No primeiro artigo que escrevi sobre o tema das cidades e a sua relação com o ecossistema startup e sua comunidade, comecei por sugerir a importância dessa mesma comunidade como peça central da estratégia de dinamização da inovação e do empreendedorismo e a necessidade de com ela estabelecer uma relação de proximidade por parte dos governos locais (e demais instituições). Neste segundo artigo, de continuação, versarei sobre as diferenças de abordagem e eventuais obstáculos.

Os empreendedores têm uma forma de trabalhar e de se organizarem bottom-up e os governos locais obedecem a uma lógica top-down. Quando os sentamos a uma mesma mesa para trabalharem em conjunto, encontramos grandes barreiras ao entendimento.

 

“A cidade deve afirmar um posicionamento específico e coerente com as suas forças e as oportunidades que o mercado lhe proporciona”.

Os empreendedores trabalham sem recursos, estrutura ou equipa. Avançam e fazem. O Poder Local é oposto de tudo isto: hierarquias bem definidas, estrutura pesada e lenta a reagir aos novos paradigmas, uma agenda política que, raramente ou muito poucas vezes, coincide com as necessidades reais do território e da economia local.

Brad Feld, na sua obra “Startup Communities – Building na Entrepreneurial Ecosystem in Your City”, defende que deve ser criado um universo paralelo de actividade. Os governos (locais) vão continuar a fazer tudo o que acham que deve ser feito à volta da inovação, do empreendedorismo e das startups. Algumas iniciativas vão ajudar a comunidade, muitas outras serão só energia e recursos desperdiçados. Eu defendo um cenário intermédio e acredito que deve haver um esforço colectivo para que, em conjunto, se defina uma agenda comum entre todos os agentes do ecossistema de inovação e empreendedorismo.

Voltanto a Brad Feld, a comunidade startup precisa de leaders e feeders. Os leaders são os empreendedores e os feeders são todos os agentes que integram o ecossistema: universidades, governos locais, incubadoras, investidores, etc.

Existem problemas quando os feeders tentam liderar. Esse cenário, apesar de errado, é bastante comum. Muitas vezes, são os prórios governos locais a assumirem essa liderança com a criação de organizações, que concorrem directamente com as iniciativas da comunidade. Ganham em recursos, mas perdem em níveis de envolvimento da comunidade assim como em sustentabilidade e continuidade no longo prazo. Os níveis de comprometimento dos fazedores/empreendedores com o ecossistema são incomparáveis maiores e de muito mais longa duração.

Não queremos ser o próximo Silicon Valley (ou o próximo isto ou o próximo aquilo). A cidade deve afirmar um posicionamento específico e coerente com as suas forças e as oportunidades que o mercado lhe proporciona.

Reforçar a identidade do território é fundamental para tornar a cidade fácil de perceber e apetecível ao ponto de ganhar potencial de fixação e atracção de talento. O talento está nas pessoas e as pessoas de hoje (maioritariamente as gerações mais jovens – Millennials e Geração Z) valorizam outro tipo de características nas cidades. Para atrair estas gerações, as cidades têm de ser vibrantes do ponto de vista cultural, social, laboral, desportivo, etc., proporcionando uma qualidade de vida de alto nível e de acordo com as expectativas de quem pondera ali fixar-se.

#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.