De 28 de Maio a 27 de Novembro, Veneza é palco de mais uma Bienal. Mário Caeiro, investigador e docente na ESAD.cr, esteve na 15ª Exposição Internacional de Arquitectura e, nos próximos meses, levar-nos-á numa visita guiada exclusiva por esta mostra.

‘The Forests of Venice’ é um evento colateral sueco que promove a madeira como matéria por excelência para um Projecto Urbano de dimensões inauditas. Suas palavras chave são urbanidadearquitecturaflorestamadeira e clima. Se Veneza, em si, é uma utopia construída sobre 10 000 000 de árvores, o projecto assume o posicionamento de uma inovação top-down, proposta por empresas que buscam um novo paradigma, coerente e insistentemente, reconheça-se. Digamos que é uma exposição (incluindo um pequeno pavilhão) surpreendente na medida em que ‘usa’ Veneza – ameaçada pela subida das águas, para além de fenómenos de ordem política e geo-estratégica – para repensar, numa espécie de conundrum entre o possível e o impossível, a urbe do futuro.

Enquanto crítica do cimento e lançamento de novos modos de construção, baseando-se em elementos da identidade veneziana – pórtico, loggia, ornamento, hall, fundação, interface urbano e caminhos –, ‘The Forests of Venice’ é provocatório, na medida em que põe a hipótese de transfigurar a Cidade da Água numa Cidade das Árvores. A abordagem é mais consistentemente especulativa do que, por exemplo, a do Pavilhão Americano (sobre novas arquitecturas para Detroit), mas o que diria Brodsky, o autor de Marca de Água, desta Nova Veneza? A indústria parece procurar formas ínvias de contornar o desafio da cidadania.

Numa Bienal que não é assim tão explicitamente sobre a questão do ambiente (até porque esta é transversal ao humano e ao social), o empreendedorismo sueco fica, por isso, atrás de um mais honesto Pavilhão do Montenegro, na sua abordagem directa das problemáticas ecológicas. Montenegro apresenta no seu micro-pavilhão quatro visões para as antigas salinas de Bajo Sekulic (próximas da cidade de Ulcinij), um biótopo completamente feito pelo Homem e nó, à escala do Globo, das rotas de migração de inúmeras espécies de aves. Entre as ideias apresentadas para a recuperação de uma das paisagens pós-industriais maiores e mais impressionantes do mundo, uma salta à vista. Os arquitectos paisagistas holandeses Lola foram capazes de reconhecer na monumental cicatriz territorial as condições para erguer um santuário natural de dimensões excepcionais (visando revitalização pelo turismo). Está visto, na ‘frente’, que Montenegro se destaca, todo o tipo de conflitos se amalgamam produtivamente: natureza/cultura, local/global, economia/consciência ambiental.

 

 Fotos: ©Agata Wiorko