Durante anos, Portugal tentou afirmar-se como um país pioneiro na promoção da mobilidade elétrica. O investimento nesta área começa agora a mostrar resultados: a expansão da mobilidade elétrica ao nível dos automóveis ligeiros de passageiros tem tido alguma expressão em Portugal, com um aumento de 43% da venda de veículos 100% elétricos no primeiro semestre de 2016, face ao período homólogo do ano anterior.

Segundo a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA), este aumento foi ainda maior – de 103,5% – se considerarmos na amostra a comercialização de todos os veículos elétricos recarregáveis (incluindo-se não só os 100% elétricos, mas também os híbridos plug-in, os elétricos com extensão de autonomia e os elétricos de célula de combustível).

As vendas de elétricos representaram 2,68% do total de veículos ligeiros de passageiros comercializados em Portugal, em 2015, de acordo com dados fornecidos pela ACAP (Associação Automóvel de Portugal). Apesar de, aparentemente, reduzido, este número reflete um forte aumento em relação a 2014, ano em que as vendas de eléctricos representaram 2,16% do comércio total de automóveis ligeiros de passageiros.

Pese embora a redução dos incentivos fiscais à mobilidade elétrica verificada no início de 2016, é, sem dúvida, positiva esta tendência crescente, sendo um sinal de que os portugueses estão a aderir cada vez mais a esta forma de mobilidade mais limpa.

Ainda assim, o preço de venda e a autonomia dos veículos mantêm-se como obstáculos para uma maior adoção dos veículos elétricos como alternativa.

Ao nível das infraestruturas, e depois de um período de estagnação da rede MOBI.E, foi inaugurado, em Agosto deste ano, o primeiro corredor de carregamento rápido do país para veículos eléctricos, entre Lisboa e o Algarve. Os seis postos rápidos disponíveis neste corredor permitem recarregar a bateria do veículo elétrico em apenas 20 minutos (em vez das 6/8 horas dos postos de carregamento normal) e serão gratuitos até ao final do ano. Por outro lado, está prevista a instalação, ainda em 2016, de 50 postos de carregamento rápido nas principais auto-estradas nacionais.

Outros sinais positivos e que serão, porventura, mais facilmente escaláveis enquanto alternativa para a mobilidade urbana dizem respeito à introdução de autocarros e mini-autocarros elétricos nas frotas das operadoras de transportes públicos. No primeiro caso, há o exemplo de Faro e, em breve, Lisboa num projecto piloto da Carris; no caso dos mini-autocarros elétricos, não sendo uma novidade, é um facto que tem vindo a aumentar o número de cidades que os disponibilizam para pequenos circuitos nas zonas históricas (por exemplo, Coimbra, Portalegre, Viana do Castelo, Funchal, Almada, Serpa, Viseu ou Bragança).

No que diz respeito a veículos turísticos, o mercado da mobilidade elétrica já oferece soluções que, com os devidos apoios e incentivos, podem tornar-se competitivas para reduzir os impactos dos transportes nas cidades. Por exemplo, sistemas partilhados de bicicletas elétricas (como existe em Sintra); motociclos ‘tuk-tuks’ elétricos (como já se vêem em Lisboa) ou até embarcações turísticas alimentadas a painéis solares fotovoltaicos (no caso do Douro Vinhateiro ou da Ria Formosa).

Ainda assim, a mobilidade elétrica poderá e deverá ser uma das soluções para resolver os problemas de qualidade do ar e ruído nas áreas urbanas, incluindo-se aqui o incentivo à sua promoção enquanto meio de transporte individual, mas também ao nível das frotas públicas e privadas, sem esquecer o transporte ferroviário, a mais antiga e representativa forma de nos deslocarmos movidos a energia elétrica.

 

A publicação deste artigo integra-se numa parceria entre a revista Smart Cities e a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, com vista à promoção de comportamentos mais sustentáveis.