Em época de balanços e resoluções para o futuro, diversas organizações ambientalistas portuguesas escolheram o que melhor e pior aconteceu em 2024, ao mesmo tempo que apresentaram as perspetivas para 2025. Conheça as escolhas da Zero, da ANP|WWF e da Quercus.
Zero
Lembrando que 2024 ficou marcado pelo aumento dos conflitos mundiais e pelas eleições norte-americanas, “cujas repercussões se começarão a sentir no início de 2025”, a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável selecionou os cinco factos mais positivos e negativos do ano. Entre os primeiros surge, desde logo, a expansão da Rede de Áreas Marinhas Protegidas nos Açores, por ser “um ótimo exemplo na promoção da biodiversidade e em linha com os compromissos internacionais assumidos por Portugal no âmbito da Convenção da Biodiversidade”. Neste grupo constam ainda o aumento dos valores de contrapartida em matéria de recolha seletiva de embalagens, bem como as metas mais ambiciosas para as energias renováveis, definidas pelo Plano Nacional Energia e Clima. Em comunicado, a associação ambientalista saúda, igualmente, a aprovação da Lei do Restauro da Natureza, definida pela União Europeia, e a nomeação do Comissário Europeu para a Justiça Intergeracional, Juventude, Cultura e Desporto.
Já entre os factos mais negativos é destacada a alteração ao regime de reclassificação do solo rústico em urbano, que “dificilmente dará bom resultado”, bem como o facto de 2024 ter sido o ano mais quente de que há registo e o primeiro acima de 1,5 °C. A Zero denuncia, igualmente, “a insistência na construção injustificada de barragens e ausência de caudais ecológicos nos rios transfronteiriços”, bem como a possibilidade de o Governo defender a incineração como solução de curto prazo. A lista “negra” fecha com as eventuais conceções de direito de prospeção mineira em áreas protegidas e classificadas.
Quanto às expetativas para 2025, a associação ambientalista começa por destacar a iniciativa “Água que Une”, que considera “uma oportunidade estratégica para abordar as lacunas na gestão hídrica em Portugal”. Já a criação da Agência para o Clima é vista com alguma apreensão, “pois não é claro de que forma as restantes áreas ambientais vão ser articuladas e integradas”. A ratificação do Tratado do Alto Mar, a disponibilização de embalagens reutilizáveis para take-away e a Estratégia Nacional para o consumo de proteína vegetal são outros temas enumerados.
ANP|WWF
Esta ONG portuguesa elegeu o melhor e o pior do ano através de uma iniciativa simbólica, os “Globos do Ambiente”, escolhidos por uma votação online com sete categorias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi eleita a “Vilã do Ano”, devido à redução no estatuto de conservação do lobo na Europa, facto que também esteve na origem do prémio “Maior Retrocesso”. Já o corte de barbatanas de tubarão teve a maioria dos votos na categoria “Maior Incoerência”, enquanto o Orçamento do Estado 2025 venceu a “Amnésia do Ano” e os incêndios e cheias que aconteceram ao longo de 2024 foram considerados o “Desastre do Ano”.
A ANP|WWP atribuiu ainda dois globos pelas melhores razões. O de “Melhor Vitória” deveu-se à reclassificação do estatuto de ameaça do lince-ibérico, que passou de “Em Perigo” para “Vulnerável” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Por fim, a iniciativa “Plantar Água” conquistou o prémio “Melhor Projeto ANP|WWF”. Como explicou à Smart Cities a diretora executiva da organização, Ângela Morgado, trata-se de um “projeto de restauro ecológico de 120 hectares no Algarve, mais concretamente na Serra do Caldeirão, que visa recuperar ecossistemas e melhorar a disponibilidade de água, ao mesmo tempo que dá origem a oportunidades de negócios locais que respeitam a natureza”.
A responsável lembrou ainda que ANP|WWP publicou um vídeo nas redes sociais com as resoluções para 2025, apresentadas pela voz de uma criança. “O primeiro é trazer de volta a vida à Natureza, por exemplo, nos discursos dos políticos. Depois desejamos também a efetiva proibição da mineração em mar profundo, a promoção da dieta sustentável, a proteção do lobo, a real conservação das áreas protegidas e a concretização da meta 30X30, que estabelece o compromisso de conservar 30% do habitat terrestre e marinho do planeta até 2030”, explicou.
Quercus
Também a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza elaborou uma lista com os factos mais marcantes de 2024. A seca no país encabeça os acontecimentos negativos, seguida dos grandes incêndios florestais que, recorda a organização, deram origem “a um dos piores anos da última década em termos de área ardida”. Incontornáveis tornaram-se também as cheias na região de Valência (Espanha), até porque “ilustram como o desequilíbrio ambiental e as mudanças climáticas podem amplificar os riscos associados ao urbanismo desordenado”. A caça à baleia da Islândia, autorizada nos próximos cinco anos, e os projetos de mineração em Portugal são os outros dois factos elencados.
Relativamente aos acontecimentos mais positivos, a Quercus destaca uma “decisão histórica”: o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, na primeira ação de litigância climática em Portugal. Para a associação, também foram positivos os chumbos de vários projetos para a construção de barragens no Parque da Peneda-Gerês, bem como o chumbo à plantação de 658 hectares de abacateiros em Alcácer do Sal. Realce ainda para a aprovação da Lei do Restauro da Natureza e para libertação do ativista Paul Watson, fundador das organizações ambientalistas Sea Shepherd e Greenpeace.
E que expetativas tem a Quercus para 2025? Em comunicado, começa foi referir a publicação de um novo regulamento sobre faixas de gestão de combustível, seguindo-se a necessidade de reprogramação do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023-2027) e a melhoria na gestão hídrica, “nomeadamente redução das perdas nos sistemas de distribuição de água e mudança de práticas agrícolas que protejam o solo.” Por sua vez, o quarto ponto defende a “salvaguarda da proteção dos valores naturais de forma equilibrada e proporcional, face a investimentos na área das energias renováveis e pressão urbanística, e operacionalização da Lei do Restauro da Natureza”. Por fim, é ainda sublinhada a necessidade de garantir a regulação dos novos OGM/NTG (Organismos Geneticamente Modificados/Novas Técnicas Genómicas).
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