Hoje, todas as cidades tem forçosamente de competir entre si (ou serem complementares), sobretudo, aquelas que se situem em áreas de influência direta ou partilhada, no sentido da sua sobrevivência, e enquanto aglomerados que pretendam caminhar face a um desenvolvimento sustentado, responsável, adequado à sua realidade, gerador de atratividade e potenciador de qualidade de vida. Foi dentro desta consciência que, em 2010, a cidade de Vizela, face ao seu enquadramento geográfico, histórico e à necessidade de definição de uma estratégia de desenvolvimento e de atratividade, decide candidatar-se à Rede Mundial Cittaslow ou “Città del Buon Vivere”.
Este movimento, nascido em Itália nos finais dos anos 90 no seio de quatro pequenas cidades, refuta o desenvolvimento desenfreado e padronizado, instigando, pelo contrário, o crescimento integrado e inspirado nos valores reais e intrínsecos dos territórios e das comunidades que o habitam, elogiando ao mesmo tempo o “tempo justo” em cada ação, em cada gesto, em detrimento do fast-living. Só assim, cada comunidade poderá aspirar a uma evolução no sentido da sua identidade e da defesa dos valores que a integram, potenciando a sua excelência.
Vizela procurou uma visão de futuro para o seu pequeno território, ancorando o seu desenvolvimento na dinamização do potencial endógeno e que é diferente do de outras cidades, fruto da sua resenha histórica, da sua inserção natural e da evolução que a humanização foi tecendo sobre a paisagem.
Quando a classificação é obtida em Julho de 2011, após avaliação, há um rumo claramente assumido, uma política de enquadramento e desenvolvimento para uma cidade de pouco mais de dez mil habitantes. Um rumo que obrigou a uma profunda tomada de consciência do concelho e da própria urbe; da definição dos seus objetivos possíveis e das sua metas desejadas.
Pretendia-se, assim, em detrimento de projetos avulsos e promotores de orientações várias e tantas vezes desconcertadas, enquadrar uma visão que se adequasse às características intrínsecas do território onde Vizela se insere; ancorada na necessidade de (re)construir novamente uma cidade autêntica nos seus valores explorados, competitiva e que, no fim de tudo, possa proporcionar uma melhor qualidade de vida aos seus cidadãos. Uma visão sobre todos os quadrantes, desde os naturais aos humanos, e que a pretende dotar de ferramentas que a tornem única, assumida perante o desígnio de urbe identitária, fiel a um caminho delineado na senda da construção/constituição de lugar composto por elementos assumidos com inteira veracidade e justiça nas raízes da sua história, nos seus fundamentos, nos seus usos e costumes, nas suas gentes. Quando Vizela se integrou como membro das Cittaslow (cujo logo é um caracol), um novo paradigma se abriu para o território.
Não era só uma classificação que se obtinha fruto de um enquadramento adequado em escala e índice demográfico da cidade aos fundamentos do movimento internacional. Era a defesa e promoção, como elemento aglutinador de cultura e bem-estar, da “identidade” das gentes de Vizela, pela qual sempre se assumiu a proposta de candidatura. Apesar de muitas vezes nos podermos prender a um certo culto de “imagens importadas” de desenvolvimento ou de receitas de expansão desenfreada, esta não foi a aposta do Executivo a partir de 2011. Há, portanto, um momento claramente marcado nesta data, em que se assume, com humildade e o rigor possível nas contingências circunstanciais, um rumo, uma “política” de enquadramento e desenvolvimento para a cidade e para o concelho.
A isto obrigou-se uma atenta análise de todo o território, tomando o peso às coisas, vendo qual o teor da sua seiva natural, olhando e medindo as suas potencialidades, e projetando possibilidades sustentáveis numa cidade que se tenta, novamente, afirmar. Numa exposição feita pela CM Vizela à comunicação social essa mesma posição é assumida de forma clara: “A cidade de Vizela, a partir do momento da sua classificação como Cittaslow, assumiu um novo papel, enquanto município dinamizador e impulsionador de projetos de cariz de salvaguarda de identidades culturais, patrimoniais, ambientais e etnográficas. Nestes moldes, o turismo, sobretudo o termal e todo aquele ligado ao mundo rural, desenvolve aqui um papel importante na atração de visitantes, promovendo iniciativas e criando infraestruturas. A consciência desta leitura territorial, tendo em conta as potencialidades do meio existente, assim como o recurso a um modelo de desenvolvimento que se pretende sustentável, permite a criação de projetos e sinergias que assegurem o crescimento destas mais-valias, criando infraestruturas, fixando população e atraindo investimento. Só assim, entendemos nós, face às condições tão difíceis quanto aquelas que assolam a Europa em geral e Portugal em particular, pode um município como este exercer alguma atuação nos desígnios do seu futuro, que, de outra forma, se afigurariam tão mais problemáticos como difíceis. Importa portanto olhar para dentro, para o âmago do nosso território circunscrito, e nele, para o primeiro plano da sua epiderme – a terra – e sentir o carácter inegável da sua qualidade, enquanto produtora agrícola e modeladora de paisagem cénica, para entendermos que será uma imprudência que nos afetará a todos, se a consciência de um património natural e humano de tantos séculos não for tida em conta…”.
Assim, promoveu-se um olhar mais atento à cidade e ao território enquanto tal. Um olhar para além do óbvio, numa dinâmica que teria forçosamente de integrar uma certa multidisciplinaridade, onde vários atores deverão estar incluídos, iniciando-se na autarquia e indo até às associações, escolas, empresas e pessoas. A recuperação do espírito dos lugares, numa visão sustentada e tripartida, entre o social, o cultural e o económico, sem nunca colocar de lado o que de melhor a tecnologia coloca à nossa disposição, é o lema que se abriga por baixo do chapéu classificativo Cittaslow.
O século XXI será, indubitavelmente, o século das cidades, onde a grande maioria da população mundial se tenderá a fixar, procurando novas condições e novos modos de vida. Desta forma, as cidades, sobretudo aquelas que ainda não se amarraram a um paradigma de evolução, terão de demonstrar o seu potencial, no sentido de erguerem um fundamento essencial na demonstração que cada uma faz sobre si, a sua atratividade. Cada território, cada cidade, cada lugar será sempre detentor, face à sua localização, história e identidade, de potenciais de relevância diferenciados que, estimulados sustentavelmente, funcionarão como atração de pessoas e de talentos e, por consequência, serão geradores de valor.