No final de Junho, o município de Vila Nova de Famalicão apresentou publicamente o projecto B-Smart Famalicão, uma plataforma de inteligência urbana que agrega ferramentas para a gestão da cidade. Numa jornada que arrancou em 2019, a visão famalicense para a inteligência urbana está de olhos no futuro, mas com os alicerces assentes na optimização do que existe já no território. A poucos meses de deixar a presidência da câmara municipal de Famalicão, à qual não se vai recandidatar, Paulo Cunha descreve a estratégia smart como uma iniciativa “adaptada à realidade e centrada nas necessidades das pessoas”, mas que ajuda também a “prestar contas” aos cidadãos.
Desde 2019 que assumiram a intenção de tornar Famalicão uma cidade inteligente. Como descreve o posicionamento do município nesta matéria ao longo deste tempo?
A implementação de um processo de cidade inteligente comporta uma mudança de paradigma. Comporta uma nova forma de envolvimento da comunidade. Estes processos de mudança requerem de nós uma análise cuidada e uma construção participativa. Não podemos, nem devemos, ir em modas. Procuramos, desde o início, construir um projecto que se adaptasse à nossa realidade e centrado, não só nas tecnologias, mas nas necessidades das pessoas, percebendo como é que a transformação digital nos podia ajudar a melhorar a qualidade de vida dos nossos concidadãos.
A integração das várias áreas municipais é uma das características da vossa estratégia. Por que é importante que assim seja?
Para podermos envolver a comunidade, decidimos que, primeiro, tínhamos de envolver todos os actores dentro da câmara municipal. Só desta forma conseguiriamos chegar ao cidadão. Daí que tenhamos decidido que este processo, logo no arranque, tinha de envolver diversas áreas de actuação municipal e não só uma. Como agora se diz, tinha de actuar em diversos verticais e não apostar apenas num desses verticais. Para nós era, e é, muito importante a integração permanente das diversas dimensões da gestão autárquica e pensamos que este conceito de cidade inteligente nos poderá ajudar fazer essa integração.
Quais foram os principais desafios que enfrentaram até ao recente lançamento da plataforma?
Desde o início [deste processo] que procuramos ver o que se faz pelo mundo a este nível, mas sem deixar de olhar para a nossa realidade. Não podíamos correr o risco, como muitas vezes acontece, de escolher soluções tecnológicas – mas não só – que não são apropriadas ao nosso município. O principal desafio foi sempre perceber o que já temos. A cidade e o concelho não nasceram hoje. Já cá existem há muito tempo. Já fazemos bem – eu diria, muito bem – muitas actividades municipais. O desafio foi olhar para o fazemos e perceber como podemos inovar, como podemos potenciar e como podemos melhorar o que já fazemos para, de seguida, acrescentarmos novas valências que possam ajudar o cidadão a viver melhor.
“Enquanto eleitos, não podemos deixar de prestar contas aos eleitores, aos cidadãos. A implementação da plataforma de inteligência urbana do município é mais um passo – neste caso, significativo – na transparência. Procuraremos disponibilizar informação útil, mas também atempada, sobre a nossa realidade.”
Neste processo, a pandemia serviu mais como uma barreira ou como uma oportunidade para acelerar o processo de transição digital?
Num primeiro impacto, a pandemia foi uma enorme barreira para todos nós. O desafio de olhar para o desconhecido cria sempre em cada um de nós uma apreensão. Todos tivemos de olhar para esta nova realidade, muitas vezes, desconhecida e contraditória, e perceber como podíamos responder às necessidades imediatas dos nossos concidadãos. Uma das áreas em que felizmente conseguimos dar passos significativos foi precisamente na transição digital. Os serviços municipais foram desafiados a desafiaram-se no sentido de podermos proporcionar aos cidadãos a melhor resposta possível. E ela foi conseguida. Hoje, temos serviços municipais onde todos os processos são tramitados digitalmente, sem necessidade de haver papel. O mais importante foi a transição na relação com o cidadão, mas aqui temos de ter muito cuidado: a transição digital não pode deixar ninguém para trás, nem pode criar novos excluídos, aqueles que não têm apetências digitais. Temos de estar muito atentos a esses para termos um concelho verdadeiramente inclusivo.
Transparência e participação cívica são apontados como dois dos grandes eixos deste projecto. Em que medida esta plataforma servirá esses propósitos?
Trabalhar e disponibilizar os dados que o município e o território produzem, mas também aqueles que conseguimos transformar em informação, consistem num passo significativo para incrementar a transparência. Enquanto eleitos, não podemos deixar de prestar contas aos eleitores, aos cidadãos. A implementação da plataforma de inteligência urbana do município é mais um passo – neste caso, significativo – na transparência. Procuraremos disponibilizar informação útil, mas também atempada, sobre a nossa realidade. Sobre os caminhos que estamos a percorrer. Este caminho só é verdadeiramente profícuo se integrar a participação dos cidadão. Com a nossa plataforma B-Smart, estou em crer que essa participação será cada vez maior. As pessoas, paulatinamente, serão chamadas a participar cada vez mais, porque disponibilizaremos novas ferramentas de participação. A plataforma que agora estamos a lançar será um dos pontos de encontro dos cidadãos, mas será só um. Haverá muitos mais.
Considera que as iniciativas que têm sido desenvolvidas neste âmbito colocam o município mais preparado para os desafios do futuro?
Com certeza que sim. A capacidade que teremos de conhecer melhor o território ajudar-nos-á a desenvolver melhores políticas municipais. Ajudar-nos-á a responder melhor às necessidades do território, mas, acima de tudo, estou convencido de que nos ajudará a estabelecer um contacto mais estreito com o cidadão. Sabermos permanentemente o que pensa o cidadão e podermos responder aos seus anseios são os grandes desafios e, nesse aspecto, penso que, com iniciativas como esta, estaremos mais bem preparados para dar resposta aos novos desafios.
Já avançou que não vai recandidatar-se à presidência do município. Como é que o projecto B-Smart Famalicão se insere naquilo que tem sido a sua visão para este território?
No início do meu primeiro mandato, elegi como fim último da minha acção a melhoria da qualidade de vida dos famalicenses. Queria que esse fosse sempre o farol que iria orientar a governação municipal. Era com esse fim que as actividades, os projectos, os programas ou as acções deviam ser desenhadas e implementadas no terreno. Ora, o projecto B-Smart Famalicão está , sem dúvida, orientado para a promoção da qualidade de vida dos cidadãos. Com a implementação da nossa cidade inteligente, iremos criar condições para que a qualidade de vida em Famalicão seja monitorizada e para que possam ser implementadas políticas que ajudem a incrementar essa qualidade de vida. O projecto B-Smart Famalicão tem como assinatura a criação de uma cidade inteligente e sustentável. Ora, não podia contribuir melhor para a visão que tenho do território.