Em 2019, projectos e iniciativas smart cities com base na partilha voluntária de dados pessoais vão beneficiar metade das pessoas que vivem em grandes cidades. Quem o diz é a consultora tecnológica Gartner, que aponta aqui uma oportunidade para os governos se posicionarem no “centro da inovação tecnológica na sociedade”.

O segredo para isso está em saber tirar partido das estratégias de Open Data (dados abertos). Graças à proliferação de dispositivos e o crescimento da Internet das Coisas, a Gartner prevê que, no final desta década, 20% de todas as organizações de poder local consigam gerar receitas através de soluções que incluam uma estratégia de dados abertos.

Paralelamente e à medida que a hiperconectividade aumenta, os cidadãos vão poder colher também benefícios da partilha passiva de informação, ficando cada vez mais cientes do valor dos seus dados do dia-a-dia e dispostos a trocá-los por outros serviços e elementos úteis em tempo real.

“À medida que os cidadãos usam cada vez mais tecnologia e redes sociais para organizar as suas vidas, os governos e empresas estão a aumentar os seus investimentos em infra-estruturas tecnológicas e governança”, afirma Anthony Mullen, director de Investigação da Gartner. “Isto gera plataformas abertas que permitem aos cidadãos, comunidades e empresas inovar e colaborar e fornecer soluções úteis que respondam às necessidades cívicas”, continuou.

Outra das tendências apontadas pela Gartner é o facto de as pessoas estarem a preferir plataformas de conversação, tais como assistentes virtuais ou chatbots, em detrimento das aplicações convencionais e dos websites. As entidades governamentais estão a acompanhar este fenómeno e vão disponibilizando soluções desse género. É o caso, por exemplo, Singapura, que está a colaborar com a Microsoft na iniciativa “Conversation as a Platform” para desenvolver chatbots numa série de serviços públicos. Com isto, a forma como o cidadão e os governos interagem vai ganhando outras dinâmicas e o volume de dados gerados aumentando, criando a oportunidade de desenvolver portais de open data que podem aumentar a eficiência, melhorar a experiência do cidadão, alavancar a inovação e ainda gerar receitas para as organizações governamentais.

“Os portais de Open Data nas cidades não são algo novo, mas hoje muitos deles têm uma capacidade de leitura automática condicionada, o que limita o seu valor comercial”, explica a vice-presidente de Investigação da Gartner, Bettina Tratz-Ryan. “A cidade torna-se mais inteligente quando os dados são recolhidos e orientados de forma a que possam produzir fluxos em tempo real com valor, em vez de apenas estatísticas em retrospectiva ou relatórios”.

Nesta matéria, para as cidades, o próximo passo será a criação de um “mercado de dados”, no qual estes possam ser apresentados e geridos com vista a obter mais benefícios comerciais. E há já casos destes em prática: Copenhaga, na Dinamarca, é uma das cidades pioneiras nesta matéria, com o projecto City Data Exchange, coordenado pela Hitachi.

A monetização destes dados passa, segundo a Gartner, pela automação e extensão da experiência do utilizador, permitindo aos cidadãos e empresas descobri-los e prepará-los, definindo padrões e partilhando-os com as suas comunidades ou organizações.

“Os utilizadores vão ter um número de opções para pagar o acesso a dados, dependendo do tipo de utilização”, explica Tratz-Ryan. “Um cidadão normal pode simplesmente participar através da democracia de dados e ter acesso gratuito em troca do fornecimento da sua própria informação, enquanto o uso comercial pode exigir a partilha de lucros com o proprietário da informação ou a compra de licença para aceder a uma fonte de informações rica”.