Em tempos de crise de saúde pública à escala planetária como aquela que estamos a viver atualmente, ter um sistema produtivo com um elevado grau de automação é ter uma maior probabilidade de manter as operações, sem grandes riscos de contágio, conseguindo implementar de forma mais eficaz as medidas de distanciamento social necessárias para a proteção da força de trabalho.

Um sistema produtivo automatizado ou uma fábrica inteligente permite gerir de forma mais eficiente as ausências dos colaboradores, quer por doença, quer devido a quarentena, garantindo ao mesmo tempo a flexibilidade necessária para uma rápida adaptação às variações bruscas da procura ou, se for caso disso, passar a produzir novos produtos. Neste contexto atípico em que vivemos, uma fábrica inteligente é necessariamente uma fábrica mais resiliente.

Como se constrói uma fábrica inteligente?

O processo de transição para uma fábrica inteligente não é algo que acontece da noite para o dia. Antes de mais, é fundamental traçar uma estratégia abrangente, que envolva toda a organização, e na qual a gestão de topo desempenha um papel decisivo.

Para além do envolvimento de todos, e em particular da gestão de topo, a estratégia de transição para uma fábrica inteligente deve assentar em três pilares estruturais: Produto, Processo e Modelo de Negócio.

No que respeita ao produto, o objetivo é desenvolver produtos inteligentes, como é o caso, por exemplo, da incorporação da eletrónica e componentes digitais nos automóveis ou nos têxteis inteligentes. Através da tecnologia, é possível oferecer ao mercado produtos de maior valor acrescentado.

Ao nível do processo, essa transição acontece pondo os produtos a “comunicar” com as máquinas e estas a comunicarem umas com as outras através da automatização e robotização, promovendo a interconexão digital de toda a cadeia de abastecimento. É importante reforçar que a transformação digital aplicada aos processos implica a incorporação de tecnologias de informação, de forma a tornar esses processos mais flexíveis e eficientes.

Por fim, na vertente do modelo de negócio, essa passagem para uma fábrica inteligente acontece alterando a forma como se põe à disposição do cliente o produto, complementando a oferta com serviços de maior valor acrescentado.

Esta transição acarreta vários desafios para as organizações, tais como:

  • Uso de métodos colaborativos como forma de potenciar a inovação;
  • Combinar flexibilidade e eficiência nos métodos produtivos;
  • Gerir séries cada vez mais pequenas com tempos de resposta mais curtos (o que implica maior esforço logístico e de coordenação);
  • Adotar modelos logísticos mais eficientes e avançados;
  • Efetuar a gestão (rastreabilidade) dos produtos ao longo de toda a cadeia de valor;
  • Oferecer cada vez mais produtos personalizados, o que implica gerir um crescente número de referências;
  • Adotar uma estratégia multicanal para se relacionar comos os diferentes intervenientes – fornecedores, parceiros, distribuidores e clientes;
  • Aproveitar a informação para antecipar as necessidades dos clientes através do recurso a ferramentas analíticas avançadas.

Já vimos que os desafios da transição para um modelo produtivo inteligente ou fábrica inteligente são grandes, mas os resultados compensam. Os benefícios da automação são evidentes e destacam-se ainda mais neste período crítico de saúde pública que estamos a atravessar:

  • Eficiência: operações mais rápidas, decisões mais céleres, pessoas dedicadas a atividades de maior valor acrescentado e menos custo;
  • Agilidade: tempo de resposta – Leadtime – reduzido, maior diversidade de produtos, maior capacidade de resposta/reação;
  • Inovação: mais rapidez na disponibilização de novos produtos, prototipagem mais célere, maior visibilidade da inovação e aumento da partilha com os clientes;
  • Costumer Experience: maior transparência e visibilidade dos processos (Fornecimento/Assistência), mais disponibilidade, respostas mais rápidas, serviços de maior valor acrescentado;
  • Custos: menor desperdício de materiais, mais qualidade e menores custos de Operação;
  • Proveitos: mais mercado, maior valor acrescentado (Produtos e Serviços) e fidelização do cliente aumentada.

O futuro passa pela fábrica inteligente

Longe de ser um “estado final”, a fábrica inteligente é uma solução em evolução que se materializa em várias vertentes, como agilidade, conexão e transparência.

E não tenhamos dúvidas de que as empresas mais bem preparadas para sobreviver e prosperar no futuro são aquelas que já iniciaram este caminho, dando passos consistentes, um atrás do outro, rumo à fábrica inteligente. Esta é naturalmente uma estrutura mais preparada para reagir rapidamente às adversidades e adaptar-se facilmente a novas realidades.

A incerteza dos tempos que atravessamos exige de cada gestor industrial a capacidade de pensar além do imediato. É importante que a conectividade comece a fazer parte dos planos a muito curto prazo, pois só assim estarão reunidas as condições para garantir a resiliência e superação dos obstáculos que enfrentamos.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.