As concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera atingiram o valor mais alto de sempre em 2023, diz um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). De acordo com a agência da ONU, durante o ano passado os níveis de dióxido de carbono (o que mais contribui para o aquecimento global) atingiram as 420 partes por milhão de moléculas, o que representa um aumento de 11,4% nas últimas duas décadas e de 151% relativamente à era pré-industrial (antes de 1750).

Um cenário que “condena o planeta a muitos anos de aumento das temperaturas”, alerta o documento, colocando também em risco todas as metas globais nesta matéria. “Mais um ano, mais um recorde. Isto deveria fazer soar os alarmes entre os decisores políticos. Não há dúvida de que estamos muito longe de cumprir o objetivo do Acordo de Paris Sobre o Clima, ou seja, de manter o aquecimento global bem abaixo de 2 graus em relação aos níveis pré-industriais”, sublinhou a secretária-geral da OMM, a argentina Celeste Saulo.

A última vez que a Terra registou uma concentração de dióxido de carbono comparável à atual foi entre três e cinco milhões de anos atrás, quando a temperatura estava entre 2 e 3 graus mais quente e o nível do mar era 10 a 20 centímetros mais alto que nos dias de hoje.

E o que pode estar na origem dos preocupantes números de 2023, agora revelados pelo Boletim de Gases de Efeito de Estufa? Em conferência de imprensa, a vice-secretária-geral adjunta da OMM, Ko Barrett, avançou algumas explicações: “Os incêndios florestais podem libertar mais emissões de carbono para a atmosfera, enquanto o aumento da temperatura dos oceanos pode reduzir a sua capacidade de absorção de CO2, o que pode levar a uma maior acumulação de CO2 na atmosfera e acelerar o aquecimento global”.

A estes fatores juntam-se ainda a queima de combustíveis fósseis e o fenómeno o El Niño, que alterou o padrão climático desse ano. Segundo os especialistas, quase metade das emissões de dióxido de carbono permanecem na atmosfera, enquanto o oceano absorve aproximadamente 25% e os ecossistemas terrestres cerca de 30%. Mas essas percentagens podem variar com fenómenos extremos, como os que aconteceram em 2023.

Além do CO2, que representa 66% do aumento do aquecimento global, também outros gases com responsabilidade direta passaram a estar mais presentes na atmosfera, apesar de uma redução comparativamente com 2022. É o caso do metano, que aumentou 265% em relação à era pré-industrial (em 2023 foram medidas 1.934 partes por mil milhões de metano) e do óxido nitroso, com uma subida de 125% no mesmo período (passou para 336,9 partes por mil milhões de óxido nitroso).

Quanto aos valores da concentração de gases na atmosfera em 2024, deverão ser divulgados na Conferência da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP29) que se realiza na cidade de Baku, capital do Azerbaijão, entre 11 a 22 de novembro.

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