“Planear, implementar, medir e corrigir”, utilizando as ferramentas tecnológicas hoje disponíveis aos níveis da sensorização e da analítica de dados, fazem parte da abordagem da NEC às cidades inteligentes. Em entrevista, o director-geral da NEC Portugal, João Paulo Fernandes, revela como o know-how da gigante japonesa pode ajudar as cidades portuguesas a melhorar a eficiência no uso dos seus recursos.

 

Qual a visão da NEC para as smart cities?

Enquanto empresa com mais de 100 anos de história, a NEC tem tido a flexibilidade de adaptar o seu negócio e a sua visão empresarial às muitas e profundas alterações que ocorreram no mercado das TIC (tecnologias de comunicação e informação) ao longo dos últimos dois séculos. Uma das ferramentas que a empresa utiliza para esse efeito consiste em, aproximadamente a cada dez anos, repensar e reformular a sua visão de negócio, por forma a adequá-la às evoluções tecnológicas, sociais e de mercado. Na última destas revisões, efectuada em 2008, e de acordo com a sua assinatura de marca corporativa – «Orquestrando um mundo melhor» -, a NEC estabeleceu como objectivo contribuir para a resolução de um leque variado de desafios e criar valor social para o mundo de amanhã, tirando partido da sua capacidade de inovação tecnológica para desenvolver aquilo que designou como Soluções para a Sociedade, procurando promover maior segurança, eficiência e igualdade social em todo o mundo. Naturalmente que nesta visão de criação de Soluções para a Sociedade, as cidades, cuja população se prevê que cresça dos actuais 3.500 milhões para 6.300 milhões até 2050, passando dos actuais 50% para 66% da população mundial até essa data, desempenham um papel muito importante. Na verdade, é nas cidades que é previsível que se concentrem, cada vez mais, muitos dos problemas de segurança e de aumento de eficiência na utilização de recursos que a NEC procura endereçar. Na visão da NEC, que é naturalmente de pendor tecnológico na medida em que o maior activo da empresa é a sua capacidade de inovação tecnológica, existem actualmente novas tecnologias tais como sensores cada vez mais pequenos e económicos que permitem recolher e tratar informação sobre múltiplos aspectos dos serviços que são necessários ao funcionamento diário de uma cidade e para os quais, até há pouco tempo, não era possível recolher informação.

Na prática, como é que isso acontece?

Por exemplo, em termos do serviço de distribuição de água, é hoje possível utilizar sensores que detectem os locais de ocorrência de fugas, permitindo repará-las antes que atinjam uma dimensão tal que provoquem inundações e uma importante perda económica e ambiental em termos de água não utilizada. A utilização de sensores para recolha e tratamento de informação em áreas vitais ao funcionamento de uma cidade, tais como o trânsito, a recolha de resíduos, a iluminação, a distribuição de água ou a segurança, entre outras, permite que os gestores dessas diferentes áreas possam recolher informação sobre esses processos, que hoje não têm, permitindo-lhes entender melhor quais os seus problemas e ineficiências e desencadear acções que permitam endereçar e corrigir essas ineficiências. Associando à utilização de sensores o tratamento dos dados por eles recolhidos através de ferramentas analíticas que permitam extrapolar tendências e efectuar previsões, chegamos à visão de topo da NEC para as Cidades Inteligentes que consiste em facultar aos gestores da cidade e aos cidadãos uma plataforma agregadora de dados, uma espécie de “painel de Instrumentos” da cidade, capaz de lhes dar informação actualizada sobre o estado e o desempenho dos diferentes serviços da Cidade, apoiando-os na tomada de decisão necessária ao aumento de eficiência tanto na disponibilização como na utilização desses serviços. Trata-se pois de utilizar as ferramentas tecnológicas hoje em dia disponíveis ao nível da sensorização (Internet das Coisas) e da analítica de dados (Big Data) para fechar, ao nível dos diferentes serviços de uma cidade, o ciclo planear->implementar->medir->corrigir e com isso aumentar a eficiência dos serviços disponibilizados aos cidadãos e, ultimamente, a satisfação dos cidadãos com esses serviços e a sua qualidade de vida.

Das várias iniciativas que têm desenvolvido, quais são mais demonstrativas da acção da NEC na área das cidades inteligentes?

A NEC possui já várias referências mundiais ao nível da implementação de soluções verticais de aumento de eficiência na utilização de recursos, em áreas tão diversificadas como a deteção de fugas de água nas redes de abastecimento, o aumento de eficiência na recolha de resíduos urbanos ou o aumento de segurança por análise de vídeo e detecção automática de situações anómalas como a formação de multidões. Como exemplo bem próximo de nós, temos o serviço inteligente de recolha de resíduos implementado pela NEC na cidade de Santander, em Espanha, que utiliza sensores para medir em tempo real o nível de enchimento dos contentores de resíduos recicláveis espalhados pela cidade. Essas medições são enviadas periodicamente a uma aplicação central que utiliza a informação de enchimento para calcular diariamente as rotas ideais de recolha de resíduos, com isso reduzindo o consumo de combustível e as emissões de CO2 das viaturas de recolha. Também ao nível da plataforma agregadora de dados que pode ser utilizada como “painel de instrumentos” da cidade, a NEC possui já algumas referências importantes da sua solução, o Cloud City Operations Centre (CCOC), tais como a implementação desta solução na cidade de Wellington, capital da Nova Zelândia, onde a mesma ajuda os gestores da cidade numa melhor gestão dos fluxos de tráfego e da segurança urbana.

Como pretendem trazer o vosso conhecimento para Portugal? Há algum projecto a decorrer ou pensado?

Enquanto multinacional de referência na área das TIC com presença nos principais países de todo o mundo, a partilha de experiências, conhecimento e referências é algo que faz parte do dia-a-dia da NEC, em particular quando falamos de áreas emergentes e promissoras como as Cidades Inteligentes. Nessa medida, existem centros de competência regionais dedicados à adaptação aos requisitos específicos de cada cidade, em cada país, das soluções para cidades inteligentes desenvolvidas pelos laboratórios de I&D (Investigação e Desenvolvimento) da empresa. É também a partir desses centros que é feita a formação e transferência de conhecimento das várias soluções para as equipas sedeadas em cada país, tarefa que, no caso da NEC Portugal, já se iniciou desde há cerca de três anos, com isso assegurando uma elevada capacidade local de implementação das diferentes soluções da NEC para cidades inteligentes. Exemplo disso são vários projectos piloto actualmente a decorrer ou planeados no nosso país, em áreas tão distintas como a detecção de fugas de água em redes de abastecimento, a gestão inteligente de recolha de resíduos, a segurança pública ou o Cloud City Operations Centre.

Tendo em conta a realidade nacional, quais as áreas mais promissoras?

Nos contactos estabelecidos com múltiplas autarquias e entidades gestoras de serviços urbanos, verificamos que cada cidade tem os seus problemas e prioridades específicos, que divergem de caso para caso. É porém possível identificar algumas necessidades comuns a múltiplas cidades, nomeadamente em termos de aumento na eficiência de utilização de recursos, tais como a detecção de fugas de água, a redução da factura energética, a mobilidade, a gestão de resíduos e os centros operacionais Integrados, capazes de numa única plataforma urbana darem informação e permitirem gerir de forma coordenada, múltiplos serviços da cidade. Para todas estas áreas, a NEC tem soluções, referências e uma equipa local com a capacidade de as adaptar aos requisitos específicos das nossas cidades.

A NEC é um dos patrocinadores do evento ZOOM Smart Cities. O que podemos esperar da vossa participação na conferência?

É com prazer e muito interesse que a NEC se associa a esta que é uma das primeiras grandes conferências organizadas em Portugal sobre o tema das Smart Cities. Durante o evento, a NEC irá apresentar a sua visão para as cidades inteligentes e como a adopção de algumas das suas soluções para esta área podem ajudar as cidades a aumentar a eficiência na gestão dos recursos e serviços da cidade, bem como a segurança que ela oferece aos seus cidadãos. Em paralelo, serão apresentados vídeos de alguns casos de referência, tais como Santander, Wellington e Tóquio e feitas demonstrações ao vivo de algumas das soluções. Queremos que seja uma participação interactiva e esclarecedora, que permita a quem a ela assistir, sair do evento com uma visão mais clara do que são as soluções para cidades inteligentes, como elas podem ajudar na gestão de uma cidade e de como a NEC pode ajudar na sua implementação.