A associação ambientalista Zero vê na estratégia para a gestão da água, apresentada no passado domingo em Coimbra, uma “duvidosa aposta” em mais água para agricultura intensiva, que considera ignorar os desafios climáticos, com implicações ambientais, económicas e sociais graves.

A associação alerta, em comunicado, para a necessidade de conhecer em detalhe os fundamentos desta estratégia e defende que um tema “de tão elevada importância” exige um processo de consulta pública alargado, permitindo à sociedade civil pronunciar-se e contribuir para soluções mais equilibradas e sustentáveis. 

A Zero considera que por um lado, há várias prioridades com destaque para o aumento da eficiência hídrica e promoção do uso racional da água, a redução das perdas de água nos sistemas de abastecimento público, agrícola, turística, industrial, ou a promoção da utilização de água residual tratada, “que são de louvar”. Por outro, a estratégia apresentada confirma uma duvidosa aposta no forte aumento da oferta de água para responder àquelas que têm sido as exigências do setor agrícola, favorecendo a expansão de um modelo intensivo e altamente consumidor de recursos hídricos. 

Em comunicado, a associação ambientalista fundamenta que a implementação desta estratégia implica um investimento extremamente avultado, na ordem dos 5 mil milhões de euros, “um montante que requer uma calendarização detalhada dos investimentos previstos, em particular daqueles que são considerados prioritários, bem como a identificação clara das respetivas fontes de financiamento”. 

“Um elemento fundamental a clarificar é a correção do valor da taxa de recursos hídricos pela agricultura, atualmente extremamente diminuto e inferior a 10% do total da receita, quando o uso corresponde a 70%, Sem um plano de ação bem definido, existe o risco de canalizar recursos públicos para infraestruturas de utilidade duvidosa ou que, a longo prazo, não consigam responder eficazmente aos desafios colocados por situações de seca e de escassez hídrica. A estratégia deve garantir que os investimentos são direcionados para soluções sustentáveis e adaptadas às realidades climáticas do país”, escreve a Zero num comunicado enviado às redações. 

Com quase 300 medidas a implementar até 2050, a estratégia nacional “Água que Une” prevê a construção de novas barragens, redução de perdas nos diferentes sistemas e, como último recurso, interligação entre bacias hidrográficas.

Segundo o documento enviado aos jornalistas, a estratégia prevê um aumento da eficiência, através da redução de perdas de água nos sistemas de abastecimento público, agrícola, turístico e industrial, a utilização de água residual tratada, a otimização de barragens e a construção de novas.

A estratégia prevê ainda a criação de novas infraestruturas de captação de água, unidades de dessalinização e, em último recurso, a interligação entre bacias hidrográficas, estando também integradas medidas para restaurar ecossistemas fluviais e para uma gestão integrada da água.

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