Com trilhos desafiantes, estradas vertiginosas e uma cultura bike-friendly enraizada, há muito que as Aldeias do Xisto são um destino de eleição para os amantes de bicicletas. Mas, agora, há mais uma boa razão para outros visitantes conhecerem este território sobre duas rodas: chama-se Xisto, é uma e-bike criada de propósito para a região e promete dar mais andamento a quem só precisa de uma pequena ajuda para partir à descoberta.

Duas rodas, um volante, um selim e um motor incorporado para ajudar a vencer as muitas subidas de um território eminentemente montanhoso. À primeira vista, a Xisto poderia ser uma bicicleta elétrica como tantas outras, mas, na realidade, é muito mais do que isso. Desde logo pelo design exclusivo, criado por alunos da Universidade de Aveiro, ou pelos alforges traseiros que permitem guardar os mais diversos objetos, mas sobretudo pelo caráter diferenciador e pela mensagem que ajuda a transmitir.

Além de tornar a região acessível a mais visitantes e incentivar os modos suaves de utilização, esta bicicleta coloca-se também ao serviço do desenvolvimento do território, ajudando a combater o despovoamento e a interioridade, ao mesmo tempo que promove a sustentabilidade e a experimentação. “Com iniciativas como esta queremos que as pessoas se fixem aqui e possam usufruir do território, fazendo das aldeias células fundamentais para a vitalidade da região. Além disso, este é um território que só se pode afirmar se tiver uma lógica experimentadora e de inovação, e isso implica uma abertura ao mundo e aos sistemas técnico, científico e artístico”, diz Bruno Ramos, coordenador da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.

Neste “triângulo virtuoso de território, universidade e indústria”, fazem ainda parte as empresas Mind Over Body e A Produtora, responsáveis pela produção da Xisto. O protótipo, financiados por fundos europeus, já pode ser visto na aldeia de Ferraria de São João, concelho de Penela, uma vez que está à guarda do Vale do Ninho Nature Houses, o primeiro alojamento em Portugal certificado com o selo Bike Hotel.

Até ao final deste ano ou início do próximo, deverão chegar mais quatro bicicletas à região, distribuídas por outras tantas zonas territoriais das Aldeias do Xisto – Serra da Lousã; Serra do Açor; Zêzere; e Tejo/Ocreza – e que darão origem a diversos circuitos e programas turísticos, a serem disponibilizados na plataforma Book in Xisto. Estas mantêm o espírito do protótipo, mas apresentam várias adaptações que as tornam mais modernas: “o processo da Xisto já conta com cinco anos e nesse período muita coisa mudou no mundo e na indústria das bicicletas, por isso as próximas Xisto terão diversas atualizações em termos de materiais, equipamentos e tecnologia, já com soluções muito mais recentes.”

Além dos turistas e visitantes, também os moradores das aldeias poderão experimentar e utilizar a Xisto, assim que estiver disponível? “Claro, o envolvimento da comunidade é fundamental”, garante Bruno Ramos, acrescentando que “a importância deste projeto vai além do objeto em si, até porque, paralelamente, está a ser feito um levantamento junto de parceiros e da própria comunidade no sentido de se perceber como podemos adaptar esta utilização”. A ideia é que o estudo possa contribuir, no futuro, para um plano de mobilidade do território que incluirá vários tipos de transporte, com a bicicleta a ter um papel central.

SUSTENTABILIDADE E COESÃO EM DUAS RODAS

A e-bike Xisto está integrada num projeto mais abrangente, o Cyclin’ Aldeias do Xisto, lançado em 2017 pela ADXTUR, pela Federação Portuguesa de Ciclismo, pelo Turismo Centro de Portugal e pela Secretaria de Estado do Turismo com o propósito de fomentar o desenvolvimento do território através da utilização da bicicleta. Esta estratégia ajudou a instalar os primeiros Centros Cyclin’ Portugal, que são um conjunto de infraestruturas permanentes e apetrechadas com espaços essenciais aos ciclistas, como estacionamento, balneários ou estações de serviço.

A eles juntam-se também a organização de diversos eventos de animação e desportivos, como a Clássica Aldeias do Xisto, a única prova de ciclismo a nível nacional que começa e termina numa aldeia. A edição deste ano, por exemplo, ligou Mosteiro, no concelho de Pedrógão Grande, a Aigra Nova, em Góis.

Em redor das 27 aldeias que compõem a rede há dezenas de percursos, com diferentes níveis de dificuldade, bem como 14 bike hotéis, também eles com equipamentos e serviços especializados, como refeições adequadas a ciclistas, pequenas oficinas ou locais para guardar as bicicletas e secar as roupas. Ao aliar-se o turismo ao ciclismo, procurou-se, assim, criar um destino rural ativo de referência no país, “em que a bicicleta é uma ferramenta de atração de atividade económica, promoção da sustentabilidade e coesão territorial, mas também uma resposta aos novos modelos de transporte às mais recentes procuras turísticas”, explica Bruno Ramos.

Fotografia de destaque: © ADXTUR

 

Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 41 da Smart Cities – Outubro/Novembro/Dezembro 2023, aqui com as devidas adaptações.