Não há forma fácil de introduzir o tema. O mundo lida neste momento com uma pandemia como a maioria de nos nunca sequer equacionou. Um desafio que nos impõe limites que são contrários à forma como fomos criando as nossas crenças e relações. Passamos de fenómenos de socialização globais e partilháveis para a necessidade de um isolamento social quase ostracizante. Passamos da era da disponibilidade da informação por filtrar para a recomendação de parcimónia no contacto com esta mesma informação.
Sim, a COVID-19 veio desafiar-nos a todos a um nível que não esperávamos e para o qual possivelmente não estaríamos preparados. E, ainda assim, qualquer intervenção psicológica assenta num pressuposto que é o da esperança da mudança. Seja a nível organizacional, seja a nível educativo ou clínico, a psicologia parte da abertura da possibilidade de fazer e pensar diferente e melhor.
“No fundo, estas medidas de prevenção e protecção são a nossa tentativa possível de controlar o que, de facto, podemos controlar (o nosso comportamento), em vez de ceder ao pânico daquilo que não podemos controlar (as características de transmissão e propagação do SARS-CoV2, o vírus que desencadeia a COVID-19, e que são bastante mais preocupantes do que a sua letalidade em termos gerais)”.
A nível da promoção do bem-estar psicológico, várias têm sido as recomendações quer da Organização Mundial de Saúde, quer da UNICEF, quer da própria Ordem dos Psicólogos Portugueses para lidar com o isolamento a que nos votaremos brevemente (para aqueles que o poderão fazer) – voltarei a este tema noutra altura, com algumas indicações mais práticas. Neste artigo, gostaria de abordar um ponto prévio: o da percepção e gestão de risco e de controlo.
Em termos simples, adoptamos medidas e comportamentos preventivos apenas quando existe uma qualquer noção de risco subjacente. Não nos protegemos do que não tememos. E esta será uma primeira lição: não faz mal ter medo, o medo pode ser profundamente adaptativo, como foi ao longo da evolução da nossa espécie.
Por sua vez, a crença na eficácia destas medidas que podemos (e devemos) adoptar tem de ser estabelecida eficientemente, de forma a justificar o investimento num comportamento diferente daquele que é o habitual (e automático, cognitivamente, muito mais económico e preferencial).
No fundo, estas medidas de prevenção e protecção são a nossa tentativa possível de controlar o que, de facto, podemos controlar (o nosso comportamento), em vez de ceder ao pânico daquilo que não podemos controlar (as características de transmissão e propagação do SARS-CoV2, o vírus que desencadeia a COVID-19, e que são bastante mais preocupantes do que a sua letalidade em termos gerais). Sabemos que dificilmente haverá uma gestão de risco eficaz sem uma percepção de controlo e competência.
Daí que seja tão relevante, neste momento de incerteza, fazer aquilo que está ao nosso alcance (ficar em casa, distanciamento social, higiene reforçada), para podermos reforçar a nossa percepção de controlo e não assumirmos comportamentos de risco perigosos e desnecessários.
Para terminar, reforçar só a ideia de que, nesta altura, é natural que haja momentos mais complicados e mais vulneráveis. Procure ajuda, se for caso disso. Conecte-se à sua rede de contactos ou, em situações mais complexas, recorra a apoio profissional.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.