Estamos a viver numa era de transição. O modelo energético, económico e social que marcou o século XX irá gradualmente dar lugar a um novo modelo nas próximas décadas. A Revolução Industrial do século XIX foi seguida no século XX pela Revolução Digital e a invenção do computador pessoal. No século XXI, assistiremos a uma Revolução Distribuída, assente numa nuvem de redes e plataformas de colaboração e troca de recursos, experiências e conhecimentos(1). É neste contexto de (r)evolução que a recolha de dados se torna interessante.

É preciso medir e registar os níveis de poluição e de consumos das nossas cidades, dos nossos edifícios e dos nossos meios de transporte. Necessitamos de medir o eco-sistema urbano que habitamos, registando os seus inputs e outputs. Para podermos proceder a essa análise, vamos precisar de ferramentas: sensores e softwares. Neste momento, existem já muitos sistemas que permitem medir os consumos elétricos e os consumos de água num dado edifício. O desafio está a ser colocado a empresas e indústrias. A competitividade das nossas indústrias e dos nossos comércios depende do aumento da produtividade e da eficiência. Depende da obtenção de fontes de energia limpas e mais baratas e depende da criação de valor acrescentado, só possível através do recurso a ferramentas de hardware e software. É importante também não esquecer instituições e equipamentos públicos mas, sobretudo, é vital contar com o apoio do agente mais importante de todos: o cidadão.

“Porquê associar o conceito de smart city a green city? Porque chegamos a um momento de inflexão na história da nossa civilização. É preciso reinventar a nossa sociedade e a nossa economia, mas, sobretudo, difundir uma plataforma para o crescimento comum”.

Mais do que smart cities precisamos de smart citizens. A força de uma cidade são os seus cidadãos e os seus comportamentos são os que definem a dinâmica e os consumos da cidade.

O Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha vende um kit chamado Smart Citizen, que pode ser comprado online e que comunica em rede com outros kits de outros cidadãos, mostrando numa plataforma online os históricos dos níveis de poluição da cidade onde estão instalados. É claro que este kit apenas mede o que foi desenhado para medir, neste caso níveis de poluição, ruído e temperaturas. O que realmente seria interessante desenvolvermos seria um kit, ou um conjunto de kits, que medisse os consumos elétricos, de água, de gás de cada edifício e os mostrasse online, em tempo real.

Poderíamos, então, analisar padrões de consumo e corrigir desequilíbrios. Poderíamos aumentar a eficiência dos nossos edifícios e meios de transporte, criando um sistema distribuído, interligado e transparente de partilha de dados.

É também importante medir a produção de resíduos e a sua separação por tipos. Surgirá a oportunidade de reciclagem e reutilização de matérias-primas de um modo quantificado e rigoroso e consequentemente o nascimento de novos negócios.

Porquê associar o conceito de smart city a green city? Porque chegamos a um momento de inflexão na história da nossa civilização. É preciso reinventar a nossa sociedade e a nossa economia, mas, sobretudo, difundir uma plataforma para o crescimento comum.

Acredito numa (R)evolução Verde. Numa economia verde. Em empreendedores verdes. A consequência de ignorar esta necessidade já é visível no degelo dos polos, no aquecimento global e no aumento dos níveis de poluição e das toneladas de resíduos que produzimos para levar o nosso estilo de vida atual. Acrescentando a isto a emergência legítima de outras nações e povos sabemos que em breve seremos nove biliões de pessoas neste planeta, todas com direito a uma existência digna.

Mas o futuro não tem de ser pessimista. Não tem de ser sobre crise, escassez ou falta de confiança e recursos. Pode ser sobre abundância e esperança. Basta lembrar Lavoisier, quando dizia “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. Reciclar, Reutilizar, Restaurar. Para alcançarmos estas metas precisamos de um despertar de mentes. De sentir a realidade que nos rodeia, de comunicar, partilhar, colaborar, criar (2).

Sem medo, com a noção de que não temos nada a perder e que, em vez de lutar contra a mudança, podemos fazer parte dela. Quem sabe até mesmo liderá-la no que melhor sabemos fazer: resolver problemas e explorar novos mundos.

Pode ser que a luz ao fundo do túnel, afinal, seja verde. Convido o leitor a ficar atento a www.guimaraesverde.com para novidades e ideias sobre smart citiessmart citizens e sustentabilidade.

(1) Jeremy Rifkin (2011), The Third Industrial Revolution, Palgrave Macmillan

(2)  Philip Auerswald (2012), The Coming Prosperity