicas e tecnológicas) e ‘soft” (humanas, sociais e culturais), tendo em vista a sua aplicação no desenvolvimento de soluções para resolver problemas reais”, explica.

Os alunos do ensino secundário trabalharão durante as próximas duas semanas para apresentar conceitos de produtos e serviços capazes de, a partir do Espaço, resolver problemas da Terra. Os estudantes do Superior trabalharão durante mais duas semanas, durante as quais desenvolverão os protótipos dos conceitos saídos da primeira fase do SLI.

Um mês de aprendizagem acelerada

As sessões e experiências do SLI estão organizadas à volta de quatro eixos, o primeiro dos quais começa a ser desbravado, segunda-feira à tarde, pelo saber do antigo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor.  Na sessão inaugural do eixo “New space: desafios e oportunidades”, o professor catedrático do Instituto Superior Técnico sintetiza o conhecimento construído em relação ao Espaço para desafiar os jovens a pensar sobre os principais desafios que há hoje para responder e desvenda conhecimento atual que pode ter impacto no planeta e na vida das pessoas.
A “Democratização do Espaço” é o tópico a partir do qual Ricardo Conde, da Portugal Space, prossegue a formação dos “innovators” em matérias espaciais, na terça-feira. O diretor/presidente da Agência Espacial Portuguesa explora os desafios e as oportunidades do “New Space”, numa perspetiva de negócio e partilha da estratégia de Portugal em relação ao Espaço.~

Ainda na terça-feira, a “Regulamentação e Governação do Espaço” é o ponto de partida para o módulo a cargo de Magda Cocco, sócia responsável pelas áreas de Comunicações, Proteção de Dados & Tecnologia e Digital Frontiers e pelo setor Aeroespacial da sociedade de advogados VdA. A forma como o Espaço está a ser governado e os desafios dessa regulamentação são os ensinamentos desta sessão.
Explorar a cadeia de valor de fornecedores, integradores, operadores e utilizadores das tecnologias do espaço é o objetivo da quarta sessão do eixo “New space: desafios e oportunidades”, agendada para quarta-feira.

Treinador Villas-Boas dá aula sobre liderança

As sessões de Metodologias de Desenvolvimento compõem o segundo eixo temático do programa SLI. Com estas ações, os estudantes aprenderão a trabalhar metodologias de investigação e exploração para desenvolver um projeto, trabalhar em equipa e chegar a novos conceitos. No módulo da manhã de terça-feira, a cargo de Sónia Nunes, testam-se dinâmicas de grupo que facilitem o diálogo e criem relações de proximidade. Uma semana depois, dia 25, o programa foca-se no trabalho em equipa, a partir das reflexões sobre as boas práticas que influenciam o desempenho das equipas.
Joana Mendonça, docente do Instituto Superior Técnico, trabalha na primeira sessão da tarde de quinta-feira as principais etapas e técnicas do Future Design, a partir do Design Thinking, desde o processo de ideação à construção do protótipo demonstrador.

Sónia Nunes e Mariana Pinto, do CEiiA, dinamizam o módulo “Comunicar com Impacto”, sexta-feira, 28, no qual trabalharão a estruturação de ideias e o treino da comunicação em público.
Segunda-feira, dia 31, decorrem as duas últimas sessões deste eixo, estas destinadas apenas aos alunos universitários. Às 9.30, Nelson Ruivo, do CEiiA, dará uma palestra sobre a gestão de projetos. André Villas-Boas termina o ciclo com a sessão “Liderar equipas de elevada performance”, a partir das 11.15. O antigo treinador do F.C. Porto fará uma reflexão sobre os principais desafios na gestão de pessoas e partilhará boas práticas sobre como potenciar o desempenho individual para fazer a prestação do coletivo extraordinária.

Engenharia e produto

O terceiro eixo organizador da formação dos Innovators desenvolve-se em torno dos assuntos de “Engenharia e desenvolvimento de produto”. Neste separador cabem noções teóricas e práticas sobre as áreas científicas e tecnológicas envolvidas no desenvolvimento de produto para o Espaço. Como se desenvolve um satélite e um lançador e para que servem são alguns ensinamentos das sessões sobre o projeto Aeros (dia 18, pelas 14.15 horas), a cargo de Rui Magalhães, do CEiiA, e do lançador RFA (dia 19, pelas 11.15), por Pedro Meireles, do CEiiA. Como surgiram e o que são a Constelação do Atlântico (dia 21, pelas 9.30), a cargo de André Oliveira, do CEiiA, e o Rocket Challenge, da Portugal Space (dia 24, pelas 16 horas), do IST, fazem parte do alinhamento.

No módulo do “Desenvolvimento de Estruturas para o Espaço”, Miguel Fernandes e Joaquim Rocha, do CEiiA, procurarão dar uma visão do processo de definição de estruturas espaciais, desde o desenho conceptual, passando pela validação através de análises estruturais, até alcançar a maturidade de desenho detalhado, altura em que se avança com a produção dos componentes (dia 1, a partir da 9.30 horas).
No que diz respeito a Materiais e Estruturas, António Pontes, docente da Universidade do Minho, coloca à discussão os desafios inerentes às decisões tomadas a partir de casos (dia 2, 9.30 horas).
O módulo “Inteligência Artificial e Big Data no Espaço” está dividido em duas sessões. A primeira, explora e demostra a aplicação de conceitos nucleares através de casos reais (na manhã de dia 25); e na segunda, vai acompanhar os trabalhos dos jovens, na tarde de dia 2. As sessões são dinamizadas por Nuno Catarino, do CEiiA.

A utilização de Sistemas Embebidos, por Jorge Cabral, da Universidade do Minho e do CEiiA, e Vítor Silva, também docente do Minho (dia 27, a partir das 9.30), e Práticas de Laboratório com Kitsat, por Sofia Paiva, da Universidade do Minho (na manhã de dia 4) também enriquecem o programa.

Negócios do Espaço

A quarta linha de formação pensada para os “Innovators” está ligada à Aplicação de Tecnologia Espacial, do ponto de vista do negócio na resolução de problemas do planeta e na resposta a necessidades das pessoas. As técnicas de observação da Terra para análise da informação geoespacial a partir de sensores espaciais, diversas aplicações ligadas à agricultura e à gestão florestal, do mapeamento de carbono e biomassa, à monitorização do oceano e zonas costeiras, à fiscalização de infraestruturas críticas e energéticas são algumas das tecnologias que Nelson Pires, do CEiiA, vai partilhar com a assistência. Um encontro marcado para quarta-feira, dia 19, a partir das 9.30 horas.
O Marketing de novos produtos e serviços, oportunidade criada pela entrada dos privados no Espaço, é o tema desenvolvido por Manuel Eanes, administrador da NOS, sexta-feira, dia 21, pelas 16 horas.

Miguel Pina e Cunha, professor catedrático da Nova SBE, e Emir Sirage, do CEiiA, apresentam numa sessão dupla o estudo de caso da empresa New Space demonstrativo da forma como se desenha um modelo de negócio, aplicado espaço (sexta-feira, 21, pelas 11.15 horas e pelas 14.15).

O módulo “Conetividade IoT via satélite” (dia 25, pelas 16 horas), da responsabilidade de Tiago Rebelo, da Connected, falará sobre como o Espaço pode contribuir para novas tecnologias e funcionalidades associadas às comunicações e qual o impacto que pode ter na forma como as pessoas interagem e vivem no planeta.

Fotografias: © CEiiA