Costuma dizer-se que mudar é bom. E é verdade: mudar afasta-nos das rotinas, traz novas perspectivas e novas ideias, é uma lufada de ar fresco. Ainda assim, a mudança não é fácil, rompe com o estabelecido e empurra-nos para fora da nossa zona de conforto. A tendência natural é resistir, agarrarmo-nos com força ao que nos é familiar e a manter o estado das coisas. Mas não é possível.
Olhar a mudança como uma oportunidade pode ser um bálsamo para a incerteza dos dias que correm. Mudar permite-nos corrigir o que está menos bem, não só nas nossas vidas, mas no nosso bairro, na nossa cidade, no nosso planeta. E como precisamos dessa mudança!…
Podemos começar pela forma de pensar. Rimo-nos muito e sentimo-nos intelectualmente superiores quando os tweets de Trump questionam a veracidade do aquecimento global perante as baixas temperaturas provocadas pelo recente vórtice polar, mas ficamos muito escandalizados quando o nosso ministro do Ambiente e Transição Energética afirma que os carros a diesel vão perder o seu valor. “Irresponsável”, ouviu-se de imediato, com receio dos efeitos que o comentário poderia ter junto da indústria automóvel que investe em Portugal. “E os postos de trabalho? E as fábricas?!”. Instalou-se a indignação, mas importa perguntar: há alguém convencido de que as fabricantes de carros não estão cientes de que os combustíveis fósseis estão condenados?! Descansem, estas não só o sabem, como já estão a preparar-se para o futuro da mobilidade (e o diesel não faz parte dos planos).
“Olhar a mudança como uma oportunidade pode ser um bálsamo para a incerteza dos dias que correm. Mudar permite-nos corrigir o que está menos bem, não só nas nossas vidas, mas no nosso bairro, na nossa cidade, no nosso planeta. E como precisamos dessa mudança!…”
Teoricamente, estamos todos unidos nos esforços para a descarbonização – mas só lá para 2030, porque, por enquanto, parece que ainda há tempo. A verdade é que não há e o planeta está a dizer-nos isso mesmo.
Uma das mudanças que se impõem é a de deixar de tomar decisões pensando única e exclusivamente nos indicadores económicos. Não podemos viver sem prosperidade económica e empregos, é verdade. Mas, para o alcançar, temos mesmo de ignorar tudo resto? Repetir práticas como as que levaram aos incêndios de 2017 ou à tragédia na pedreira de Borba? Fingir que o mar não está a avançar na orla costeira? Que podemos construir um aeroporto sem olhar para o estudo de impacto ambiental? Ou que o turismo selvagem não está a arrasar com o tecido social das nossas lindas cidades?
A natureza encontra sempre formas de restituir o seu equilíbrio. É como colocar a sujidade debaixo do tapete ou enveredar por mecanismos de fuga para a frente. Eventualmente, tudo vem ao de cima. Isto é válido tanto para as decisões políticas, como para as pequenas decisões do quotidiano. Optar por meios de transporte sustentáveis, separar o lixo, usar sacos de papel em vez de plástico, participar e melhorar a comunidade. São tantas as possibilidades!…
Por isso, queremos que a Smart Cities seja um apelo à mudança. Dirigido aos nossos leitores, aos nossos decisores políticos, a cada um de nós. Mudar não é fácil, mas é necessário e, no final, tudo vai dar certo.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.