Numa altura em que o sul da Europa atravessa mais uma onda de calor, o serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia – Joint Research Centre (JRC) – identificou um conjunto de medidas que as autoridades locais podem tomar para minimizar os riscos das ilhas de calor urbano.

O documento “Cidades da UE e calor extremo”, recentemente publicado, lembra que “as ondas de calor estão entre os efeitos mais graves das alterações climáticas e as temperaturas recorde estão a tornar-se cada vez mais frequentes e intensas”. Além disso, “quase metade das cerca de 10 mil cidades do mundo enfrentaram um aumento da exposição ao calor nas últimas quatro décadas”. Se a estas dados juntarmos o facto de as temperaturas na Europa estarem a subir duas vezes mais que a média global (de acordo com o Relatório Sobre o Estado do Clima Europeu 2023), a conclusão dos investigadores parece inevitável: “o calor extremo é cada vez mais perigoso nas cidades e nas zonas urbanas”.

Os autores do trabalho sustentam os alertas com base em vários mapas e relatórios, com destaque para um sobre a intensidade das ilhas de calor urbano em 100 cidades europeias. Entre elas estão o Porto e Lisboa, que revelam uma intensidade entre 1º C e 1,5º C, o que as coloca no terceiro nível mais preocupante (num total de quatro). Atenas, Tirana, Milão e Paris são algumas das cidades que surgem no nível mais elevado, relativo a uma intensidade superior a 2º C.

Mas porque motivo estão as nossas cidades a ficar tão quentes? O documento explica que “as áreas urbanas têm muitas características que aumentam o calor”, como as estradas ou os edifícios, que absorvem o calor de dia e o libertam à noite. Além disso, “há também uma maior densidade de pessoas e infraestruturas, como os sistemas de transporte público, que emitem calor. Isso é agravado pela baixa ventilação e pela existência de poucos espaços verdes e zonas com água, que poderiam ajudar a reduzir as temperaturas”, acrescenta.

Perante este cenário, os autores incentivam “os decisores políticos a combinar ações de mitigação e adaptação, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa e aumentando simultaneamente a resiliência a temperaturas extremas”. Ainda assim, admitem que algumas cidades já as começaram a implementar, nomeadamente no âmbito do Pacto dos Autarcas para o Clima e a Energia.

O documento elaborado pelo JRC identifica ainda seis medidas concretas que as cidades podem aplicar:

– Integrar e reforçar as infraestruturas verdes, por exemplo através de paredes e telhados verdes, mas também com o aumento do número de árvores e de áreas com vegetação, que têm uma grande capacidade de arrefecer o ar nas cidades. “De acordo com um estudo realizado em mais de 600 cidades europeias, as árvores urbanas reduzem a temperatura do ar em 0,8º C, em média”, refere o documento.

– Introduzir recursos hídricos e água corrente em áreas públicas, bem como fornecer água potável à população. Simultaneamente, é necessário tornar o uso da água mais eficiente.

– Reequipar e renovar os edifícios com isolamento e persianas, bem como utilizar materiais refletivos, como tinta branca, nas ruas e edifícios.

– Promover a agricultura urbana.

– Implementar sistemas de alerta para apoio à população durante fenómenos de calor extremo, bem como indicar a localização de abrigos e pontos de água potável.

– Seguir “exemplos inspiradores de boas práticas”, como os de Barcelona, que criou uma rede de abrigos climatizados em escolas, ou de Turim, que tem apostado em soluções baseadas na natureza (SbN).

As principais conclusões do policy brief elaborado pelo Joint Research Centre podem ser conhecidas através deste link.

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