Estamos na terceira semana da radical revolução de rotinas que afectou toda a gente. Impactou aqueles que ficaram em casa a prestar apoio a familiares, atingiu aqueles que ficaram em teletrabalho, afectou aqueles cuja relação laboral se viu transformada, senão mesmo terminada, e também alcançou aqueles que continuam a trabalhar para garantir a continuidade de serviços e bens considerados essenciais.

Da situação de novidade inesperada, passamos para uma tentativa de adaptação a uma nova realidade, cujos contornos ainda não são certos, e sobre a duração da qual apenas poderemos especular. Torna-se apenas expectável que façamos um aperfeiçoamento das estratégias que inicialmente estávamos a utilizar: algumas terão sido mais úteis do que outras; algumas farão mais sentido consoante as nossas possibilidades e traços. Neste momento de incerteza sobre a incerteza, cada vez mais nos apercebemos de que, mais do que recomendações de estratégias genéricas, que são, sem dúvida, úteis e relevantes para fazer frente a esta disrupção do nosso quotidiano, o essencial passa a ser a nossa capacidade de adaptação e de tomada de consciência do que resulta melhor para cada um de nós.

“Mesmo os que não trabalham na área da saúde acabam por ter os seus dias alterados, uma vez que os contactos sociais directos são limitados, quer nas deslocações para o local de trabalho, quer no próprio local de trabalho, e também porque, nalguns casos, os horários da prestação de trabalho foram desregulados. Para estes profissionais, tantas vezes invisíveis, os dias podem trazer cansaço, adaptação, frustração e uma panóplia de sentimentos confusos e pouco agradáveis.”

Muito se tem falado e escrito sobre a promoção do bem-estar físico e psicológico de quem está confinado e ausente das suas rotinas securizantes e estruturantes. Hoje, gostaria de me focar um pouco no bem-estar psicológico daqueles que continuam a trabalhar e que também tiveram as suas rotinas profundamente impactadas.

Mesmo os que não trabalham na área da saúde acabam por ter os seus dias alterados, uma vez que os contactos sociais directos são limitados, quer nas deslocações para o local de trabalho, quer no próprio local de trabalho (ocasionalmente, mediados por Equipamentos de Protecção Individual necessários, mas desconfortáveis), e também porque, nalguns casos, os horários da prestação de trabalho foram desregulados. Para estes profissionais, tantas vezes invisíveis, os dias podem trazer cansaço, adaptação, frustração e uma panóplia de sentimentos confusos e pouco agradáveis.

À semelhança dos artigos anteriores, deixo algumas breves ideias que poderão ajudar a manter algum conforto e bem-estar psicológico:

  • Tenha medo sem medo! Um dos primeiros passos será o de encorajar a prática de medidas reforçadas de higiene e protecção pessoal, ou seja, manter o distanciamento físico na medida do possível. O facto de estar a trabalhar in situ implica que possivelmente o seu grau de exposição está aumentado. O medo, esse factor de protecção, deve ser respeitado e não ignorado;
  • Orgulhe-se! Neste caso, reenquadre a situação. Se está a trabalhar será porque, nalgum momento, a sociedade reconhece ao seu trabalho um valor necessário e especial. Em vez de dar espaço ao potencial ressentimento, uma vez que este reconhecimento pode pecar por tardio, acolha esta necessidade do seu trabalho como uma peça importante do funcionamento orgânico da nossa sociedade. Ao encarar a questão como uma necessidade comunitária, o sentido que as suas tarefas ganham pode passar a ser diferente e mais motivador;
  • Aproveite a oportunidade, e isto estende-se a várias áreas. Por um lado, apanhe ar. Parece irrelevante, mas certamente ter-se-á apercebido da necessidade de espaço e de ar verbalizada pela maioria das pessoas que fica em casa. Por outro, optimize o tempo de qualidade com os seus pares quando não está no trabalho, cuidando das suas necessidades de conexão social e aproveitando a maior disponibilidade social das pessoas;
  • Partilhe a sua experiência, não menospreze a estranheza do que possa sentir. Neste momento, está a trabalhar em condições diferentes, a própria sociedade está a organizar-se com regras de funcionamento diferentes. Fale sobre isso, quer com colegas, quer com família ou amigos.

Para terminar, volto a reforçar a ideia de que, nesta altura, é natural que haja momentos mais complicados e mais vulneráveis. Procure ajuda, se for caso disso. Conecte-se com a sua rede de contactos ou, em situações mais complexas, recorra a apoio profissional.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.