‘Mobilidade inteligente. Economia Forte’ é o tema escolhido este ano para a Semana Europeia da Mobilidade, que, entre 16 e 22 de Setembro, contará com a realização de diversos eventos e a implementação de medidas em mais de 2000 cidades de 47 países. Portugal contribui com 46 municípios aderentes e outras tantas ações levadas a cabo por organizações e grupos de cidadãos. Na página oficial da iniciativa (em http://mobilityweek.eu), podem ser consultadas as diversas atividades que decorrem nos próximos dias.
Mesmo tendo vindo a perder alguma força, em comparação com as primeiras edições, a Semana Europeia da Mobilidade é o maior evento europeu relacionado com mobilidade sustentável. Apesar de grande parte das ações desenvolvidas serem de caráter mais pontual, o envolvimento dos municípios pressupõe sempre a implementação de, pelo menos, uma medida permanente que incentive a transição do automóvel individual para o transporte coletivo ou de baixas emissões. Além disso, prevê ainda a realização de um evento ‘Car-Free Day’ a 22 de setembro, pela interdição temporária da circulação de automóveis numa ou mais ruas da cidade.
O grande desafio é, precisamente, como passar do simbolismo (importante, sem dúvida, pela componente de sensibilização e mensagem coletiva que aporta) destas datas comemorativas para o investimento em medidas e serviços concretos que tornem atrativa a substituição ou a complementaridade do automóvel com outros meios de transporte não poluentes.
As situações de incumprimento dos limites máximos legais de emissão de vários poluentes e partículas inaláveis acontecem nos centros urbanos. É aí que temos que começar a resolver o problema, mas para tal é preciso mudar a forma como nos deslocamos no dia-a-dia, nos movimentos pendulares. É preciso reduzir o número de condutores que todos os dias entram nos principais centros urbanos com o seu automóvel individual (centenas de milhares em Lisboa e no Porto), mas para isso é necessário criar condições atrativas que lhes permitam chegar a casa, ao trabalho ou à universidade de forma cómoda e não penalizadora em termos de tempo/custo/eficácia.
A criação de incentivos à renovação das frotas das empresas, públicas e privadas, de modo a que integrem nas mesmas veículos de baixas emissões (bicicletas e automóveis elétricos, por exemplo), é uma aposta estratégica também economicamente, tendo em conta o aumento do preço dos combustíveis fósseis e o alargamento da rede nacional de carregamento destes veículos.
Também no universo académico, existe um potencial enorme a explorar nas deslocações casa-universidade-casa, onde a integração de sistemas de partilha de bicicleta ou modelos de carpooling (partilha do veículo) devem ser incentivados. Neste ponto, há que destacar o Projeto U-Bike Portugal, que irá integrar bicicletas elétricas e convencionais em 15 instituições do ensino superior.
Por fim, não menos importante será contrariar o desinvestimento generalizado nas redes dos vários transportes públicos (metropolitano, autocarros, barco e comboios urbanos e suburbanos), que tem conduzido à deterioração de infra-estruturas e veículos; à supressão de horários e do número de serviços. Só tornaremos os transportes públicos atrativos com uma clara aposta na intermodalidade, em interfaces funcionais, na simplificação dos passes e títulos de transporte. Não basta penalizar os condutores, é necessário recompensar quem escolhe, por opção ou necessidade, formas de modalidade menos lesivas para o ambiente.