Percebeu que não podia virar as costas às questões ambientais quando, na escola, o fim de um projeto ditou que o papel teria de voltar ao lixo indiferenciado. Estudou Sociologia, colaborou com o ISCTE e a Quercus. É vice-presidente da ZERO, mas as pessoas continuam a reconhecer-lhe a voz do “Minuto Verde”. 

Era nas férias do verão que Susana Fonseca se embrenhava na natureza, tanto na terra dos avós paternos, em São Pedro do Sul, como na dos avós maternos, em Arouca. “Lembro-me de não haver recolha de lixo em Arouca porque não se justificava, não havia embalagens descartáveis. As únicas embalagens que não eram usadas de forma regular eram a da lixívia e a do café. Os meus avós tinham um fumeiro com uma lareira enorme e também não queimavam lá plástico por causa do cheiro, já sabiam que iria afetar o sabor dos produtos”, recorda.

Certo dia, na escola, houve um projeto de recolha de papel e cartão. Na zona onde morava, no Seixal, Susana empenhou-se em reunir o que tinha à mão. Quando a ação terminou, o papel ficou sem lugar próprio e teria de voltar a ser colocado no lixo indiferenciado. “Tinha um problema entre mãos, não conseguia fazer isso, e foi nesse momento que me interessei mais pelas questões ambientais.”

No entanto, ainda estava muito longe da carreira que tem hoje e que aconteceu um pouco por acaso. “Quando chegou a altura de ir para a faculdade, a minha primeira opção era Psicologia, mas as específicas não me correram muito bem. E foi o meu irmão que me falou do curso de Sociologia.”

Entrou no ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), onde se doutorou, tendo depois feito um pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. A Sociologia do Ambiente é a sua área. “É um braço da Sociologia que procura perceber a relação que os seres humanos e as sociedades têm com a questão ambiental”, explica.

Colaborou vários anos com o ISCTE como investigadora e com o Observa (Observatório de Ambiente, Território e Sociedade). Fez parte do grupo de fundadores da Coopérnico (Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável) e foi voluntária da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza). Por lá, entre os inúmeros projetos que desenvolveu, tornou-se cara conhecida na televisão com o formato “Minuto Verde”, na RTP. “As pessoas reconheciam-me pela voz e às vezes abordavam-me no supermercado, onde eu ficava sempre em pânico de ter algo no carrinho que não fosse de encontro ao que defendia.”

Foi membro do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, e é atualmente vice-presidente da ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável), onde coordena igualmente a área das sociedades sustentáveis e novas formas de economia. Participou em inúmeros projetos europeus e nacionais e ao longo do tempo aprendeu a lidar com a realidade do terreno. “Na área do ambiente temos de ser resilientes porque os projetos demoram muito tempo a chegar a algum lado, quando chegam podem não ser aquilo que gostaríamos e há sempre o risco de voltar atrás. É uma luta no bom sentido, mas é uma luta constante.”


Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 44 da Smart Cities – Abril/Maio/Junho 2024.