Uma equipa multidisciplinar de investigadores da Universidade do Porto está a trabalhar numa solução de produção e armazenamento de hidrogénio a bordo, um importante recurso para a descarbonização do setor marítimo. O projeto, que recebeu financiamento de 1,5 milhões de euros, está já numa fase avançada de desenvolvimento e até já existem empresas interessadas na solução. 

O projeto é o concretizar de um sonho da professora e investigadora que dá voz ao conceito do GREENSHIP_E. Alexandra Rodrigues Pinto, que ironicamente escolheu os combustíveis fósseis como tema para o doutoramento, olha para as energias renováveis como a solução para a descarbonização do setor marítimo. Os combustíveis alternativos entraram a bordo do projeto de investigação, que pode vir a solucionar vários problemas de sustentabilidade do setor. “Comecei a pensar nisto há muito tempo. O primeiro projeto surgiu em 2005, sempre com o foco na sustentabilidade. A descarbonização do setor marítimo é uma das preocupações nacionais e nem tudo se resolve com o 100% elétrico. Há uma fatia muito grande de emissões na mobilidade que vêm do setor marítimo”, afirma a professora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. 

A pegada das frotas pesqueiras nacionais, que utilizam combustíveis fósseis, com motores “bastante poluentes” para a atmosfera e para os oceanos, é uma das preocupações que dá força ao projeto desenvolvido por várias equipas da Universidade do Porto e do INESC TEC. Através de duas soluções desenvolvidas para a utilização de hidrogénio – uma de hidrogénio produzido de forma limpa e outra de produção a partir de uma molécula do amoníaco – é possível utilizar este recurso energético no abastecimento de pilhas de combustível, que asseguram a propulsão elétrica da embarcação. A inovação está na capacidade de produção e de armazenamento de hidrogénio a bordo da embarcação, em reservatórios mais pequenos. “O problema é que no barco não estamos ligados à rede elétrica, daí os setores como o marítimo e a aviação, por exemplo, terem essa dificuldade na eletrificação. Estas soluções são inovadoras porque a produção não recorre à energia elétrica”, refere Alexandra Rodrigues Pinto. 

Outra das novidades está no facto da produção de hidrogénio a bordo permitir uma menor necessidade de armazenamento. “Nos barcos temos a dificuldade do hidrogénio necessitar de reservatórios pesados, que afetam a eficiência do movimento do navio, daí que a indústria esteja a tentar descobrir soluções como estas que preconizamos. Não precisamos de ter muito hidrogénio a bordo porque produzimos à medida que o barco anda.”, acrescenta a professora e investigadora.

É na fase de eletrificação da embarcação – para o abastecimento elétrico do motor e de todas as funções dentro do barco – que uma das equipas está a desenvolver um novo sistema inteligente de distribuição de energia, baseado em Inteligência Artificial. “Com o envolvimento de diferentes áreas complementares o nível de prontidão tecnológica sobe cada vez mais. Fico muito entusiasmada por termos tudo aquilo que é necessário para de facto por as embarcações a andar com estas soluções.”, refere a investigadora Alexandra Rodrigues Pinto. 

O projeto, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1,5 milhões de euros, será assegurado até final de 2027, altura em que se espera ter já um protótipo desenvolvido e apresentado às empresas. Pouco depois do arranque do  GREENSHIP_E há já várias empresas ligadas ao setor marítimo interessadas na inovação, como a empresa inglesa de transporte turístico Auriga ou as nacionais Transtejo Soflusa e Lisboat.

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