“A questão da mobilidade é crucial na agenda global. Mas o objetivo não é paralisar as cidades, antes alcançar uma mobilidade sustentável e eficiente para todos”. Quem o diz é Diogo Moura, Vereador da Cultura, Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, que falou com a Smart Cities a propósito do Smart Open Lisboa, um programa de inovação promovido pela a autarquia e pela consultora Beta-i.

Oportunidade para falar também sobre mobilidade urbana, transição carbónica e inovação, sem esquecer os projetos da cidade para a Unicorn Factory.

A Câmara Municipal de Lisboa e a Consultora de Beta-i promoveram mais uma edição do programa Smart Open Lisboa, dedicado à mobilidade urbana. Quantos projetos chegaram à fase final e até que ponto poderão vir a ser adotados pelo município?

Deixe-me dizer-lhe uma coisa importante: o programa Smart Open Lisboa é um lugar de encontro, de parcerias, de busca por soluções e de inovação. Digo-lhe isto por duas razões. A primeira, para sublinhar a ideia de que os projetos devem responder a desafios; não se trata, portanto, de um exercício no vazio, mas uma procura de soluções para problemas concretos, desafios concretos. A segunda, porque não temos sobre esta matéria – nem sobre quase nenhuma – uma visão centralista – top down, para usar um anglicismo frequente; aqui fazemos as coisas bottom up, participadas, partilhadas. E é por isso que o papel dos parceiros, que lançam os desafios, é essencial.

Dito isto, recebemos 119 candidaturas nesta última edição (a nona), tendo sido validadas 80 e escolhidas 30 pelos parceiros. Chegaram candidaturas de start-ups de todo o mundo, o que mostra a vitalidade, o interesse e o olhar global que Lisboa tem nesta matéria, e o reconhecimento disso mesmo por parte de quem respondeu a este repto.

Feitas as primeiras seleções, temos neste momento 4 projetos piloto que serão testados na cidade, em colaboração com dois dos nossos seis parceiros: o Grupo Luís Simões e com a Carris. Portanto, respondendo diretamente à sua questão: sim, é possível que resultem daqui projetos a implementar em Lisboa.

Na verdade, é esse o propósito da nossa estratégia de inovação aberta, baseada na troca de ideias e experiências entre start-ups, investidores e demais interessados: promover a inovação necessária na construção de soluções para nossa cidade e para as pessoas, que resultem no bem-estar de quem trabalha e de quem vive em Lisboa.

Como pode a inovação contribuir para a sustentabilidade da mobilidade urbana em cidades como Lisboa?

A questão da mobilidade é crucial na agenda global. Mas o objetivo não é paralisar as cidades, antes alcançar uma mobilidade sustentável e eficiente para todos: assegurando o cumprimento das metas ambientais, mas também o conforto e eficiência das deslocações, garantindo o “direito à cidade”. Lisboa está fortemente empenhada nisso, não nas proclamações, mas na busca de soluções. No reconhecimento da sua importância vital para o planeamento e futuro da cidade, desde logo expresso no contexto de sua candidatura como Capital Europeia da Inovação, no recente fortalecimento do ecossistema de start-ups e no tema desta edição.

Como lhe dizia, e reitero, Lisboa é um lugar de encontro, de parcerias, de busca por soluções e de inovação. Porque é através da inovação, do desenvolvimento de novas ideias e projetos, com o envolvimento de diversos atores, que conseguimos enfrentar os desafios e tornar as cidades mais eficientes e proporcionar melhor qualidade de vida aos cidadãos. Mais: quanto maior for o envolvimento e a participação, maior será a adesão a novas soluções e à ideia de uma nova cidade.

Deixe-me dar-lhe um exemplo: ao unir inovação e mobilidade, podemos criar soluções que respondam a esses objetivos de forma eficaz, um exemplo notável dessa abordagem é a aplicação “CarrisWay” que a carris lançou a 28 de fevereiro. Permite carregar os passes e outros títulos de transporte no cartão Navegante, através de um smartphone. A nova app permite a emissão de um comprovativo de carregamento. O Carrisway, através de uma aplicação que simplifica o uso do transporte público ao permitir que os utilizadores carreguem os seus passes e outros títulos de transporte diretamente nos seus telemóveis, reduz o desconforto de filas e deslocações desnecessárias.

Lisboa assumiu o compromisso de se tornar neutra em dióxido de carbono até 2030. Tendo em conta que cerca de 43% das emissões de CO2 na cidade têm origem no setor da mobilidade e transportes, a inovação torna-se ainda mais fulcral no processo de transição deste setor?

Em 2022, Lisboa passou a fazer parte do programa europeu “100 cidades neutras até 2030”, trabalhamos com este objetivo em mente e tudo faremos para que se garanta melhor qualidade de vida para as pessoas, este é seguramente o nosso compromisso.

Estamos cientes de que de acordo com informações do Plano de Ação Climática Lisboa 2030, aproximadamente 43% das emissões de dióxido de carbono (CO2) na cidade têm, respetivamente, origem no setor de mobilidade e transportes, o que realça a urgência de encontrar soluções inovadoras para a obtenção de neutralidade carbónica até à próxima década.

Contudo, fizemos, de igual modo, compromissos além-fronteiras, como a Rede Cidades C40 ou o Pacto de Autarcas para o Clima e Energia.

Estes vetores reforçam a nossa estratégia com o objetivo de alcançar uma, cada vez melhor e mais eficiente, interligação da cidade, onde todos possam circular rápida, eficaz e de forma sustentável, seja a pé, de bicicleta, de autocarro, de metro, ou comboio. Procuramos, também desenvolver soluções e respostas às necessidades das empresas que operam nas áreas da distribuição e da logística.

É assim, com efeito, através da inovação, de desenvolvimento de novas soluções que sirvam as necessidades quotidianas dos cidadãos, que tornaremos Lisboa mais preparada para enfrentar os desafios presentes e futuros, cientes, contudo, de que contamos com todos os atores e agentes económicos estejam envolvidos e comprometidos com uma agenda pela sustentabilidade.

Queremos ser exemplo na concretização de medidas e projetos mais abrangentes que acelerem a transição energética, a neutralidade carbónica, a expansão sustentável das energias renováveis, a adaptação climática, a proteção ambiental, a salvaguarda do capital natural e dos serviços dos ecossistemas e a circularidade dos materiais. A sustentabilidade deve ser uma preocupação transversal em todas as áreas de atuação.

Além do pelouro da inovação, também é responsável pelas pastas da economia e da cultura. Em que medida é que estas três áreas se entrecruzam? Que exemplos na cidade o revelam?

A forma como olhamos para estes temas têm, curiosa, se calhar, contra-intuitivamente, muitas semelhanças. Por exemplo, quando dizemos que, na Cultura, na Economia e Inovação, guiamo-nos por quatro pilares de ação – a descentralização, a democratização, a duração e a divulgação. Quando falamos de descentralização, estamos a criar uma multipolaridade, novas centralidades, a romper a tradicional lógica centro-periferia. Ora, isso, contribui para uma cidade de proximidade, mais sustentável, mais inclusiva, a tal cidade dos 15 minutos. E se isso é evidente na Cultura, com o Teatro em Cada Bairro, também é visível no comércio local, nos mercados e nos vários hubs da Fábrica de Unicórnios que contribuem para a descentralização da Inovação. Quando falamos de democratização, se falamos, na Cultura, de alargamento de públicos, também falamos de acesso à atividade económica e à inovação, por exemplo por via das startups, ou, num conceito de alguma forma abandonado, mas virtuoso, que é aquilo a que se chamava capitalismo popular. No fundo, uma atividade centrada nas pessoas, um desenvolvimento com rosto humano. O mesmo para a duração, onde o programa Lojas com História – que vamos querer densificar – contribui para a preservação de uma identidade inter-geracional. E que alia uma componente imaterial à materialidade inscrita no território.

Lisboa foi a cidade vencedora do Prémio Capital Europeia da Inovação em 2023. Quais os projetos que nasceram, foram apoiados e estão previstos no âmbito desta distinção?

Foi com imensa satisfação que vencemos a distinção de Lisboa como Capital Europeia da Inovação, um reconhecimento do trabalho árduo de todas as equipas dedicadas que impulsionam a nossa cidade para a vanguarda da inovação. E, também, é impossível omiti-lo, o merecido reconhecimento e prémio à visão, audácia e capacidade de mobilização do nosso presidente Carlos Moedas.

No cerne dessa conquista está a Unicorn Factory, um projeto que representa um dos sonhos e objetivos do Presidente Carlos Moedas. Este centro de inovação abriga uma série de programas destinados a scaleups, com o intuito de impulsionar o crescimento do ecossistema empresarial, especialmente das startups localizadas em Lisboa, fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para a sua maturação e, assim, contribuindo para a criação de riqueza e de postos de trabalho na cidade.

Com a criação da Unicorn Factory, Lisboa atraiu, em apenas dois anos, 54 novos centros tecnológicos de 23 países, lançou 13 programas de incubação e aceleração, triplicou o número de startups incubadas e posicionou a cidade em setores tão diversos como saúde digital, tecnologias Web 3 e inteligência artificial. No entanto, ainda temos muito mais a alcançar e estamos determinados a fazê-lo.

Sendo o objetivo deste executivo servir os cidadãos e promover o bem estar social, o prémio resultante desta distinção – um milhão de euros – vai ser investido no desenvolvimento de projetos de inovação social e no combate à exclusão. Será criado um prémio, com esse montante, a ideias e projetos que se destinem a esse objetivo.

O ranking Europe’s Leading Start-up Hubs 2024, do jornal Financial Times, distinguiu a Unicorn Factory Lisboa como um dos 10 melhores programas de incubação de empresas tecnológicas na Europa. Quais os razões deste reconhecimento e o que ainda falta fazer para o futuro?

Desde o lançamento, em 2022, da Unicorn Factory, Lisboa já conseguiu atrair 54 novos centros tecnológicos para Lisboa. Além disso, houve um aumento significativo no número de empresas tecnológicas na Unicorn Factory, triplicando sua quantidade. Voltando ao que defendi há pouco, também para a Inovação defendemos a descentralização pela cidade, procurando que se enraíze nos nossos bairros e se aproxime dos nossos cidadãos. Sinal disso são os hubs da Unicorn Factory que estamos a criar, como o já aberto Hub de Gaiming, no Saldanha, ou o futuro Hub do Mar, em Pedrouços.

Com mais de 220 startups e scaleups a participar e com o apoio de 80 parceiros, incluindo gigantes tecnológicos como Google, Microsoft e Amazon Web Services, a Unicorn Factory destaca-se como um centro de inovação de renome mundial. O reconhecimento que recebe é um claro sinal do sucesso e da crescente visibilidade do projeto à escala global.

Como se diz no lema da Unicorn Factory, um unicórnio só é um mito até que o tornemos realidade. É isso que temos feito em Lisboa e é isso que queremos continuar a fazer.

Fotografia de destaque: © Isabel Santiago