Portugal quer estar na liderança da transição energética, e está numa posição estratégica para alcançar esse objetivo e contribuir para a reindustrialização não só do país como da Europa.

Nesse caminho, é necessário alavancar o potencial do hub verde que Portugal pode ser e revitalizar a competitividade com base na transição energética. Esta é uma ambição partilhada tanto entre um CEO de uma multinacional ou um Engenheiro de Projeto, com a perceção de que 2025 será um ano marcado por uma grande incerteza. A evolução da guerra no Leste da Europa continua a influenciar significativamente os mercados energéticos europeus. Além disso, paira uma incerteza considerável sobre o impacto que a mudança de governo nos Estados Unidos poderá ter no equilíbrio geopolítico. Igualmente, o novo executivo comunitário poderá trazer novos desafios e, possivelmente, mudanças relevantes na implementação da agenda de transição energética, com particular enfoque no setor do biometano.

No entanto, há três aspetos que precisam de atenção imediata para que Portugal se mantenha competitivo neste cenário. Acelerar a captação de novas indústrias dependentes de energia verde, pois apesar dos recordes alcançados, Portugal deve redobrar os seus esforços para atrair novas indústrias que exigem fontes energéticas sustentáveis, sob risco de perder competitividade e valor acrescentando para a economia.

Outro desafio passa por resolver os entraves do licenciamento. A morosidade e a imprevisibilidade do processo de licenciamento continuam a ser um dos principais estrangulamentos do setor, comprometendo o ritmo de desenvolvimento. Além destas ações chave, é fundamentar incentivar a descarbonização do consumo empresarial e criar estímulos que permitam às empresas eletrificar os seus consumos onde for economicamente viável e utilizar gases renováveis nos setores hard to abate. Caso contrário, Portugal poderá perder importantes investimentos para países vizinhos, como Espanha, que também estão a posicionar-se como líderes no setor.

Apesar das incertezas, facto é que Portugal tem vindo a consolidar a sua posição como um exemplo de sucesso na transição energética.

Nos últimos anos, o país alcançou marcos impressionantes. Em 2024, registou um recorde histórico, com fontes renováveis a fornecerem 71% do consumo elétrico nacional. Este feito reflete o compromisso nacional com a descarbonização, bem como o impacto de avanços tecnológicos e investimentos em infraestrutura sustentável. O Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) foi revisto já pela atual governo, apontando para metas ainda mais ambiciosas. A energia solar destaca-se como um dos principais pilares da transição energética. Além disso, o hidrogénio verde tem ganho relevância estratégica: Portugal assumiu nesta versão do PNEC 2030 uma  meta de capacidade de eletrolisadores até 2030 de 3GW.

Com base nestes indicadores, o assessment que partilho com clientes e candidatos é claro: de facto, o futuro é incerto, mas Portugal tem os alicerces para continuar a liderar esta transformação com talento nacional. Trabalhar no setor das energias, nomeadamente na energia de origem renovável, não é apenas uma escolha profissional: é uma contribuição direta para um futuro mais sustentável. Cada projeto desenvolvido (independentemente da dimensão), cada solução implementada, tem o potencial de reduzir as emissões de carbono e de transformar o modo como a sociedade consome energia e se desenvolve a economia. Para muitos profissionais, essa é uma motivação que vai além do salário, criando uma ligação profunda com o impacto do seu trabalho.

Não permitamos que a incerteza e fatores externos definam o nosso futuro, o caminho para cumprir os objetivos climáticos e energéticos apresenta desafios, mas também oferece oportunidades para trabalhar em soluções e estratégias com impacto para toda a sociedade.

 

 

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