Após três dias de exposição e conferências, terminou ontem mais uma edição do Portugal Smart Cities Summit. O principal evento nacional na área das cidades inteligentes decorreu de 11 a 13 de Outubro, em Lisboa, mostrando um sector em franco crescimento que quer colocar o país na linha da frente da transformação digital.

O Pavilhão 4 da FIL, no Parque das Nações, foi, durante três dias, o ponto de encontro dos agentes do sector das cidades inteligentes nacional. Face às edições anteriores, a presença das empresas fez-se sentir, este ano, com mais força, correspondendo às expectativas da organização relativamente a tornar o evento no “marketplace por excelência” deste sector. Não obstante, são os municípios “os grandes catalisadores das cidades inteligentes”, admitiu o presidente da AIP, Jorge Rocha de Matos,  na sessão de abertura, na terça-feira, na qual participaram também Pedro Folgado, em representação da ANMP – Associação Nacional dos Municípios Portugueses, e Ângelo Pereira, vereador da câmara municipal de Lisboa. “Alavancar progresso para o país, e para as regiões em particular, dar dinamismo às cidades” e, assim, “engrandecer Portugal e fazer [a nossa] economia uma referência no quadro europeu” são, nas palavras do Comendador, os objectivos derradeiros do certame.

Apesar da incerteza do momento actual, o tempo “é de agir” e de “escalar” as soluções e os projectos tecnológicos, lembrou, por sua vez, o presidente do conselho estratégico do Portugal Smart Cities Summit, Manuel Ramalho Eanes. O também administrador executivo da NOS sublinhou que, sem a tecnologia, não será possível alcançar os objectivos de sustentabilidade a que nos propusemos, e destacou o contributo do 5G para a inteligência urbana. “A era 5G é a era das cidades inteligentes (…) é a tecnologia que fará as cidades funcionarem para cumprir as metas”, afirmou.

Sobre a aguardada Estratégia Nacional de Smart Cities, Mário Campolargo, secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, que participou no evento através de uma mensagem gravada, adiantou que esta estava a ser “consolidada”, reforçando o foco nas “pessoas” e a vontade de que a estratégia contribua para a tomada de decisão informada e para uma gestão inteligente dos recursos. A publicação do documento estratégico, cuja consulta pública chegou a ser apontada para os meses de Abril e Maio passados, continua, porém, sem data anunciada.

“Estamos num trabalho conjunto a consolidar uma estratégia nacional, construída a partir do processo de co-criação que envolve, e tem de envolver sempre, centenas de municípios, dezenas de empresas e entidades (…). Esta estratégia será um referencial para concretizar uma visão definida para 2030 e que tem como metas promover a partilha de boas práticas, apoiar a implementação local de territórios inteligentes, efectuar um planeamento integrado que permita captar sinergias entre iniciativas e optimizar também a despesa pública, adoptar princípios comuns e um quadro de interoperabilidade”, declarou Mário Campolargo. Nas palavras ao sector, o governante manifestou a vontade de que os diversos projectos existentes pelo país “comuniquem entre si, partilhem recursos, ganhem escala e projectem Portugal como uma nação inteligente”.

Municípios, “principais agentes da mudança”

Falando à audiência, também através de uma mensagem gravada na sessão inaugural, Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, fez questão de destacar a importância do conceito de “cidade inteligente” para a coesão territorial e lembrou que o próximo ciclo de fundos europeus, para a esfera municipal, vai prestar especial atenção a temas como a mobilidade urbana sustentável, a Agenda Verde e o Novo Bauhaus Europeu, esperando-se “muita exigência” nos projectos, que terão de assegurar a sustentabilidade ambiental. “As autarquias vão ser os principais agentes de mudanças, mas não só”, afirmou.

Dando forma às palavras da ministra, foram vários os municípios que quiseram mostrar ao país como estão a promover esta mudança. Além de anfitriã, Lisboa é já presença assídua no Portugal Smart Cities Summit. Ao longo dos três dias, o stand da maior cidade do país foi palco de vários painéis de debate, nos quais partilhou também o trabalho feito pelo município, por exemplo, com o LX Data Lab – Laboratório de Dados Urbanos ou com a rede de sensores ambientais.

À semelhança da capital, as presenças de Coimbra, Seixal e Loures no certame não passaram despercebidas. O ecossistema de inovação coimbrense foi o principal destaque do espaço deste município, com uma mostra das soluções tecnológicas que resultaram da competição “Future City”. Loures fez questão de partilhar as suas recentes apostas na circularidade do ciclo urbano da água, na mobilidade e no desenvolvimento do tecido empresarial local, enquanto o município do Seixal aproveitou o trabalho feito em anos anteriores ao nível da sustentabilidade para dar, desta vez, destaque aos projectos de participação cidadã e de recolha selectiva de biorresíduos, que antecipa a obrigatoriedade prevista para 2024.

Para quem visitou a feira por estes dias, o primeiro impacto foi ainda marcado pela presença destacada da Região Autónoma da Madeira. Neste stand, foi possível conhecer algumas das empresas regionais que desenvolvem soluções inovadoras para ambiente urbano, assim como as iniciativas que decorrem nos municípios de Funchal (videovigilância e digitalização) e Porto Santo (produção de hidrogénio através de resíduos).

Como estreante esteve a cidade da Amadora, cuja presença na exposição assentou em três pilares – Cidade Digital, Videoprotecção e Mobilidade. Para dar continuidade à partilha do trabalho desenvolvido em matéria de inteligência territorial, além da presença no certame, o município conta agora com um sítio on-line no qual é possível conhecer, entre outros, os projectos do Bairro Comercial Amadora.com e das passadeiras inteligentes, e ainda compreender o impacto das soluções de videovigilância no reforço da segurança, da protecção e do apoio aos munícipes.

No espaço de Torres Vedras, foram os projectos de mobilidade sustentável, como a rede de ciclovias urbanas ou os sistemas de controlo de tráfego e informação em tempo real, que mereceram destaque. Mesmo ao lado, a Figueira da Foz apresentou-se com um projecto smart city  que arrancou em 2020, focado na iluminação pública inteligente e na sensorização da cidade, que, embora não esteja ainda concluído, tem já provas dadas e representa poupanças na ordem dos 2,7 milhões de euros.

Uma ovelha “sensorizada” e uma bicicleta feita de bambu levantavam a curiosidade para o stand do Fundão, que ocupou uma posição central do Pavilhão 4. A presença do município reforçou o convite que tem sido lançado pela autarquia “MoveToFundão”, numa aposta clara na atracção de pessoas e empresas para este território, que não deixa que a interioridade seja um entrave à inovação.

Com preocupações diferentes, mas nem por isso menos desafiantes, Vila Nova de Gaia marcou a presença na feira através da empresa municipal Gaiurb. Envolvida em inúmeras iniciativas que tentam dar resposta à recente transformação desta cidade do Grande Porto, a entidade está agora a iniciar os trabalhos no âmbito de um projecto europeu com vista ao desenvolvimento de um mecanismo para a digitalização do processo de licenciamento urbanístico. Change toolkit for digital building permit – CHEK é o nome da iniciativa que arrancou este mês, juntando  19 parceiros (incluindo Vila Nova de Gaia e Lisboa) e que conta com o apoio do programa Horizonte Europa.

Esta foi a sexta edição do Portugal Smart Cities Summit, que decorreu entre os dias 11 e 13 de Outubro. O evento, organizado pela Fundação AIP,  “reúne a pluralidade de stakeholders deste sector, como autarcas, técnicos municipais, administradores, empresários, engenheiros, arquitectos, investidores, empreendedores, professores, investigadores e estudantes, o que se traduz numa oportunidade única para todos os que pretendem ter um papel predominante nas soluções das cidades inteligentes”, explicou em entrevista à Smart Cities Elisabete Martins, gestora do evento.

 

 

Saiba mais sobre o evento na cobertura alargada na edição de Outubro/Novembro/Dezembro de 2022 da Smart Cities.