Reduzir o risco de isolamento e solidão dos idosos de Lisboa é o objetivo do projeto Radar, que identifica e apoia a população sénior através de uma rede comunitária e de equipas no terreno em contacto direto com os mais velhos. A Smart Cities saiu à rua com uma delas e acompanhou o trabalho de quem tem por missão falar, escutar e cuidar 

Passo a passo, porta a porta, bairro a bairro, as equipas de rua do projeto Radar calcorreiam a cidade para saber quem são, onde estão e como vivem os idosos em Lisboa. À primeira abordagem, os mediadores de proximidade são olhados com desconfiança, mas rapidamente se tornam um rosto amigo dos mais velhos, que passam a contar com eles para pedir algum tipo de apoio ou, simplesmente, conversar um pouco.  

É o caso de Graciete Marques, de 80 anos, que os convida a entrar em casa, sem qualquer tipo de receio, até porque as visitas são acompanhadas por um agente da polícia. Também por isso, começa por queixar-se da falta de segurança em São Domingos de Benfica, mas logo faz questão de elogiar “uma iniciativa tão útil como esta”, dedicada à inclusão social dos maiores de 65 anos. “Além de telefonarem e aparecerem, sempre preocupados, ainda no outro dia precisei de ajuda para atravessar a rua e lá estavam eles, muito disponíveis, conta-nos esta ex-professora que vive na rua dos Soeiros. 

Uns metros mais acima, no bairro Dona Leonor, Joaquim dos Santos também recebe os mediadores com um sorriso. Mostra-lhes que tem o contacto do Radar sempre à mão, num porta-chaves, e comenta que o sucesso do projeto deve muito aos laços de confiança que criaram com os idosos:De vez em quando ligam-nos, mas por vezes as pessoas necessitam e não pedem logo apoio. depois, ao falarem melhor e ao virem aqui, conseguem ouvir e captar o que elas precisam mesmo para tomar as devidas providências e atuar, apoiando”, diz-nos o quase octogenário. 

Falar, escutar e cuidar é, precisamente, um dos lemas deste projeto comunitário que faz parte do programa “Lisboa Cidade com Vida para todas as Idades. Liderado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, funciona em rede com outras entidades, como as juntas de freguesia, a PSP ou o Instituto de Segurança Social, e está na rua desde 2019. Atualmente conta com 12 mediadores de proximidade por toda a cidade, como Catarina Mendes, responsável por São Domingos de Benfica e Carnide. Presencialmente ou pelo telefone, já falou com centenas de idosos e conheceu muitos casos de solidão, mas sublinha que “acima de tudo, as pessoas querem continuar nas suas casas e manter a autonomia, mesmo que precisem de apoio. Por vezes precisam apenas de ajuda a mudar uma lâmpada ou um estore, tudo o que lhes permita ficar no seu domicílio com as melhores condições de vida”. Como gosta de lembrar, às vezes são coisas tão simples, mas que acabam por fazer a diferença e as pessoas ficam muito agradecidas pelo nosso trabalho. 

Além de contactarem os idosos, os mediadores também fazem a ponte com os chamados radares comunitários. No fundo, são espaços de comércio local, como farmácias, cafés ou cabeleireiros, que funcionam como os olhos e os ouvidos do bairro, informando as equipas quando um cliente habitual deixa de aparecer ou dá algum sinal que cause preocupação. Para o futuro, o objetivo é estender este papel ao resto da comunidade, seja através de voluntários ou de vizinhos de idosos. Afinal, como diz Catarina, para ajudar “qualquer pessoa pode ser um radar”.

Veja a reportagem vídeo sobre o projeto Radar.

Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 42 da Smart Cities – Janeiro/Fevereiro/Março 2024, aqui com as devidas adaptações.