Portugal quer estar na linha da frente da transição energética e, para isso, traçou diversas metas até ao final da década, como a redução das emissões de gases com efeito de estufa para 55% (em comparação com 2005) ou a quota de 51% de renováveis no consumo final de energia. Definidos os objetivos, é urgente escolher as melhores vias para lá chegar e o evento “Raise Talks: O Caminho para a Transição Energética” quis dar um contributo ao juntar agentes e entidades de diversos quadrantes. Organizado na passada quinta-feira pelo projeto Raise, reuniu em Lisboa especialistas, empresas, reguladores e a DECO com o objetivo de discutir e projetar as melhores estratégias para o país.

Ana Tapadinhas, diretora-geral da associação de defesa do consumidor, lançou o mote para a discussão, defendendo que Portugal está “no bom caminho” em várias frentes, como o aumento da energia renovável produzida pelo país, mas acrescentando que é fundamental apoiar e capacitar os consumidores, porque, afinal, “a transição começa nas nossas casas”. “Instalar um painel solar, substituir um sistema de aquecimento ou até adquirir um veículo elétrico implica avultados investimentos que as famílias não conseguem suportar. Por outro lado, muitos ainda não conhecem os benefícios do autoconsumo, a utilização do sistema de medição inteligente ou a melhor forma de renovar as suas casas”, lembrou a responsável.

Também Ana Apolinário, vogal da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) reiterou a importância de “tornar o consumidor no ator principal do setor energético, porque ele é fundamental”. Para que isso aconteça é preciso derrubar três obstáculos, “a falta de literacia energética, a falta de capacidade financeira e a barreira comportamental, porque também há quem possa, mas nada faça”, defende a especialista. Ainda assim, diz que já foram dados passos importantes, como a diretiva europeia que abriu a possibilidade de os consumidores também produzirem, partilharem e armazenarem energia.

Paulo Carmona, diretor-geral da Energia e Geologia defendeu, igualmente, a necessidade de estimular o surgimento de comunidades energéticas de autoconsumo, até como forma de proteger a distribuição energética “face ao enorme aumento de consumo esperado nos próximos anos”. Já Ana Fontoura Gouveia, coordenadora para a Sustentabilidade do Banco de Portugal e ex-secretária de Estado da Energia e Clima, lembrou que a Europa conseguiu mostrar ser possível ter crescimento económico ao mesmo tempo que se reduzem emissões. “O caminho da transição já está a ocorrer e responder ou não às alterações climáticas é apenas uma questão de quando o queremos fazer. Certo é que uma reposta mais tardia significará sempre mais custos para a sociedade”, alertou.

Durante o evento, Filipe Vasconcelos, administrador da S317 Consulting, defendeu em entrevista à Smart Cities que “tanto a tecnologia como o financiamento têm de dar respostas concretas ao desafio da transição energética, trazendo soluções efetivas”. Para o especialista, é fundamental que as “tecnologias acelerem e que os financiamentos Portugal 2030 sejam muito bem desenhados para responder às necessidades do mercado e não acabem desperdiçados em coisas que não fazem sentido”.

A terceira edição das Raise Talks decorreu no âmbito do projeto Raise, uma comunidade colaborativa composta pelo BCSD Portugal, pela DECO, pela RNAE e pela S317 Consulting. O consórcio tem como objetivo de promover a transição energética sustentável, identificando e procurando ultrapassar as barreiras ao investimento e incentivar soluções inovadoras na área da eficiência energética e energias renováveis.

Fotografia de destaque: © Shutterstock