Mais de 15 milhões de metros cúbicos de água potável perderam-se no sistema de distribuição do Algarve em 2022, o que representa quase metade da água faturada às famílias da região durante esse ano. O alerta é deixado pela DECO PROteste, depois de analisar os dados relativos às perdas de água dos 16 concelhos do distrito de Faro.

 

De acordo com a publicação da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), metade dos concelhos obteve uma “avaliação insatisfatória”, ou seja, registou perdas elevadas. O ranking dos municípios que mais desperdiça é liderado por Lagoa, com 370 litros por ramal ao dia, o que equivale a 30% de perdas reais de água por ano. Seguem-se Lagos (322 litros) e Silves (305), enquanto São Brás de Alportel surge no quarto lugar em valores absolutos, 289 litros, mas no topo em termos percentuais, já que perde 39% do total de água. Com nota negativa surgem ainda Loulé, Albufeira, Castro Marim e Vila do Bispo.

Faro e Olhão obtêm uma classificação mediana e a avaliação positiva é atribuída a cinco municípios: Portimão, Vila Real de Santo António, Alcoutim, Tavira e Aljezur. Este último é o que revela menos perdas (2,2 litros), embora Tavira ganhe em números percentuais, ao apresentar o valor mais baixo de toda a região: 9%. Monchique não faz parte da análise, uma vez que não reportou os dados à Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).

Relativamente ao estado das redes de distribuição de água, a análise identifica oito concelhos com a rede envelhecida: Aljezur, Lagoa (o único que cumpriu as regras mínimas da ERSAR nesta matéria), Lagos, Loulé, Olhão, Portimão, Tavira e Vila do Bispo. Alcoutim é o único com a rede recente e dois municípios não têm dados disponíveis (Silves e São Brás de Alportel).

A DECO PROteste atribui a responsabilidade deste cenário às entidades gestoras, “que não têm investido em reabilitação ou têm investido pouco”, lembrando que as recomendações da ERSAR apontam para a necessidade de reabilitação entre 1,5 e 4% da rede envelhecida.

Para Elsa Agante, da DECO Proteste, “a água perdida em 2022 bastaria para colmatar 49% das necessidades das famílias de uma região muito pressionada pelo turismo e que tem vivido períodos de seca prolongada, que deram origem a uma série de medidas urgentes, entretanto aligeiradas”.  A responsável pela área da sustentabilidade defende a criaçáo de tarifários autónomos para não-residentes e/ou consumos anómalos numa região com um elevado nível de segundas habitações. “Não é justo penalizar os residentes que façam um uso prudente ao longo do ano, com os aumentos de preço associados à elevada procura no verão. Na região com os consumos por contrato mais elevados do país, onde pouco chove e onde a procura dispara no verão, não se pode desperdiçar a água que não existe”, sublinha Elsa Agante.

Recorde-se que a nível nacional, os dados de 2022 revelados pela ERSAR apontam para um desperdício de 184 milhões de metros cúbicos de água, sendo que a maioria, 162 milhões, diz respeito à rede do setor em baixa (abastecimento ao consumidor final).