Porto, Guimarães e Lisboa são as representantes lusas na Missão Cidades Inteligentes e com Impacto Neutro no Clima, da Comissão Europeia, e querem abraçar o objectivo de alcançar a neutralidade climática já em 2030, apostando em iniciativas de experimentação e inovação e contando, para o efeito, com o apoio e suporte da iniciativa europeia. Filipe Araújo, vice-presidente, com os pelouros do Ambiente e Transição Climática e da Inovação e Transição Digital, da câmara municipal do Porto, explica o que este desafio representa para a cidade.

 

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Filipe Araújo, vice-presidente da CM Porto. © Guilherme Costa Oliveira

 

Quais são os pontos fortes do município do Porto para integrar esta Missão?

O carácter multidisciplinar com que temos abordado os desafios da sustentabilidade tem sido o nosso ponto mais forte. Há uma visão integrada e holística que se repercute nos projectos que temos lançado, como, por exemplo, a transição para a mobilidade eléctrica dos veículos municipais, que são alimentados por energia fotovoltaica produzida para autoconsumo e que ganhará dimensão com as comunidades de energia renovável, numa estratégia ancorada na nova empresa ‘Águas e Energia do Porto’.

A somar a isto, toda a energia que o município consome é 100% de origem renovável certificada e tem sido feito um esforço enorme na mobilidade, com a diminuição das tarifas do transporte público e gratuitidade de utilização até aos 18 anos.

Ao mesmo tempo, destaco o caminho consolidado numa estratégia de resíduos, que tem tido um óptimo desempenho nas taxas de reciclagem (em 2021, acima de 39%), o novo projecto Orgânico, que já conta com mais de 1 000 toneladas de resíduos recolhidos, em cerca de um ano, e que serão circularmente transformados em correctivo de solos de alta qualidade.

Destaco ainda vários projectos de combate ao desperdício e de fomento da reutilização, a promoção da circularidade e a integração na gestão do ciclo urbano da água, a expansão e a reabilitação de múltiplos espaços verdes na cidade, o respeito e o cuidado pelo património arbóreo como marcas indeléveis do trabalho que tem sido desenvolvido no Porto.

“O Pacto do Porto para o Clima, um compromisso aberto à cidade, (…) tem em vista criar uma grande comunidade de aprendizagem, partilha e apoio mútuo rumo à neutralidade carbónica até 2030.”

Quais são os desafios e as prioridades que a Missão Cidades vai trazer no futuro próximo?

Esta Missão que nos é confiada, alicerçada no ambicioso objectivo da neutralidade carbónica até 2030, está em linha com os nossos objectivos e exige um esforço concertado de múltiplos stakeholders da cidade.

O papel do município do Porto na descarbonização da cidade tem sido sistemático, mas limitado, já que os activos municipais são apenas responsáveis por 6% das emissões totais de gases com efeito de estufa (GEE). A maioria das emissões de GEE na cidade provém dos sectores dos edifícios, residencial e serviços (~50%), e dos transportes (~40%). É isso mesmo que justifica o lançamento do Pacto do Porto para o Clima, um compromisso aberto à cidade, às organizações públicas e privadas e aos seus cidadãos, que tem em vista criar uma grande comunidade de aprendizagem, partilha e apoio mútuo rumo à neutralidade carbónica até 2030.

A inclusão do Porto neste restrito lote de 100 cidades vem dar-nos um impulso adicional e a possibilidade de aumentar os recursos disponíveis para transformar a ambição em realidade. A nossa prioridade é agregar todos os interessados e levar a ‘bom Porto’ este desígnio comum.

Um dos maiores desafios em termos da descarbonização prende-se com a componente de captação de carbono, devido à dificuldade de criação de mais áreas arborizadas muito densas, por efectiva falta de território para o fazer. No entanto, abrem-se portas, ao aprofundar a colaboração com os municípios vizinhos, tendo em vista o aumento da captação de carbono. O FUTURO – Projecto das 100 mil árvores é um excelente exemplo de colaboração nesta matéria.

 

 

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.