70% das emissões nacionais de gases com efeito estufa são provenientes do setor energético, dentro do qual estão incluídos os transportes. A descarbonização da economia passa inevitavelmente por conseguir que estes setores deixem de ser reféns dos combustíveis fósseis e transitem para a energia limpa, assente nos combustíveis alternativos, nas energias renováveis e na eficiência energética.

As energias renováveis, precisamente, já garantem uma boa parte da eletricidade produzida em Portugal, tendo a sua produção excedido pela primeira vez, em Março passado, a eletricidade consumida no país. Se o investimento continuar a seguir as pegadas do potencial existente, poderemos, dentro de algumas décadas, alimentar os nossos automóveis e edifícios exclusivamente com eletricidade limpa, sem uma fatura ambiental catastrófica.

“Criar edifícios mais eficientes, inteligentes e neutros em carbono é o caminho certo para que as famílias portuguesas deixem de gastar centenas de euros por mês em climatização para garantir o seu conforto térmico”.

Para que essa transição seja possível, há que tornar viável e mais acessível a renovação tanto do parque automóvel como do parque edificado atuais, e ambas estão mais próximas do que se pensa.

No caso dos veículos elétricos, as vendas duplicaram em 2017, fruto não só dos vários incentivos criados pelo Governo, mas também do alargamento da rede nacional de postos de carregamento públicos. No entanto, para um veículo elétrico ser verdadeiramente atrativo e cumprir em pleno o potencial de poupança em combustível (estima-se que permita economizar até 75% comparando com um equivalente a gasóleo), é preciso pensar também nos postos de carregamento privados.

Isso conduz-nos aos nossos edifícios, onde passamos grande parte do tempo, sendo eles residenciais ou não. Na sua maioria, o parque edificado nacional não só é energeticamente ineficiente, como não está preparado para permitir o carregamento de veículos elétricos. Este é um aspeto importante, não só na perspetiva da autonomia e da poupança de tempo (possibilidade de carregar o carro durante o horário laboral, por exemplo), mas também na amortização do investimento. Recarregar a bateria do carro na habitação ou garagem particular durante a noite permite tirar partido da tarifa bi-horária, sendo claramente vantajoso pelo custo mais reduzido do quilowatt-hora, além de permitir ter o veículo operacional na manhã seguinte.

Por isso, é importante que os postos de carregamento de veículos elétricos passem a ser vistos como (mais) uma componente orgânica do próprio edifício pensada de raiz.
Esta é, justamente, uma das medidas aprovadas pelo Parlamento Europeu na recente revisão da Diretiva relativa ao Desempenho Energético dos Edifícios. Segundo a mesma, os Estados-Membros deverão criar estratégias nacionais de renovação dos edifícios a longo prazo que prevejam incentivos para 1) criar um parque edificado com elevada eficiência energética, 2) apoiar grandes obras de renovação de edifícios existentes para praticamente anular as suas necessidades energéticas e 3) prever, para determinados edifícios, a instalação obrigatória de pontos de carregamento de veículos elétricos.

Dois terços dos imóveis europeus são pouco eficientes em termos energéticos. Em Portugal, a estatística ainda é mais desfavorável, visto que apenas 10% dos edifícios apresentam isolamento térmico adequado nas paredes e 75% estão equipados apenas com janelas de vidro simples.

Criar edifícios mais eficientes, inteligentes e neutros em carbono é o caminho certo para que as famílias portuguesas deixem de gastar centenas de euros por mês em climatização para garantir o seu conforto térmico. Uma ajuda será o recentemente anunciado Programa ‘Casa Eficiente 2020’, que disponibiliza 200 milhões de euros de incentivo para melhorar o desempenho ambiental de edifícios de habitação particular, através de obras que promovam a eficiência energética ou as energias renováveis.