De facto, em casa ou no trabalho, a luz é hoje um elemento que serve propósitos variados: tem potencial para valorizar os espaços, garantir funcionalidade, gerar conforto e reforçar a produtividade. Esta importância estende-se, igualmente, ao domínio da iluminação pública.
Efetivamente, a iluminação pública é sinónimo de desenvolvimento, segurança e de atratividade para as cidades. Na verdade, pode dizer-se que a iluminação pública é um dos grandes pilares das chamadas smart cities. Mais do que garantir níveis mínimos de luminosidade nos espaços urbanos, pode favorecer paisagens e monumentos, facilitar a circulação de peões e viaturas, ou alavancar a atividade comercial e de lazer durante o período noturno. É, enfim, um motor de desenvolvimento económico e social.
No que diz respeito à utilização de energia elétrica, a iluminação pública poderá também compor um ativo indispensável, sobretudo se considerarmos que é responsável por 3% do consumo energético em Portugal. Ora, com as infraestruturas de iluminação pública adequadas, podem garantir-se, nas cidades, todas as condições de conforto, segurança e funcionalidade, ao mesmo tempo que se potencia a sustentabilidade energética e ambiental. Para o alcance deste último objetivo, o progresso tecnológico é essencial.
O aparecimento da tecnologia LED, em particular, revelou-se decisivo, por quatro razões: (1) pelos ganhos ambientais, ao permitir a redução anual, em toneladas, de emissões de gases com efeitos de estufa; (2) pelos ganhos de eficiência energética; (3) pelos ganhos económicos, face às reduções das faturas de energia; e (4) pela possibilidade de integração de soluções inovadoras de sensorização e gestão.
“Um PDIP é um instrumento que dota os municípios de estratégias eficazes para empreender projetos de iluminação pública, considerando sempre uma ampla diversidade de soluções técnicas, ambiências e espaços públicos. A luz passa, assim, a ser vista como uma ferramenta adaptada a diferentes necessidades; uma ferramenta que, mais importante ainda, cumpre parâmetros de eficiência.”
Compreende-se, assim, a importância destas soluções de iluminação pública para a sustentabilidade das cidades. Há, contudo, um problema: o tipo de luminárias em funcionamento não basta. É preciso uma estratégia. E é neste contexto que impera sublinhar o trabalho das entidades responsáveis pela gestão da iluminação pública: os municípios.
Com efeito, muito embora a iluminação pública possa contribuir de forma determinante na prossecução de objetivos de eficiência energética, não há ainda, em diversos casos, “um caminho a seguir”. Isto é, não se verifica a existência de um plano que considere a iluminação pública como parte integrante de um território urbano complexo, com necessidades muito particulares.
Para dar resposta a este obstáculo, há uma solução: o Plano Diretor de Iluminação Pública (PDIP). Este documento estratégico surge como uma base de especial importância para o desenvolvimento de políticas energéticas assentes na sustentabilidade dos sistemas de iluminação. Muito concretamente, um PDIP é um instrumento que dota os municípios de estratégias eficazes para empreender projetos de iluminação pública, considerando sempre uma ampla diversidade de soluções técnicas, ambiências e espaços públicos. A luz passa, assim, a ser vista como uma ferramenta adaptada a diferentes necessidades; uma ferramenta que, mais importante ainda, cumpre parâmetros de eficiência.
As vantagens são claras: paralelamente à economização de energia e à promoção da sustentabilidade ambiental – em virtude da redução da poluição luminosa e das emissões de CO2, especificamente –, um PDIP contribui para a coesão e valorização da identidade dos territórios, assim como para o favorecimento de atividades turísticas, comerciais e culturais em período noturno.
Para o desenvolvimento de um PDIP, não se deve prescindir de um estudo detalhado do contexto urbanístico e arquitetural dos territórios municipais, bem como da própria infraestrutura de IP já existente, de modo a projetar as diferentes necessidades de iluminação. É aqui que entra em jogo o importante papel das agências de energia. De facto, cabe a estas entidades apoiar a preparação dos PDIP, dinamizando as políticas energéticas locais neste domínio e promovendo a gestão de energia eficiente – respondendo sempre, sublinhe-se, às especificidades sociais, económicas, culturais, ambientais e arquitetónicas de cada município.
A título exemplificativo, a AdEPorto – Agência de Energia do Porto tem apoiado vários estudos que antecedem a implementação de PDIP em diversos municípios da Área Metropolitana do Porto a Norte do Douro, tais como Maia, Matosinhos, Porto, Trofa ou Vila do Conde. Os trabalhos envolvem diferentes eixos que vão desde o diagnóstico do território municipal ao mapeamento das principais áreas desse território (e dos respetivos usos) ou à caracterização da mobilidade urbana noturna, a fim de se reconhecerem os principais traçados utilizados para deslocações. Mas implicam, também, dados mais pormenorizados sobre os sistemas de iluminação a promover: a temperatura de cor das luminárias em função da área, o índice de restituição cromática das luminárias, os índices de resistência ao impacto mecânico e de proteção global das luminárias, a compatibilidade com drivers de telegestão, a eficiência ou a altura de montagem dos equipamentos, entre outros.
Com esta análise rigorosa, estão lançadas as bases para a implementação de um projeto de iluminação pública eficiente, que proteja o ambiente e promova a sustentabilidade energética. Os resultados desse trabalho, antes, durante e após o PDIP, são óbvios: cidades mais inteligentes e sustentáveis e qualidade de vida acrescida.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.